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Cidades

Nem dando endereço professora consegue que ex seja intimado para pagar pensão

Algo que parece trivial emperra a vida de várias mães que lutam sem sucesso para fazer lei ser respeitada

Paula Maciulevicius Brasil | 14/07/2021 14:57
Mãe e filho que tentam na justiça receber pensão alimentícia para adolescente. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mãe e filho que tentam na justiça receber pensão alimentícia para adolescente. (Foto: Arquivo Pessoal)

O dilema desta professora, de 48 anos, é um dos inúmeros casos de mulheres que tentam há anos ver o valor da pensão do filho ser depositado na conta. À espera de justiça, a mulher diz que as contas não esperam, nem os desejos e a necessidade do filho adolescente de ter um computador.

Para não identificar o filho, o nome da professora não será revelado. O menino que hoje tem 15 anos vê a mãe ir atrás do pai há pelo menos sete anos. Desta vez, até o endereço do trabalho do ex-marido a professora conseguiu. E nem assim a Justiça chegou a intimá-lo.

A história dela é exemplo do que acontece e pode acontecer com todas as mulheres. Antes do relacionamento ficar sério e eles irem morar juntos, o rapaz mostrava que tinha melhores condições. "Mas quem sustentava a casa era eu. Nem serviço ele tinha. Por isso resolvi me separar. Chegou um tempo que o menino não tinha fralda, nem leite. Estava de uma forma insustentável para mim", conta.

O casal ficou junto por aproximadamente dois anos. A professora conta que depois da separação até teve a paciência de esperar o ex-marido se estabilizar. "Como ele não tinha condições, eu nem cobrava pensão. Dei um tempo para ele. Passaram-se uns três anos mais ou menos quando comecei a pedir e ele passou a enrolar", recorda.

Quando o filho chegou aos 7 anos, a mãe entrou na Justiça Itinerante, mas o ex-marido não compareceu em nenhum dos atos marcados. "Perguntei se eles poderiam intimá-lo, mas falaram para mim que lá era só acordo. Aí eu fui conversar com ele", lembra.

Anos atrás, mãe procurou Justiça Itinerante, depois aceitou acordo "verbal". Valores pagos pelo pai ao filho não chegaram nem a 1 ano. (Foto: Arquivo Pessoal)
Anos atrás, mãe procurou Justiça Itinerante, depois aceitou acordo "verbal". Valores pagos pelo pai ao filho não chegaram nem a 1 ano. (Foto: Arquivo Pessoal)

O que, hoje, ela chama de "erro" foi a decisão tomada à época. A professora resolveu acreditar que o ex pagaria o valor a partir de um acordo verbal feito só entre eles. "Ele me disse: 'vamos fazer um acordo aqui, eu pago R$ 300,00 e dou o que ele precisar. Não precisa entrar na justiça'. E eu caí na dele", descreve.

No primeiro mês os R$ 300,00 até chegaram certinho, no segundo, também. Mas a partir daí, a mãe conta que o valor foi diminuindo de R$ 50,00 em R$ 50,00. "Passou-se menos de um ano e ele começou a dar sabe quanto? R$ 50,00 e eu tinha que ir lá na casa dele. Ele não depositava nada, me fazia assinar um recibo e quando a gente ia, eu tinha que levar o menino. Ele só falava que meu filho parecia um mendigo", reproduz.

Como o menino já tinha 7 anos, a mãe diz que ele passou a ficar constrangido com a "cobrança" do pai quanto às roupas. Além do dinheiro não ser o que havia ficado combinado, o ex-marido dava coisinhas como laranja ou o que tivesse na geladeira para o filho.

"Eu desisti de ir lá. Para mim era humilhante demais. Eu desisti", desabafa.

No ano retrasado, quando o filho completou 13 anos, passou a precisar de um computador e a fazer tratamento dentário, a mãe resolveu entrar com o pedido na Justiça.

"Eu comecei a não ter para dar pra ele. E ele me pediu: 'mãe, agora eu quero pensão, eu que quero, eu preciso'", relata.

A professora entrou na Defensoria Pública. Com o processo judicial em curso, houve a primeira audiência, mas nada do ex. Na segunda audiência, também deixou de comparecer. "Eu passei todos os contatos que eu tinha dele, o lugar onde morava, descobri que passou no concurso público de Nova Alvorada do Sul e mesmo assim nunca conseguiram intimá-lo", questiona.

Além do cansaço de ter que pedir por algo que é direito do filho, a professora não consegue entender o motivo da demora na intimação.

"Eu, por mim, se não der certo, já falei para o meu filho: 'vamos esquecer. A mãe dá um jeito'. Acho muito injusto, porque eu não fiz ele sozinha".

Processo - A professora entrou na Justiça em julho de 2019 pedindo a guarda do filho, a pensão e a regulamentação das visitas pelo pai.

Em outubro do mesmo ano, o juiz concedeu a guarda provisória, além de fixar pensão provisória de 30% do salário mínimo a ser pago até o dia 10 de cada mês desde a citação.

No dia 22 de janeiro de 2020, o oficial de justiça procurou pelo homem, mas não o encontrou para intimá-lo. No endereço de Campo Grande, o oficial foi informado por um sobrinho de que ele estava viajando. A primeira audiência ocorreu no dia 30 daquele mês, e o ex-marido não apareceu.

Neste ano, em março, o pai também não foi localizado para a intimação. Ele teria de comparecer à audiência marcada para o dia 19. No mesmo mês, dia 31, a Defensoria informou à Justiça o endereço de trabalho do homem, concursado na Prefeitura de Nova Alvorada do Sul.

No entanto, a Justiça sequer mandou citá-lo novamente.

Questionado, o Tribunal de Justiça informou que por se tratar de um caso que está em segredo de justiça, não pode se manifestar.

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