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Economia

Produtores e entidades discutem a concentração de frigoríficos no MS

Nyelder Rodrigues e Paula Maciulevicius | 14/05/2012 23:20
Produtores e representantes de entidades compareceram na Acrissul essa noite para discutir o polêmico tema (Foto: Minamar Júnior)
Produtores e representantes de entidades compareceram na Acrissul essa noite para discutir o polêmico tema (Foto: Minamar Júnior)

Representantes de entidades nacionais de classe e produtores de todos os estados brasileiros participaram nessa noite, no Tatersal de Elite da Acrissul, em Campo Grande, de um debate sobre o monopólio do setor de frigoríficos no Brasil, principalmente no Mato Grosso do Sul.

O movimento é encabeçado pelo presidente da Acrissul, Francisco Maia, e pelos senadores Waldemir Moka (PMDB) e Delcídio do Amaral (PT). Amanhã (15), acontece em Brasília uma reunião com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para tratar do tema.

Para Francisco Maia, o grande problema da concentração da atividade frigorífica está no surgimento de um desequilíbrio na comercialização, enfraquecendo o mercado de uma forma geral.

“A arroba do boi gordo já caiu 10% e vai caindo porque os produtores trabalham com custo de produção mais alto. Isso traz desequilíbrio a nossa atividade e para quem produz, não pode ter desequilíbrio”, declara Francisco Maia.

Em Brasília, conforme o presidente da Acrissul, quem vai conduzir a situação será a frente parlamentar do agronegócio, que tem como integrantes Delcídio e Moka.

“Já elaboramos a Carta Campo Grande e vamos submetê-la em plenária. Após aprovada, será entregue à Comissão Parlamentar de Agricultura na Câmara Federal, que irá tomar as medidas para convocar todos os elos da cadeia. Este é o início, ela que vai tomar as providências”, conta Maia sobre as ações que estão sendo feitas.

Já para o senador Moka, é necessário ouvir todos e ter cautela com a situação, já que a situação de concentração de mercado não é novidade. “O que se discute é o dinheiro, sabemos que o JBS tem as portas abertas com os recursos, chegamos a um ponto de eles comprarem os pequenos e deixá-los fechados, isso é uma preocupação, porque estamos falando da diminuição de emprego”, afirma.

Quanto à possibilidade de instalação de CPMI, algo que alguns produtores almejam, o senador trata com mais cautela ainda. “Eu não acho que chegou neste ponto. É uma posição de cautela, pois queremos discutir exatamente estas questões. A preocupação da concentração no grande mercado poder afetar e influenciar o preço da arroba do boi. Muita gente vende, pouca gente compra. Isso tende a fazer cair o preço”, argumenta Moka.

Maia é um dos líderes do movimento e aponta que o grande problema da concentração de mercado é o enfraquecimento do setor  (Foto: Minamar Júnior)
Maia é um dos líderes do movimento e aponta que o grande problema da concentração de mercado é o enfraquecimento do setor (Foto: Minamar Júnior)

Exemplos - Uma das instituições representadas era a Abeg (Associação Brasileira de Exportadores de Gado), pelo presidente Silvio de Castro Cunha Junior. Ele citou o Pará como exemplo, onde os frigoríficos quiseram criar taxa de exportação, o que acabou elevando o preço da arroba do gado no Pará. “Aqui onde está concentrado agora, antes era 30% mais caro”, finaliza.

Já Luciano Vacari, superintendente da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), contou que no Mato Grosso existem 39 frigoríficos, dois da Marfrig e 13 da JBS. “O que corresponde a mais de 50% do abate. Situação semelhante em Mato Grosso do Sul”, compara.

“O grande propósito é de cobrar explicações e tornar pública nossa insatisfação com concessão do crédito por parte do BNDES, que deixa fechar pequenos frigoríficos por falta de fomento”, comenta Luciano Vacari sobre a participação da Acrimat no evento.

Monopólio - A secretária de Estado e Desenvolvimento Agrário, Tereza Cristina Corrêa, crê que seja difícil falar em monopólio no Estado, e assim como Moka, também adota posição de cautela. “O JBS tem 36% dos frigoríficos em Mato Grosso do Sul. Acho que os produtores têm todo o direito de ficar preocupados, mas temos que ouvir os dois lados. Temos que sentar e discutir com produtores, pois estamos diferentes de Mato Grosso e outros Estados”.

“Temos o Cade que regula o mercado e ela é quem precisa dizer se é monopólio ou não. Foi o que acabou de acontecer no setor das aves. Existe a agência que regulamenta, não sou eu, nem o governador, é o Cade”, declara a secretária sobre o caso, dizendo que o governo apenas monitora a situação, pois é de interesse do Estado a geração de empregos.

Já o presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan, adota posição totalmente contrária. “Nós somos radicalmente contra o monopólio da carne. Hoje a pecuária de corte está estagnada e se assim continuar a situação futura será caótica. Futuramente vamos passar de grande exportação, podendo virar importador”, destaca.

Para ele, o financiamento das grandes empresas frigoríficas pelo BNDES é inaceitável, já que promove desemprego. “O BNDES deveria ser o banco do povo e investir no Brasil, mas está investindo no exterior e isto é inaceitável. Entendemos o monopólio no setor como concorrência desleal”, declara Nabhan.

Senador Delcídio, ao lado do deputado federal Mandetta, participaram do debate em prol do mercado regional de carne (Foto: Minamar Júnior)
Senador Delcídio, ao lado do deputado federal Mandetta, participaram do debate em prol do mercado regional de carne (Foto: Minamar Júnior)

Soluções de momento - Conforme Babham, a solução encontrada pelos produtores, no momento, está sendo outras atividades agropecuárias. “Os produtores estão migrando para cana-de-açúcar, produção de grãos e celulose. Estas acabam sendo as soluções efetivas para a pecuária, senão, de forma geral, ela estaria falida”, diz o presidente da UDR.

Sobre o posicionamento dos produtores, Babham considera que precisa aprender a se preocupar também com os assuntos além do manejo e produção no campo. “Precisamos aprender a se preocupar porteira para fora. Está na hora de ter uma mobilização grande”, opina.

No dia 9 de julho, será realizado o 2º Encontro Nacional de Pecuária de Corte, onde será sugerida a criação do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, em Brasília, para discutir com profundidade o cenário da pecuária no Senado e na Câmara Federal. A ação é uma forma para tentar frear o monopólio no setor.

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