Com aviso no carro, pai foge de obra para levar mulher operada e filho para casa
Família é de Rio Verde e teve que caçar caminho que não estivesse interditado para sair da maternidade
Em plena Avenida Eduardo Elias Zahran, na faixa onde uma placa avisa que é livre à direita, um motorista não sai do lugar. Com cartazes espalhados pelo carro, quem se aproxima para ler enxerga que ali, dentro do Celta branco, está um recém-pai, uma recém-mãe e um recém-nascido que acabaram de sair da maternidade.
A cena não é inédita, mas revela que o amor está nos detalhes. Com o trânsito como está, cheio de trechos interditados e motoristas ainda mais mal educados, a vontade que se tem é a de acompanhar o carro até o destino final, "blindando" o bebê de buzinas e xingadas.
No trajeto que acompanhamos, não houve muita manifestação de motorista descontente. Quem ameaçava dar uma fechada, já reduzia ao perceber o motivo da velocidade tão baixa. O máximo que o carro andou foi a 50 km por hora em uma via rápida, mas, no geral, não passou dos 30 km/h.
A maior parte do caminho foi pela Rua Spipe Calarge, uma das vias que mais têm quebra-molas. Antes de chegar em cada um, o pai freia, liga o pisca-alerta e só falta erguer o carro com os braços para mãe e filho não sentirem o baque da lombada.
O trajeto termina em um condomínio, e gentilmente o pai, ao perceber que estava sendo seguido, exibe com felicidade o motivo de tanto cuidado. "É meu filho", e aceita passar o telefone.
Já em casa, com bebê resguardado, a gente descobre que a família é de Rio Verde de MT, cidade distante 207 quilômetros da Capital. Funcionários públicos, Vinícius Alves de Lima e Flávia Tairine estavam radiantes com a chegada de Rafael, primogênito que veio de forma natural, depois de três anos de tentativas.
Rafael Barbosa Alves de Lima, o bebê, nasceu dia 10 de agosto, às 9h19 da manhã e a alta foi dada para mãe e filho no dia 12 de agosto. "Tive que pegar uma rota alternativa para vir até o condomínio onde a minha irmã mora. Vamos ficar mais uns dias até retornar para Rio Verde", conta Vinícius.
Os papéis de aviso que ali teria uma mãe recém-operada de cesariana e um bebezinho foram vistos por Flávia pelas redes sociais. Ela sugeriu, e Vinícius achou por bem fazer isso, ainda mais se tratando do trânsito da Capital.
"Estávamos vindo a Campo Grande todo mês pelo pré-natal, e acabamos vendo todas as obras. Esse caos no Centro, e isso foi uma das coisas mais pontuais para a gente fazer isso", explica o casal.
Antes de sair da maternidade, o pai tirou da pasta onde guardava as folhas em sulfite, que levam cuecas, os pezinhos de um bebê e o aviso: "Tenha calma, minha esposa fez cesárea. Bebe a bordo. Obrigado!!!"
E em seguida, jogou no GPS do celular para saber quais eram as melhores rotas, sem obras, da Maternidade Cândido Mariano até a Avenida Senador Antônio Mendes Canale, no Pioneiros.
"Como está tudo parado, fica complicado. Conseguimos achar da melhor possível uma via de menos impacto", conta Vinícius.
No GPS, o trajeto duraria 20 minutos, mas pela velocidade baixa do pai, foram 35 minutos. A reação dos condutores pelo caminho, em geral, foi muito positiva. "Mais no centrão houve bastante buzina, sinais de luz e cumprimentos em forma de comemoração. Mas nos trechos em obras, percebi que alguns dos sinais não foram tão amistosos devido a paralisação e por eu estar andando em velocidade reduzida", relata.
Se tudo correr bem, os três vão seguir para Rio Verde neste fim de semana, levando os avisos junto também na rodovia.
"A sensação que eu tenho é indescritível. Digo, que agora eu tenho ressignificado a definição de amar. É uma coisa que você não expressa nem em palavras".
