Carne e mandioca, a vida do guarani de P.Porã em 1.900
Os brasileiros de P.Porã queixavam-se insistentemente da alimentação. Os guaranis ordinariamente só comiam carne e mandioca aferventada. Eventualmente, usavam o milho cozido, que tem o nome de “locro”. E era só. Raramente usavam o sal, mas abusavam da gordura do gado. Era pouco usual entre eles a farinha de mandioca. Da mandioca o único derivado que conheciam era a chipa, feita com muita gordura e queijo. Nos dias frios tomavam chimarrão e nas estações quentes bebiam a cada instante o tereré. Acreditavam que o tereré não podia ser bebido quando se come carne de porco e jamais misturado com o suco de lima, era morte certa, diziam eles. Pouco usavam ovos, também não mostravam interesse pela carne de caça.
Poucas noções de higiene.
Bebiam água de qualquer poço ou rio. Não lhes repugnava a água de um charco. Nas reuniões, serviam-se de um só copo, sem constrangimentos, e usavam (e continuam) em comum a bomba do tereré. Não tinham noções de micróbios (hoje tem?). As crianças viviam junto com pessoas que tinham tuberculose ou hanseníase. Por outro lado, não bebiam água durante as refeições, ferviam a água usada na cozinha constantemente e os banhos eram frequentes. Tinham um hábito estranho na hora do banho. Antes de entrar na água, diziam “pelo sinal” e tomavam um gole de pinga.
Estilo gaúcho nas vestimentas.
A chegada de milhares de gaúchos na região de Ponta Porã ensejou um tipo de vestimenta até então desconhecido naquelas paragens. A bombacha, paletó, pala, lenço no pescoço, chapéu “cowboy” e as botas se tornaram a vestimenta ordinária de todos guaranis ou brasileiros. O homem que não se apresentava assim, estava nú. A exceção era o uso durante alguns trabalhos do “chiripá”, pedaço de pano, em geral azul-marinho, na forma de uma sunga longa que fazia o papel de calça. Esse nome é originário da tribo distante dos “avá chiripá”, do Uruguai.
Vestido de seda e descalça.
A mulher guarani, descrita como “graciosa” nos documentos históricos, procurava esmerar-se em seus trajes. Apresentavam-se com elegância, vestidas de seda e cobertas de joias. Contrastando com essa elegância, não usavam quaisquer calçados, sempre descalças. E eram elas que enrolavam os charutos que todos fumavam. Quase todas usavam cabelos compridos, arrumados em tranças.
A construção mais cara do Brasil.
A região era rica em madeiras de primeira. A peroba, o cedro, a piúva, a aroeira e inúmeras madeiras nobres, eram abundantes. Mas as portas, janelas, forros e pisos sempre saiam de C.Grande ou de S.Paulo. O frete era caríssimo. A telha, ainda que fosse a tipo portuguesa, de péssima qualidade porque filtra a água, era a mais cara que havia no país. O tijolo também era muito caro. Assim, as casas eram comumente cobertas de tabuinhas ou de zinco.
Não andavam a pé.
Excelentes domadores de cavalos, homens e mulheres só a contragosto venciam pequeníssimas distancias a pé. O guarani não dava um passo no trabalho com o gado sem que estivesse montado em um bom cavalo. O próprio gado, pelo costume, não atendia ao grito do guarani a pé. Só era possível levá-lo ao curral ou a um mangueiro se o guarani estivesse montado. A exceção era o deslocamento para as festas, quando andavam a pé até por longas distancias.
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