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Artes

Prédios que poderiam transformar a relação de Campo Grande com a cultura

Ângela Kempfer | 01/03/2013 07:48
Antiga oficina de trens, abandonada. (Fotos: Luciano Muta)
Antiga oficina de trens, abandonada. (Fotos: Luciano Muta)

Em viagens pelo Brasil, são tantos os espaços culturais vivos, cheios de gente, funcionando em enormes prédios históricos, que é inevitável a vontade de ter em Campo Grande algo parecido. Decepcionante é saber que muito se fala, pouco se avança.

Pior é ver de perto, entrar, explorar um patrimônio arquitetônico divino, ali, disponível, que poderia muito bem ganhar essa função, mas está, é claro, se esfarelando com o passar dos anos.

Na rua dos fundos da Feira Central, ao lado da saída do estacionamento, existe uma pequena entrada. A curiosidade leva a percorrer o caminho - meio calçada, meio chão batido, meio grama. É possível entrar sem qualquer impedimento, até com o carro, e chegar até alguns dos prédios mais importantes da construção desta cidade, todos tombados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) mas sem nenhuma proteção.

A área faz parte do complexo da Rede Ferroviária, onde além de 3 casas, ficam dois galpões enormes, antes usados como oficinas dos trens que passavam pela cidade. É triste pelo aspecto de abandono, mas lindo pela arquitetura de detalhes, da época quando tudo era desenhado com personalidade. Hoje, a maioria das pessoas só vê em fragmentos, ao dirigir pela rua 14 de Julho.

“Quem mora aqui e vê a depredação todos os dias acaba não sentindo tanto. Mas tem gente mais velha, do tempo da Noroeste, que chora quando vê tudo assim, largado”, comenta Dudu, maquinista aposentado que desde 1968 vive na mesma casa na Vila dos Ferroviários.

O pai era ferroviário, o tio também e hoje ele conversa tranquilo na varanda construída no trecho por onde passavam os trilhos. "Ouvi falar que já tem dinheiro para recuperar, do PAC 2. Seria perfeito como ponto de cultura", comenta o homem que faz parte também da história cultural da cidade. É um dos fundadores da escola de samba Igrejinha e criador da Associação de Blocos e Cordões do Carnaval de Campo Grande.

Realmente há verbas da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento previstas para a transformação do terreno sujo e da estrutura do passado em um grande espaço de cultura. Um dos detalhes previstos, inclusive, é a recolocação de parte dos trilhos.

Mas a arquitetura dos dois galpões terá o custo mais alto. O prédio da rotunda, local onde era feito o giro das locomotivas e dos vagões que entravam para recuperação na oficina, tem uma cobertura arredondada surpreendente, com as telhas preservadas. Parte das janelas ainda está ali, mas sem vidros. Em alguns pontos a estrutura ruiu, há pichações, mas o prédio continua soberano na paisagem.

Depois da recuperação, sem previsão alguma para o início, o maior desafio será colocar o local para funcionar. Uma possibilidade, é a parceria com alguma empresa que queira dar um destino de interesse público ao espaço.
Mas sabe-se lá por quanto tempo, só resta a inspiração a partir de pontos culturais fortes hoje no Brasil, mas que também começaram ocupando o abandono.

Em Porto Alegre, a antiga Usina do Gasômetro, às margens do rio Guaíba, hoje é centro cultural. (Foto: Divulgação)
Em Porto Alegre, a antiga Usina do Gasômetro, às margens do rio Guaíba, hoje é centro cultural. (Foto: Divulgação)

Usina do Gasômetro - Em Porto Alegre, a antiga Usina do Gasômetro, às margens do rio Guaíba, hoje é centro cultural. Levantada em 1928 pela Companhia de Energia Elétrica Riograndense, durante quase 50 anos abasteceu Porto Alegre. Veio a crise e a empresa fechou.

Quando a depredação colocou em risco a memória, os artistas gaúchos cobraram providências e em 82 a Eletrobrás transferiu o uso do terreno para o município. O prédio foi e recuperado. Desde 89, a velha Usina é aberta à cultura, virou um dos principais pontos turísticos de Porto Alegre.

É administrada pela Secretaria Municipal de Cultura e abriga 10 companhias de arte e outras 30 usam o espaço para espetáculos, exposições e feiras.

Estação Docas - Belém do Pará tem desde o ano 2000 a Estação das Docas, complexo turístico e cultural com gastronomia, cultura, moda e eventos nos 500 metros de orla fluvial do antigo porto de Belém. São 32 mil metros quadrados divididos em três armazéns e um terminal de passageiros.

A beleza que encanta ago9ra, só existe porque houve a restauração dos galpões de ferro inglês, exemplo da arquitetura característica da segunda metade do século XIX.

As ruínas do Forte de São Pedro Nolasco, que estavam em condições semelhantes as dos galpões da ferrovia em Campo Grande, hoje são um anfiteatro. E assim, a cidade se enche de peças, exposições, música e dança todos os dias.

Estação Docas, em Belém do Pará. (Foto: Divulgação)
Estação Docas, em Belém do Pará. (Foto: Divulgação)
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