ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  23    CAMPO GRANDE 21º

Direto das Ruas

Funcionários reclamam de condições trabalhistas em obra da Suzano

Relatos ouvidos pela reportagem são de falta de reajuste na remuneração e até comida estragada

Guilherme Correia | 23/02/2022 11:55
Funcionários mobilizados em frente ao local da obra. (Foto: Direto das Ruas)
Funcionários mobilizados em frente ao local da obra. (Foto: Direto das Ruas)

Funcionários contratados pela construtora Tucumann Engenharia e Empreendimentos reclamam das condições de trabalho para construção da fábrica da Suzano Celulose em Ribas do Rio Pardo, município a 98 quilômetros de Campo Grande.

Por meio do canal Direto das Ruas, trabalhadores afirmam que a empresa - maior produtora de celulose do mundo - e a Tucumann, envolvida no projeto, têm dificultado até mesmo a votação para definir a nova direção do sindicato.

Segundo um motorista, de 28 anos, que preferiu não se identificar, eles se encontrariam na entrada do local, mas o ônibus passou direto. “Não estão deixando o trabalhador sair para a portaria para poder votar. O pessoal está indignado. A obra está parada, não deixaram os peões voltar para trocar de sindicato.”

Em novembro do ano passado, o Campo Grande News já havia reportado as dificuldades que os funcionários relataram. Naquele momento, a Suzano informou que a responsabilidade trabalhista era da empreiteira - esta que afirmou que avaliaria as reivindicações.

À reportagem, o funcionário explicou que centenas de funcionários, em meio a mais de 1,2 mil empregados, reclamam das condições.

“A votação era para trocar de sindicato, eles estavam na portaria e era para ter parado. Eles pegaram o ônibus, não pararam lá e passou direto, fechou o portão e deixou o sindicato para o lado de fora. Falaram que não era para ninguém sair e quem saísse iria ter as sanções.”

Segundo ele, o vale-alimentação é de aproximadamente R$ 200, valor inferior ao que é pago em outras filiais da Tucumann, de quase R$ 600.

No Brasil, o preço médio da cesta básica é superior a R$ 507 e chega a ultrapassar a cada dos R$ 700, de acordo com pesquisa realizada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em janeiro, em 17 capitais.

Em vídeos encaminhados ao Campo Grande News, responsáveis pela empreiteira e pela fábrica tentam acalmar os ânimos dos trabalhadores. Um encarregado comenta que houve presença da polícia no local, mas que não foram acionados por ele.

“Eu não chamei a polícia, para deixar claro. Eu acho justo que vocês estejam assim, nervosos. Vou pedir para o outro sindicato entrar aqui hoje [...] foi só para evitar transtorno na rodovia. Aquela entrada não comporta, a entrada da obra não comporta parar todo mundo ali. Não é só a Tucumann que trabalha ali.”

De acordo com a Polícia Militar, agentes foram até o local para coibir aglomerações - proibidas por decreto municipal publicado ontem, a fim de evitar infecções por coronavírus. "Foi recebido diversas informações de que havia alguns trabalhadores ligados a obra querendo realizar o ato programado, com ameaças de até fazerem o bloqueio da BR 262 impedindo seu tráfego."

"Diante das suspeitas, a Polícia Militar mobilizou forças, bem como parceria da PRF [Polícia Rodoviária Federal] e houve uma ação preventiva em conjunto das forças de segurança no intuito de impedir qualquer ato ilegal no local [...] foi empregado medidas com intermédio e apoio da Suzano, que possibilitou que até o presente momento não houvesse no local nenhum ato ilegal, violento ou manifestação que trouxesse danos ou fechamento da rodovia."

Outras reclamações vão além da questão salarial e se referem às condições básicas, tais como o alojamento - que por vezes, fica sem água ou energia elétrica, segundo os funcionários -, ou até mesmo a alimentação.

“Melhoria na alimentação, no alojamento. [Está] acabando água, acabando energia direto. A comida da janta é requentada do almoço. Vem daquele jeito a janta, só dá uma 'mudadinha' no almoço, mas janta tá vindo a mesma coisa [...] estão 'zuando', carne vem com gosto estranho, cheiro estranho. Arroz azedo, feijão azedo, comida estragada", diz o funcionário.

Trabalhadores em conversa com representante da Tucumman, nesta manhã. (Foto: Direto das Ruas)
Trabalhadores em conversa com representante da Tucumman, nesta manhã. (Foto: Direto das Ruas)

Reivindicações - Ao Campo Grande News, a Tucumann Engenharia e Empreendimentos ressalta que, na manhã de hoje (23), cerca de 10% dos seus colaboradores iniciaram um movimento de paralisação e apresentaram uma pauta de reivindicações.

Além disso, a empresa afirma que o movimento é ilegal, “visto que não foram cumpridos nenhum dos requisitos legais necessários”.

“A empresa informa ainda que segue rigorosamente a convenção coletiva da categoria, bem como todas as normas e exigências de saúde e de segurança dentro do canteiro de obras e também em seus alojamentos.”

Um abaixo assinado que a reportagem teve acesso indica que quase 120 funcionários - das mais diversas áreas - assinaram pelas melhorias. O documento também exige intervenção por parte do MPT (Ministério Público do Trabalho).

"Nós trabalhadores na obra da fábrica de celulose da Suzano na cidade de Ribas do Rio Pardo-MS, exigimos a presença do Ministério Público do Trabalho para fazermos uma mediação com a empresa Tucumann e contratadas na busca de ser atendidas as reivindicações."

De acordo com o MPT, pedido de mediação foi protocolado pela Tucumann na noite de ontem (23) e ainda será apreciado. O órgão também informa à reportagem que não legalizou o movimento de paralisação.

No documento, os trabalhadores pedem "correção dos endereços dos trabalhadores que residem fora da cidade e estado e foram registrados com endereço local para burlar o direito de baixada", além de "regularização das horas extras não pagas corretamente" e "melhoria de alojamento e alimentação".

Procurada, a Suzano reitera que empregados da construtora iniciaram movimento de paralisação de atividades, o que está é tratado diretamente pela Tucumann. "As demais empresas e colaboradores que atuam na construção de sua nova fábrica em Ribas do Rio Pardo seguem normalmente com suas atividades."

Tucumann afirma que movimentação de trabalhadores, nesta manhã, foi ilegal. (Foto: Direto das Ruas)
Tucumann afirma que movimentação de trabalhadores, nesta manhã, foi ilegal. (Foto: Direto das Ruas)

(*) Matéria editada às 12h45 para acréscimo de informações.

Nos siga no Google Notícias