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Interior

Seguranças de aldeia ostentam arma de choque e dão tapas em indígenas

Polícia investiga ameaça e lesão; confusão teria ocorrido após morte de 2 meninos afogados

Por Maristela Brunetto | 01/12/2025 12:20

RESUMO

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Um conflito na aldeia Te’y Kue, em Caarapó, envolvendo indígenas Kaiowá e Guarani, resultou em investigação por ameaça e lesão corporal. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra seguranças ostentando uma arma de choque e agredindo jovens e mulheres. A tensão começou após a morte de dois adolescentes afogados, com acusações de que a família agredida teria zombado da tragédia. O capitão Anísio da Silva afirmou que a situação fugiu do controle, com ameaças de morte e invasão da sede administrativa. Ele destacou o uso da arma de choque como medida de contenção em brigas comuns na aldeia. O episódio também levantou preocupações sobre a violência contra mulheres indígenas, tema abordado por iniciativas locais de prevenção e proteção.



A Polícia Civil de Caarapó abriu procedimento para investigar ocorrência de ameaça e lesão corporal em uma confusão ocorrida na sede da aldeia Te’y Kue, envolvendo indígenas Kaiowá e Guarani. Um vídeo sobre o episódio foi divulgado pelo perfil kunangueatyguasu no Instagram e também se espalhou pelo WhatsApp. Nas imagens é possível ver duas mulheres e dois rapazes sendo intimidados. Um segurança da comunidade ostenta o tempo todo uma arma de choque, e o vídeo mostra que uma adolescente e um jovem levam um tapa no rosto e outro ainda é atingido pela arma.

A cena foi o desfecho de um clima de tensão que começou dias antes, conforme apurou a reportagem, quando dois adolescentes morreram afogados ao irem à represa da reserva indígena buscar água e se banhar. Passou a circular a informação de que a família acuada no vídeo teria debochado da tragédia e dito que o capitão seria o próximo. Um dos meninos era filho dele e o outro era parente.

As mulheres são mãe e filha. Elas e dois rapazes foram levados à sede administrativa para que a situação fosse esclarecida, mas o clima ficou tenso. O capitão Anísio da Silva conversou com a reportagem. Ele afirmou que a jovem estava na área chamada de “retomada”, reivindicada para demarcação e que, quando os seguranças foram buscá-la, houve ameaça de violência e o carro foi atacado.

Já na sede, a situação fugiu do controle quando teria sido dito que todos os familiares dos meninos afogados também morreriam. Até a palavra “macumba” circulou na discussão, segundo o capitão. Muitas pessoas invadiram a sede administrativa e houve confusão generalizada, conforme Anísio.

Ele relatou que interveio para tentar acalmar os ânimos, informação que disse também ter repassado ao delegado de Caarapó, Ciro Carlos Jales Carvalho. Como policiais civis e militares não podem ir à área reivindicada, o capitão afirmou que os chamou à sede e pediu que levassem as mulheres e os dois rapazes, que foram submetidos a exame de corpo de delito. Eles ainda devem ser localizados e ouvidos na delegacia.

O capitão informou que a arma de choque é o instrumento utilizado para conter quem quer cometer violência nas aldeias, já que muitos utilizam facas e foices nas brigas. Disse também que promoveu a reunião na sede para tentar apaziguar os ânimos e não valorizou a versão de que as mulheres torceriam por sua morte. “Sou crente, sou pastor, entrego na mão de Deus”, afirmou.

Violência contra mulheres – O perfil que divulgou a briga na aldeia apontou que o episódio revelava novamente a exposição de mulheres indígenas à violência. Em julho, a reportagem do Campo Grande News mostrou as ações do programa “Fortalecer para Cuidar”, liderado pela 1ª Promotoria de Justiça de Caarapó, com foco na escuta ativa, prevenção e proteção das indígenas. A violência contra mulheres e a gravidez na adolescência são fatores que preocupam as autoridades, com indicativos de subnotificação. A iniciativa leva encontros à comunidade para falar sobre violência psicológica, matrimonial e sexual, apostando na informação como ferramenta para reverter o cenário.