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Diversão

Com mil edições, Sarau do Zé Geral é pura resistência e história

Evento cultural já passou por 14 endereços e ficou conhecido por ser reduto dos artistas

Aletheya Alves | 01/09/2023 07:28
Grupo de artistas e músicos se reuniram para milésima edição do sarau. (Foto: Juliano Almeida)
Grupo de artistas e músicos se reuniram para milésima edição do sarau. (Foto: Juliano Almeida)

“Em mil edições, o sarau nunca aconteceu de forma fácil”, resume Zé Geral sobre a noite comemorativa que estava sendo esperada há semanas. Lidando com chuva, queda de energia elétrica, lâmpadas queimadas e imprevistos com o som, o artista se transformou até em eletricista para garantir que a noite desta quinta-feira (31) entrasse para a história do evento cultural que leva seu nome.

Marcado para iniciar às 17h, o Sarau do Zé Geral ganhou novas histórias para quando o artista precisar contar as narrativas sobre tantas edições. “Não era para chover, mas no fim das contas meu computador queimou, as luzes não acendiam e, como sempre, tive que fazer de tudo para funcionar. E deu certo”.

Sem saber se o público em geral seguiria para sua casa, na Rua Pasteur, Zé tinha uma certeza: os músicos apareceriam e isso bastava. “Tudo começou com eles. A gente se reunia na minha casa para fazer música e essa amizade é o que manteve o sarau. Não me importo com quantidade de pessoas, com dinheiro, o importante é ter esse espaço para a arte”.

Conforme a noite foi passando, os amigos de longa data foram se somando e, claro, ajudando Zé nos ajustes da comemoração. Entre os nomes presentes, que o anfitrião fez questão de apresentar, estavam Vandir Barreto, Cleir Junior, Pedro Despacito Gonzales, Tangará, Toniquinho da Viola, Canela, Edson Gallvão e Paulo de Oliveira.

Casa do Zé Geral continua servindo como espaço para o sarau semanal. (Foto: Juliano Almeida)
Casa do Zé Geral continua servindo como espaço para o sarau semanal. (Foto: Juliano Almeida)

Tendo iniciado em 1997, a primeira edição oficial do sarau ocorreu no dia 29 de janeiro daquele ano. Mas, antes disso, Zé conta que o movimento de músicos em sua casa já havia começado em meados de 1995.

Ao todo, o sarau já passou por 14 endereços, sendo que tradicionalmente o dia oficial do evento era a quarta-feira. “Quando eu comecei e chamava as pessoas para participarem do sarau, as pessoas estranhavam o nome porque naquela época ninguém usava. A coisa começou a fazer tanto sucesso que outras pessoas também foram criando seu próprio sarau e também enchia de gente”.

Sobre a quantidade de locais que sediaram o sarau, o músico explica que os motivos para tantas mudanças são variados. Desde vizinhos incomodados com o som até divergências na organização, tudo impactou.

Hoje, o evento é realizado na Vila Piratininga, no quintal da casa de Zé, normalmente aos sábados. Morando ali desde  2010, o artista conta que recebeu apoio da família e de amigos para colorir as paredes e, usando das próprias habilidades manuais, construiu até um palco com cobertura para as apresentações.

Zé conta sobre histórias que coleciona há 28 anos. (Foto: Juliano Almeida)
Zé conta sobre histórias que coleciona há 28 anos. (Foto: Juliano Almeida)

Pensando na milésima edição, o artista comenta que é fácil perder as contas de quantas pessoas já participaram dos eventos. Mas, usando de um controle próprio, garante que pelo menos 2.500 músicos e artistas já passaram por ali.

Entre alguns nomes para exemplificar estão Geraldo Espíndola, Paulo Simões, Paulo Gê, Miska, Caxingue, Lúcio Val, Toniquinho, Bibi do Cavaco e Jorapimo. E, puxando na memória, Zé Geral conta que as histórias desses 28 anos são incontáveis.

Tendo escolhido algumas para contar, o anfitrião relembra de um episódio em que Geraldo Espíndola chegou com metade da roupa toda molhada para se apresentar. “Ele tinha um carro que não subia a janela e ia se apresentar naquele dia. No local do sarau estava uma lua, nada de chuva. Quando ele chegou e a gente viu ele com um lado da roupa toda molhada, não entendemos nada”, brinca Zé.

“Perguntei o que tinha acontecido e ele falou que no bairro dele estava chovendo muito. Sem o que fazer e precisando ir para o sarau, o jeito foi ficar metade molhado mesmo”, conta o artista.

Antigo mural de fotos já não existe mais, mas era um dos pontos favoritos de Zé. (Foto: Arquivo)
Antigo mural de fotos já não existe mais, mas era um dos pontos favoritos de Zé. (Foto: Arquivo)

Em outra história, Zé explica que desde integrantes da banda da Cássia Eller até o ex-jogador e comentarista Casagrande já foram até o sarau. “Muita gente mesmo passou por aqui. As pessoas vinham para a cidade, ficavam sabendo do evento e participavam. O sarau sempre esteve aberto para todos, ele sempre foi feito para os artistas”.

Mas, nem só de memórias exclusivamente boas se fizeram mil edições. Detalhando que a polícia nunca foi até o evento para interromper as festividades, o artista conta que precisou chamar policiais por problemas com venda de drogas.

“Uma época, o craque começou a ser vendido com mais frequência e alguns traficantes estavam por lá, mas eu não conseguia saber quem era. Você imagine, eram mais de mil pessoas no sarau. Fui até a Denar e pedi ajuda, sei que durante três meses os policiais ficaram indo ao sarau até descobrirem. Depois disso, foi uma paz, acabou”, diz Zé.

Integrando a história do evento, o artista Toniquinho da Viola, Antônio Dionísio de Oliveira, foi o primeiro músico a receber uma carteirinha de entrada livre no Sarau do Zé Geral. “Fui a carteirinha 001. A gente já participava do evento desde a época em que era na Rua 13 de Maio e continuamos até hoje”.

Para Toniquinho, a persistência do sarau durante todos esses anos mostra sobre a importância do evento. “Acho que as pessoas precisam continuar participando, continuar vindo. Nós sabemos que metade dos músicos do Estado passaram pelo sarau do Zé”.

Toniquinho é o titular da primeira carteirinha criada para o Sarau do Zé Geral. (Foto: Juliano Almeida)
Toniquinho é o titular da primeira carteirinha criada para o Sarau do Zé Geral. (Foto: Juliano Almeida)

Assim como Toniquinho, o músico Vandir Barreto, integrante do Grupo Acaba, comenta que passou a integrar os eventos muito cedo. E, fazendo questão de seguir participando, ele detalha que Zé sempre foi referência no cenário cultural da cidade.

Além dos artistas que acompanham o sarau desde o início, novos músicos continuam somando por ali. Um dos exemplos é o venezuelano Pedro Despacito Gonzales, que chegou ao quintal de Zé há cerca de dois anos.

Tendo vindo para o Brasil devido à crise na Venezuela, ela explica que conheceu Zé durante apresentações musicais. Ao saber do sarau, quis conhecer o espaço e, desde então, também integra a programação.

E, para quem quiser participar do sarau, o evento é realizado nas noites de sábado. Sempre no quintal de Zé, localizado na Rua Pasteur, 937, Vila Piratininga.

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