ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
MAIO, DOMINGO  11    CAMPO GRANDE 19º

Capital

Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes

"Todo cuidado é pouco", frase clichê, mas que tem que ser levada a risca.

Mirian Machado | 24/12/2020 14:05
Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Crianças brincando em córrego onde corpo do Samuel foi encontrado após ser levado pela água (Foto: Marcos Maluf)

O ano já foi conturbado para muita gente por causa da pandemia, mas um outro fator que marcou o “ano sem escola” dos pequenos foi a fatalidade. Para a criançada, foram quase 365 dias em casa ou brincando nas ruas. Mesmo não aparente, o perigo está ali, em todo canto. Para algumas crianças, custou a vida.

Ainda sem dados concretos sobre essas fatalidades, segundo o Corpo de Bombeiros  foi aumento de acidentes em geral dentro de casa.

 Foi um período de maior isolamento. As pessoas realmente ficaram mais em casa. Por isso tudo deve ser supervisionado por um adulto. Até mesmo em casa. Há produtos químicos por exemplo que são muito perigosos. Crianças são curiosas”, explicou o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Fernando de Almeida Carminatti.

Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Criança brincava com outras crianças quando apartamento pegou fogo (Foto: Marcos Maluf)
Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Fogo atingiu colchão e se alastrou rapidamente (Foto: Henrique Kawaminami)

Em maio, uma tragédia matou um bebê de dois anos após em que a família morava pegar fogo no Parque do Lageado.

No local, havia 6 crianças brincando com um isqueiro em um dos quartos.  As chamas começaram em um colchão. No mesmo cômodo ainda havia materiais recicláveis e até pneu de automóvel, o que ajudou a ampliar o incêndio.

Duas crianças de 2 anos e 5 anos sofreram queimaduras. O menino mais novo ficou mais grave e foi levado à Santa Casa com ferimentos no peito e no braço. A criança mais velha foi socorrida à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Universitário e depois para a Santa Casa, mas não resistiu. O pequeno teve 90% do corpo queimado.

As outras crianças não ficaram feridas, mas também receberam atendimento no local do incêndio.

Moradores usaram ao menos 26 extintores para combater as chamas. Seis viaturas dos bombeiros foram acionadas. O condomínio foi multado por não possuir certificado dos Bombeiros.

Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Mykael morreu atacado por cão, qual sempre brincava (Arquivo pessoal)

Um dos casos que abalou a população foi o do pequeno Myckael de apenas 3 anos, que morreu em junho após ser atacado por um cachorro no Bairro Cristo Redentor A criança estava com a mãe, Ericka Mendonça Prates, de 18 anos, na casa de uma prima da mulher. O ataque teria ocorrido quando Myckael saia da casa com a mãe. O imóvel é alugado e o cão é de propriedade do dono da casa.

Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Cão foi levado para chacara após o ataque (Direto das Ruas)

Anderson Wilton de Lima de 26 anos, foi quem ajudou a socorrer a criança. Ele contou a reportagem que mora perto da família e que ouviu os gritos de socorro, quando correu até o local e viu o cão atacando o menino. Ele então tentou espantar o animal com o cabo de enxada, quando o cão se afastou e foi pra cima dele. “O cão estava mordendo a cabeça dele. Eu fiz tudo que eu pude. Pensei no meu filho na hora”, lamentou emocionado.

A criança foi socorrida e levada para o CRS (Centro Regional de Saúde) do Bairro Tiradentes, mas não resistiu. O animal, que é de raça indefinida, mistura de vira-lata com rottweiller, segue em uma chácara onde o dono mora. A polícia disse que quando esteve no local, o cão apresentou comportamento calmo,e até então o caso é tratado como fatalidade.

Sem entender o porquê do fato, a mãe lamentou e disse que sempre tinham contato com o animal.

Ele corria atrás do cachorro e o cachorro dele, nunca teve problema, sempre foi um cão super calmo, não aparentava ser raivoso, não sei o que aconteceu”, explicou. “Não consegui salvar o meu bebê. Tentei muito, mas não consegui”, disse.

Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Filho de brigadista voluntário morreu após cair em Rio (Foto: Ecoa)

Em setembro, quando todo mundo vivia a angustia de ver o Pantanal se desmoronar em chamas, outra fatalidade ocorreu. Heitor Henrique Rodrigues da Silva, 2 aninhos, caiu no Rio Paraguai. No momento famílias ribeirinhas estavam tensas por que o vento havia mudado a direção das chamas fazendo com que o fogo avançasse em direção à comunidade, onde vivem 23 família.

O garotinho estava ao lado dos pais quando caiu do barranco às margens do rio. O pai inclusive é brigadista voluntário no combate ao fogo. Equipes dos Bombeiros que tentavam controlar as chamas foram acionadas. O local fica na Serra do Amolas, cerca de 8 horas de barco da área urbana.

O corpo do Heitor, foi encontrado dois dias depois, há mil e duzentos metros de onde ocorreu a queda. A reportagem não conseguiu contato com a família.

Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Criança brincava perto da piscina quando caiu e se afogou (Paulo Francis)
Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Menino morreu uma semana depois (Facebook)

No mês seguinte, o dia de lazer de uma família se tornou na verdade um pesadelo. O fim de semana, mais especificamente no domingo, 18 de outubro, era pra ter muita diversão, risadas, mas após um acidente trágico aconteceu, um menino de 3 anos caiu em uma das piscinas do Eco Park, na saída para Três Lagoas em Campo Grande.

Chefe de segurança, Ana Ribeiro é guarda-vidas e foi quem conseguiu reanimar a criança pouco tempo após o afogamento. Ela disse que os pais perderam a criança de vista por pouco tempo. O pequeno brincava perto da piscina que tem cerca de 1,40 metros, quando caiu. Um funcionário viu, pegou a criança e chamou a guarda-vidas. “Fiz reanimação cardiorrespiratória, boca a boca e massagem cardiopulmonar”., contou.

Equipe do Samu foram acionados e fizeram a conclusão da reanimação. A criança foi levada para a Santa Casa e depois para o Hospital Cassems. Uma semana após o acidente, o pequeno não resistiu. A família autorizou a doação de órgãos.

Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Local onde Samuel brincava quando foi levado pela água (Kisie Ainoã)

Infelizmente, o ano encerrou com mais um caso que chocou a população. Várias pessoas sentiram a angústia com a família, a esperança e depois a dor da perda do Samuel. Bastante ativo, a criança já havia até pedido o presente de natal desse ano para a mãe, um tablet.

Samuel Henrique dos Santos de 8 anos, brincava com o irmãos de 13 e 15 anos e de outra criança de 12 anos, no Rio Anhanduí. Não era de costume, já que Samuel visitava o tio pela primeira vez. O rio passa nos fundos do quintal da casa do homem. No início do mês de dezembro, Samuel foi com os pais e os irmãos visitar o tio, quando os meninos foram para o Rio pescar, em uma grande estrutura de concreto que fica em meio as águas.

O rio subiu repentinamente na chamada "cabeça d'água". Dos quatro que estavam no local, dois conseguiram sair. O pequeno juntamente com o irmão foram levados. O tio entrou na água para tentar salvá-los. Quando não conseguiram segurar Samuel. O tio e o adolescente conseguiram sair da água pouco tempo depois.

Foram cinco dias de buscas. Corpo de bombeiros procuraram com caiaques e mergulhadores. Os pais chegaram a fazer um mutirão para auxiliar a procura pelo filho, até o corpo dele ser encontrado, 4 km do local onde desapareceu, em uma curva dentro do rio, próximo a uma cachoeira.

Foram dias de angustia e esperança. A mãe, Keila Santos, 38 anos, acompanhou toda a movimentação, nervosa e claro, chorando muito. “Não devia ter descuidado dele”, contou aos prantos.

Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Crianças brincam em frente ao presídio (Foto: Marcos Maluf)

Tenente-coronel Carminatti, orienta que a distancia segura de uma criança é à distância de um braço. Mesmo com a pandemia, muita gente deve aproveitar as festas de fim de ano, com isso a atenção deve ser redobrada. Os bombeiros orientam que em locais com água a criança ainda deve ser supervisionada mesmo que esteja com boias e coletes. Não é recomendado dar os famosos "mortais", cambalhotas em piscinas e rios. Não deve entrar em rios sem conhecer o local e nunca ir até onde a água ultrapasse o umbigo, o risco é ainda maior quando tem correnteza.

Em casa os cuidados não relaxam. "Época de corona vírus, muito álcool em casa. Deve ter um cuidado especial com isso. Em casa água e sabão para a higiene é suficiente. Deixe o álcool para levar quando sair, mas em casa deixe-os se possível em locais elevados, que a criança não alcance", explicou.

Ele ainda explica que em rios, por exemplo, é preciso cuidado com o tempo. Se houver chance de chuva, não deve permanecer no local, além do aumento repentino das águas, há também riscos com raios.

Fatalidades e abusos marcam "ano sem escola" de crianças e adolescentes
Cena reproduzida para reportagem sobre violência sexual (Foto: Tainá Jara)

Abusos- Por outro lado, não são apenas fatalidades que marcam a vida de famílias. O maus tratos e abuso sexual é algo perverso e que deixa sequelas para sempre e o pior, a maioria acontece dentro de casa, muitas vezes com próprios familiares. Do início do ano até agosto 135 meninas de 0 a 14 anos foram estupradas no Estado, conforme a SES (Secretaria de Estado de Saúde). Em Mato Grosso do Sul, só esse ano 2.262 crianças e adolescentes de 12 a 17 anos deram a luz. Outras três crianças com menos de 12 anos também tiveram bebês.

A Polícia Civil registrou dois casos de meninas de 11 anos que engravidaram em decorrência de violência sexual. Outras duas meninas realizaram o aborto legal assegurado pelo Governo do Estado.

São meninas que perderam a infância e perderam a juventude. São marcas que elas e a família levaram para sempre além das inúmeras formas de sequelas.

Em Amambai, distante 359 quilômetros de Campo Grande, o caso foi levado às autoridades no começo de setembro quando a criança estava na 25° semana de gestação. O estuprador era o padrasto e os abusos aconteciam há cerca de um ano.

Em novembro, um caso de estupro envolvendo outra menina de 11 anos foi levado à polícia de Ivinhema, distante 284 quilômetros da Capital. A investigação aponta que um rapaz de 18 anos foi o responsável por engravidar a criança.

Nos siga no Google Notícias