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Comportamento

Contratado para passar 8h no computador, jogador de poker fatura 1.4 mil ao dia

Adriano Fernandes | 16/02/2016 06:23
Aos 23 anos Diogo ganha a vida apostando em jogos de poquer pela internet. ( Foto: Alan Nantes)
Aos 23 anos Diogo ganha a vida apostando em jogos de poquer pela internet. ( Foto: Alan Nantes)

Do jogo que um dia foi só hobbie de adolescente, Diogo Fernandes Watanabe, de 23 anos, descobriu que poderia fazer profissão. Sem sair de casa e na frente do computador, o rapaz se tornou jogador profissional de poquer e com faturamento de até R$ 1,4 mil por dia, apesar de boa parte do dinheiro não ficar com ele. O ofício é como qualquer outro, tem horário a ser cumprido e rateio dos lucros.

O primeiro contato com as cartas foi aos 17 anos e entre amigos. “Gostei desde o principio, achei divertido. Mas conforme aumentava o meu interesse, eu quis pesquisar mais sobre a modalidade e notei que havia toda uma história por trás do jogo”, comenta.

Mesmo de forma despretensiosa, Diogo conta que as primeiras pesquisas foram para dominar as partidas com os colegas. “Descobri que havia livros que explicavam sobre as técnicas do poquer, assisti vídeos de jogadores profissionais até encontrar as competições online”, ele diz.

O jovem largou a faculdade de Engenharia Civil para se dedicar a profissão.(Foto: Alan Nantes)
O jovem largou a faculdade de Engenharia Civil para se dedicar a profissão.(Foto: Alan Nantes)

O rapaz explica que no “Texas Hold'em", como é chamada a modalidade dele, a forma de jogar é quase a mesma das disputas convencionais, mas com algumas desvantagens. “Enquanto em um jogo físico você observa o comportamento do adversário, no online, o máximo que você pode avaliar sobre o oponente antes da jogada é o tempo que ele demora para apostar uma ficha”, comenta.

Os sites aceitam apostas em dinheiro ou em moeda virtual. O andamento das partidas ele compara ao do xadrez e por mais que seja associado aos jogos de azar, ele defende que o poquer depende de muita técnica e bem pouco da sorte. “É um jogo que está muito atrelado ao raciocínio e à matemática de cada partida. Em longo prazo, a técnica supera o azar”, observa. Por isso, o jogo com nesse caso não é considerado ilegal.

Profissional - Há pouco mais de um ano, ele fez a primeira inscrição em um grupo de seleção de jogadores profissionais. “Fui um dos cinco selecionados dentre aproximadamente 200 inscritos na seleção do LeoBelloTeam, que é um dos maiores times de poquer online do País”, comemora.

Todo o processo de contratação é online e dá ao competidor até mesmo o direito ao acompanhamento psicológico, via Skype, sempre que achar necessário. “Em períodos onde, por exemplo, o jogador passa por algum problema pessoal que possa comprometer o desempenho no jogo, ele marca online uma consulta com o psicólogo”, relata.

Ao contrário do que possa parecer, Diogo explica que a logística de trabalho é semelhante a de um emprego formal. Envolve muito estudo, tempo e até cuidados com a alimentação. “Pelo meu contrato eu tenho que trabalhar ao menos 5 dias por semana, por pelo menos 8h seguidas por dia”, detalha.

Diogo chega dedicar mais de oito horas na frente do computador.(Foto: Alan Nantes)
Diogo chega dedicar mais de oito horas na frente do computador.(Foto: Alan Nantes)

Para conseguir se dedicar às maratonas de até 10h de apostas, ele abandonou a faculdade de Engenharia Civil no ano passado.

Competições - As partidas são transmitidas pelo PokerStars, maior plataforma de competições de poquer do mundo e funciona da seguinte forma: cada mesa de jogo virtual comporta entre 6 e 9 participantes que apostam entre si. Para um jogador entrar em um torneio de poquer, ele paga uma espécie de passe que chega a custar até 11 dólares.

Os passes dão direito a uma quantidade de fichas para aposta. “Eu participo de até 8 torneios de poquer por dia", conta. Os valores das apostas são de acordo com o andamento do jogo. Quem disponibiliza o dinheiro para os torneios é a empresa Na qual Diogo é contratado. Não existe meta de valores ou para a quantidade de partidas vencidas, apenas para o número de torneios.

“Eu tenho que participar de pelo menos 400 torneios por mês e o dinheiro que eu arrecado nas partidas é dividido entre mim e o time que eu represento”, explica.

PokerStars é a maior plataforma de jogos de pôquer do mundo.(Foto: Alan Nantes)
PokerStars é a maior plataforma de jogos de pôquer do mundo.(Foto: Alan Nantes)

Ele não fala exatamente quanto ganha. Dos R$ 1,4 mil que fatura, pode ficar com percentual entre 20% e 40%, depende da coragem na hora de fazer a aposta. O valor faturado por um só jogador pode passar dos R$ 15 mil ou a faixa dos milhões, garante Diogo, de acordo com o nível de experiência do competidor. Ao final de cada dia, ele preenche um relatório especificando todas as partidas em que participou, os valores apostados e até quem foram os concorrentes.

De ídolos, Diogo conta que se espelha no competidor André Akkari, um dos maiores vencedores de poquer do País. Mas até o jogador Cristiano Ronaldo e Neymar são garotos propaganda do PokerStars.

Ele sente que a profissão de jogador profissional ainda gera estranhamento entre os mais conservadores. “Por ser uma profissão ainda muito nova e pouco conhecida, as pessoas ainda têm certo estranhamento. Minha família e até os amigos tiveram certa resistência devido a má visão que eles têm do poquer, mas com o tempo, todos acabaram entendendo”, diz.

O pior, na opinião dele, é a desinformação. “O poquer ainda tem a imagem atrelada aos cassinos e jogos de azar quando na verdade, queremos passar a imagem de que é um esporte pautado apenas pela matemática e interpretação do oponente”, conclui.

O que diz a lei – De acordo com o advogado criminalista Ricardo Trad a prática é legal. “Não configura crime, porque o poquer não é considerado um jogo de azar”, explica. O entendimento é que esse tipo de modalidade não depende exclusivamente da sorte exige habilidade matemática, mental e de raciocínio.

O juiz da 1ª vara criminal de Campo Grande reforça: "É uma materia ainda polêmica, mas tem prevalecido o entendimento de que não seria propriamente jogo de azar, ou seja, não é criminalizavel."

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