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E o passarinho voou ...

Por Heitor Freire (*) | 21/11/2014 11:13

Neste momento em que vivemos a inexorabilidade da partida do nosso Poeta maior, constatamos que ele continua a existir sim e existirá sempre, perpetuado no tempo e no espaço, por sua obra que não encontra similar em toda a literatura: pela profundidade, pela abrangência, pela simplicidade, criatividade e pela força da inteligência e do saber profundo.

O músico Márcio de Camillo baseando-se na obra de Manoel de Barros – o mais aclamado poeta brasileiro, considerado o maior de todos por Carlos Drummond de Andrade, – concebeu e realizou o espetáculo CRIANCEIRAS inspirado na sua poesia, tornando-se agora e para sempre uma homenagem permanente à sua memória.

CRIANCEIRAS conta com as “iluminuras” da artista plástica Martha Barros, filha do poeta. Suas “iluminuras” transmitem a atmosfera lúdica da poesia de Manoel de Barros, um trabalho muito próximo ao que ele faz com palavras, sem, no entanto, permitir que a ilustração se transforme em legenda para o texto.

A direção é de Luiz André Cherubini, fundador do Grupo Sobrevento de Teatro de Animação de São Paulo. O espetáculo amalgama teatro e cinema de animação, música, tecnologia digital e literatura, fazendo-se ponte da obra poética para a infância. Um espetáculo cênico musical inspirado na obra do poeta, com poesia, música, imagem, ação e movimento.

A cena é construída a partir da brincadeira dos intérpretes com a palavra do poeta musicada em interação com imagens físicas e projetadas que, delicadamente, no desenrolar das intrigas caçam jeitos inesperados para a liberdade dos curiosos personagens: Bernardo, Sabastião, Caranguejo Se Achante Demais, Sombra Boa, e outros.

Uma encenação simples, delicada, sofisticada, inusitada, bela, concebida por artistas criadores comprometidos com a estética contemporânea da arte feita para crianças.

Luiz André Cherubini com 28 anos de trabalho contínuo organizou ultimamente, com sucesso absoluto uma Mostra de Teatro para Bebês no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, demonstrando assim sua surpreendente capacidade de comunicação. Andréa Freire é diretora do espetáculo, juntamente com o Luiz André.

O mais surpreendente de tudo isso foi a concordância do poeta que é, como se sabe, totalmente avesso a qualquer exposição pessoal. Ele se entusiasmou com o projeto e aplaudiu sua realização e agora, certamente está acompanhando do assento etéreo para onde ascendeu, voando como tantos passarinhos que cantou em sua poesia, com a alegria de sempre e com o seu sorriso encantador.

No dia 15 próximo passado em apresentação no pátio do Shopping dos Ipês, o espetáculo foi assistido por mais de duas mil pessoas. Foi apoteótico e também uma homenagem do nosso povo à memória imortal de Manoel de Barros.

Soube agora, lendo a seu respeito, que o Poeta foi meu colega: trabalhando como corretor de imóveis no Rio de Janeiro, conheceu dona Stella que estava buscando um apartamento para comprar e foi por ele atendido, se encantaram e se amaram para sempre.

“Eu não caminho
para o fim, eu
caminho para
as origens”.

E assim ele voltou para suas origens. Com as bênçãos do Pai Altíssimo.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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