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Cidades

Tatuagem pode acabar com sonho de ser bombeiro em concurso com 230 vagas

Edital prevê eliminação por desenhos que firam “honra, ética e decoro” da corporação militar

Por Lucas Mamédio | 30/05/2025 09:29
Tatuagem pode acabar com sonho de ser bombeiro em concurso com 230 vagas
Tatuagens que podem impedir candidadotos de assumirem concursos públicos (Foto: Reprodução)

Embora o Supremo Tribunal Federal já tenha decidido que ter tatuagem não pode impedir alguém de assumir cargo público, o novo edital do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul traz regras que podem eliminar candidatos com base justamente nesse critério. O documento, publicado na última sexta-feira (30), afirma que serão impedidos de ingressar no serviço temporário da corporação aqueles que tiverem tatuagens que “ofendam os deveres e as obrigações militares, a ética, a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe”.

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O novo edital do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul estabelece critérios que podem eliminar candidatos com tatuagens, contrariando decisão do Supremo Tribunal Federal. O documento proíbe desenhos que "ofendam os deveres militares" ou sugiram ligação com organizações criminosas. Especialistas apontam que a subjetividade dos critérios pode resultar em exclusões arbitrárias. Em 2023, o Tribunal de Justiça de MS anulou a eliminação de um candidato desclassificado por ter uma tatuagem de carpa, considerada erroneamente como símbolo de facção criminosa.

A redação consta no item 2.2, inciso XIV, do edital do processo seletivo simplificado que oferece 230 vagas para Soldado Auxiliar de Operações de Bombeiro Militar (SD-AOBM), com salário inicial de R$ 3.815,88. O trecho estabelece que qualquer tatuagem que “expresse ou sugira ligação com organizações criminosas, estímulo à violência, uso de drogas ou conteúdos contrários à ordem, à moral ou à democracia” pode ser motivo para desclassificação. A avaliação será feita durante a investigação social, uma das fases do certame.

O problema, segundo juristas e especialistas em concursos públicos, está na amplitude e subjetividade desses critérios. Expressões como "decoro da classe" e "honra pessoal" não têm definição clara em lei, o que abre margem para interpretações individuais das comissões responsáveis. A falta de parâmetros objetivos pode resultar em exclusão arbitrária de candidatos com tatuagens de natureza artística, cultural ou simbólica, sem qualquer conotação criminosa.

Entendiento dos tribunais - Em 2023, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul anulou a eliminação de um candidato ao concurso dos bombeiros que havia sido desclassificado por ter uma tatuagem de carpa no braço, sob a alegação de possível associação com o crime organizado. A banca considerou que o desenho — acompanhado de gueixa, samurai e flores de cerejeira — sugeria vínculo com o PCC, que usa informalmente esse símbolo. No entanto, o TJ entendeu que os elementos eram típicos da cultura japonesa e não configuravam apologia ao crime, autorizando a continuidade do candidato no certame.

Tatuagem pode acabar com sonho de ser bombeiro em concurso com 230 vagas
Com tatuagem de carpa, candidato precisou de liminar para seguir no concurso do Corpo de Bombeiros. (Foto: Reprodução)

Em 2016, o Supremo Tribunal Federal fixou a tese de repercussão geral (RE 898.450) afirmando que é inconstitucional a eliminação de candidatos em razão de tatuagens, salvo em casos excepcionais — como desenhos que façam apologia ao crime, incitem a violência ou contenham mensagens discriminatórias. Na decisão, os ministros reafirmaram o direito à liberdade de expressão e ao livre acesso a cargos públicos como garantias fundamentais.

Casos como o do candidato eliminado por ter uma carpa tatuada, em concurso anterior da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, reforçam as controvérsias. À época, o Tribunal de Justiça considerou que não havia qualquer elemento ofensivo na imagem e determinou a reintegração do candidato ao certame.

O edital atual prevê investigação social com análise de conduta moral e antecedentes, mas não detalha como será feita a avaliação das tatuagens — o que pode gerar novos questionamentos.

As inscrições para o processo seletivo vão até 26 de junho e a classificação final está prevista para 9 de setembro.

Procurado pela reportagem, o Governo de Mato Grosso do Sul foi questionado sobre os critérios adotados para eliminação de candidatos com tatuagens. Em nota, a a SAD (Secretaria de Estado de Administração) e Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) manifestaram que nenhum candidato será desqualificado por ter tatuagem visível.

“Mas tão somente aquelas de conteúdo nitidamente incompatível com a função pública militar, como símbolos de organizações criminosas, apologia à violência ou ao uso de drogas, e mensagens que atentem contra a ética, a honra e o decoro exigidos da carreira militar".

*Matéria atualizada 16h15, do dia 31, para acréscimo do posicionamento do governo.

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