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Para mães das vítimas de “Maníaco da Cruz“ terror ainda é vivo na memória

Paula Vitorino | 08/10/2011 11:27

Após três anos dos crimes, as famílias das quatro vítimas do maníaco ainda vivem aterrorizadas

Mãe de Catalino ainda sofre de depressão após perda do filho. (Fotos: João Garrigó)
Mãe de Catalino ainda sofre de depressão após perda do filho. (Fotos: João Garrigó)

Já faz três anos que um adolescente de 16 anos matou brutalmente três pessoas na pequena cidade de Rio Brilhante, em Mato Grosso do Sul, mas para as famílias das vítimas, a dor e o medo ainda resistem, como se tudo o que foi vivido como em um filme de terror tivesse se passado ontem.

“Ainda estou me recuperando da depressão, ontem fiquei bem mal. Tudo que aconteceu não sai da nossa cabeça”, diz Cláudia Cardenas, de 61 anos, mãe do pedreiro Catalino Cardenas, que morreu aos 33 anos.

Ele foi assassinado no dia 2 de julho de 2008, o primeiro a ser morto pelo adolescente que ficaria marcado como “Maníaco da Cruz”, devido a forma macabra como deixava os corpos das vítimas: braços e pernas formando um cruz.

Em meio às lembranças do filho, a mãe não contém as lágrimas e desabafa chorando: “Por mim ele ficaria preso a vida toda. Não tem justificativa o que ele fez”.

Como o jovem foi preso aos 16 anos, o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) não permite que o período de detenção seja superior a três anos e, com isso, o prazo para sua internação terminou neste sábado (8) e sua liberdade já foi pedida pela defensoria pública.

No desabafo, Cláudia também se refere as “justificativas” que o Maníaco apresentou na época para matar cada uma das vítimas.

Ele disse que todas as vítimas mereciam morrer porque foram “julgadas impuras” por ele, após obrigá-las a responder uma série de perguntas sobre a vida sexual, fé em Deus e valores morais. No caso de Catalino, o vício no álcool foi um dos “critérios para o julgamento Maníaco”.

A primeira vítima era vizinho do adolescente. Dona Cláudia, com seus poucos mais de 1,50m de simplicidade, diz que viu o rapaz crescer e nunca imaginou que se tornaria o assassino de seu filho.

“Ele era um menino normal. Quando meu filho morreu, ele continuou agindo normalmente na vizinhança”, diz.

Ela lembra que ficou sabendo da morte do filho só na tarde do dia 2 de julho, depois de ouvir de um colega da família “É dona Cláudia, mais um golpe para a senhora”. A mãe havia perdido uma filha há menos de 2 anos.

Mãe de Gleice conta que o medo é constante. Irmã pergunta se o Maníaco vai ser solto.
Mãe de Gleice conta que o medo é constante. Irmã pergunta se o Maníaco vai ser solto.

Medo constante - Para a família da terceira vítima do Maníaco, Gleice Kelly da Silva, morta aos 13 anos, o sofrimento e o medo também estão presentes nas lembranças. Na quinta-feira (6), os familiares lembraram do terceiro ano da morte da garota com uma homenagem na rádio.

Lembrar e falar do assassinato da garota é algo difícil, e a todo momento durante a entrevista ao Campo Grande News a tia, mãe e avó controlam o choro. “A gente não vive mais em paz, estamos sempre com medo”, conta a mãe Vilma Terezinha da Silva, de 32 anos.

Quando o assunto é a forma brutal como o corpo de Gleice foi encontrado, Vilma logo diz “não gosto de falar disso e nem de lembrar”.

A adolescente foi encontrada seminua em uma obra, com um bilhete próximo ao corpo que tinha várias cruzes e letras que, dentre as possibilidades, formavam a palavra “inferno”.

A família também afirma que Gleice e o Maníaco não se conheciam. “Nunca tinha visto a família dele, não nos conhecíamos e ela também nunca vi falando ou junto dele”, diz a mãe.

Um dos pontos fundamentais para a identidade do Maníaco ser descoberta foi uma mensagem que ele deixou no Orkut da garota, após a sua morte, dizendo: "Morto não responde recados", seguido do símbolo do diabo (666). A mensagem foi deixada em resposta ao recado do tio.

Milagre - O maníaco também matou Letícia Neves de Oliveira, de 22 anos, que foi a segunda vítima, assassinada no dia 24 de agosto. Ela era homossexual e frentista de um posto de combustíveis. Seu corpo foi encontrado em um túmulo do cemitério municipal.

Mas a tragédia também podia ter atingido uma quarta família, a de uma jovem que era para ter sido morta antes de Gleice, no dia 26 de setembro. A mãe, que não quis se identificar, atribui o fato a um verdadeiro milagre.

“Ele disse para ela que ia a liberar para ir embora, mas que iria se arrepender no outro dia deixar isso. Ele não fez nada para ela, nem um arranhão”, conta.

Para proteger a filha, os familiares não deixaram que a jovem conversasse com a reportagem, mas lembraram que a menina soube passar confiança para o Maníaco e conversou muito.

Após conversar com a vítima, o Maníaco decidiu que ela era pura e não merecia morrer. “Sempre fomos muito Católicos e ela soube conversar com ele. Parecia mais um menino doente procurando ajuda em alguém”, diz.

Mesmo não tendo tirado a vida dessa família, o Maníaco ainda aterroriza o dia a dia. “Ela ficou muito assustada com tudo que aconteceu. Nós ainda sofremos”, diz.

Solto - O medo e os dias de dor das famílias se transformaram em sentimento de impunidade ao saber que o adolescente será colocado novamente em liberdade.

“A notícia de que ele vai ser solto já se espalhou, está todo mundo com medo. Uma pessoa dessa não podia voltar à liberdade”, dia a tia de Gleice, Marcia Gomes da Silva, de 25 anos.

Ontem pela manhã, a irmã de Gleice, de 7 anos, acordou dizendo para a mãe: "É hoje que aquele maníaco vai ser solto, mãe? Aquele que matou a Gleice".

O pedido de desinternação já foi feito pela defensoria pública na manhã desta sexta-feira (7). Agora, a resolução depende do parecer do juiz. Até hoje, a reportagem apurou que o alvará de soltura do menino não foi encaminhado pelo judiciário à Unei de Ponta Porã, onde ele está internado. Com isso, o adolescente só deve ser solto após o feriado, na quinta-feira (13).

Sobre os relatos de que o Maníaco tem bom comportamento na Unei, a mãe de Gleice questiona, “aqui ele também tinha bom comportamento, ninguém suspeitava dele e aconteceu tudo isso. Quem garante que ele não vai fazer a mesma coisa agora?”.

Gosto pela morte - Para as famílias das vítimas, o Maníaco em liberdade vai continuar matando. “Acho que ele mata por gostar, vai continuar matando”, diz a mãe de Gleice.

Sobre o adolescente ter problemas mentais, os familiares são unanimes em dizer não acreditar nisso. “É falta de vergonha na cara mesmo, não é doença”, diz a mãe de Catalino.

A tia de Gleice ainda completa dizendo que “se fosse doença ele matava ele, a mãe, a família também”.

Os laudos de avaliação psicológica do Maníaco não foram divulgados. O judiciário fez pedido para avaliação psiquiátrica, mas o laudo ainda não divulgado. Se comprovado que o adolescente sofre de graves problemas mentais, a mãe dele ou a promotoria pode pedir a interdição.

Crimes - O Maníaco foi apreendido no dia 9 de outubro, seis dias após o último assassinato, em casa. No quarto dele havia posters do Maníaco do Parque e de um diabo.

Foi achado, ainda, um envelope de cor azul, dentro do qual havia um papel com nome das vítimas, escrito em vermelho. Foram encontrados ainda três jornais com reportagens sobre os assassinatos e pertences das vítimas.

Para cometer os crimes ele utilizava luvas cirúrgicas. Ele estrangulava as vítimas e terminava de matá-las com faca, arma com a qual ele escreveu INRI (Jesus Nazareno Rei dos Judeus) no peito do primeiro alvo.

Terror provocado por adolescente de 16 anos colocou pequena cidade em evidência, três anos atrás.
Terror provocado por adolescente de 16 anos colocou pequena cidade em evidência, três anos atrás.
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