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Mito ou verdade?

Por Heitor Freire (*) | 05/10/2015 08:23

O que é mais importante: o fato ou a versão do fato? Em política já está bem fundamentada a tese de que a versão é mais importante do que o fato. E que esta repetida muitas vezes, acaba adquirindo foro de verdade.

Há uma situação que permeia a história: quando um fato é verdade? O fato histórico tem como fundamento o testemunho das pessoas que o viveram ou documentos que comprovem sua veracidade. E frequentemente o interesse político de alguém (ou de um grupo) é priorizado no sentido de se manipular a versão dos fatos tornando a versão mais importante do que o fato em si.

Fato é tudo aquilo que aconteceu. É a realidade em si. É inquestionável. Aconteceu e pronto! Já a opinião é a percepção que cada indivíduo elabora sobre o fato que presenciou ou ouviu de outra pessoa. Portanto, a versão já vem carregada de intencionalidades, interesses, compromissos, equívocos, parcialidade etc.

Quando alguém nos relata um fato, ou lemos uma notícia no jornal, o que estamos recebendo é uma versão do fato. No caso dos jornais, muitas são as vezes que lemos a versão da versão.

Isso também aconteceu em nossa história, em nosso estado. Quando, em 1932, no Rio de Janeiro, alguns estudantes idealistas sonharam com a divisão do Estado de Mato Grosso com criação de um estado ao sul, fundaram a Liga Sul-Mato-Grossense de Estudantes, cuja proposta de nome era “Estado de Maracaju” considerando que a Serra de Maracaju, é um acidente geográfico que corta o nosso Estado, do sul ao norte. Daí então o nascimento desse nome.

O fato: Quando da Revolução Constitucionalista de 1932, o dr. Vespasiano Barbosa Martins – personagem emblemática e histórica em nosso estado, foi três vezes prefeito de Campo Grande e depois senador da República –, decretou a mudança da capital para Campo Grande, auto investindo-se no cargo de governador do estado. Todos os atos que o Diário Oficial órgão do governo de Vespasiano publicou se referem ao estado de Mato Grosso. Ou seja, o nome do estado permaneceu o original, só houve a mudança da capital e do governador.

Os acontecimentos despertaram o espírito cívico da nossa população e sob a liderança de Vespasiano Barbosa Martins organizou-se a força expedicionária. A contribuição do nosso estado foi significativa, com pessoal, material bélico, alimentos, doação de cavalos, bovinos e arrecadação de recursos.

A versão: Na realidade, essa versão, “Estado de Maracajú” não foi oriunda do nosso imaginário, mas originou-se na Liga, por representar um antigo anseio da população que buscava uma afirmação da nossa cidadania, retratado nos ideais de nossos estudantes.

Oclécio Barbosa Martins, em seu livro “Pela Defesa Nacional” (Rio de Janeiro, 1944) reeditado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, em 2011, publica em sua página 103 o Manifesto do Rio de Janeiro, de 11 de outubro de 1933. Depois a Liga já estabelecida em Campo Grande, publica o seu Manifesto, em 17 de janeiro de 1934, nominando o novo território com o nome de Maracaju (pág. 105, obra citada).

Outro fato que pode ter contribuído para a versão “Estado de Maracaju”, é que o governo do dr. Vespasiano Barbosa Martins foi instalado oficialmente no templo da Loja Maçônica Oriente Maracaju nº 1, em Campo Grande.

A Liga foi reativada pelo dr. Paulo Coelho Machado na década de 70, criando o movimento que, de certa forma, contribuiu para a criação do Estado de Mato Grosso do Sul.

Concluindo: a denominação, “Estado de Maracaju” encontra, assim, uma fundamentação histórica que não prosperou ao longo do tempo. Mas existiu, tornando-se, no tempo e na história, uma versão predominante.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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