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Artes

Exposição de arte traz discussões da filosofia à metafísica e até feminicídio

Obras que foram TCC em curso de Artes Visuais provocam reflexão sobre o mundo

Gustavo Maia | 15/12/2018 08:15
Exposição é aberta ao público até o último dia de janeiro. (Foto: Gustavo Maia)
Exposição é aberta ao público até o último dia de janeiro. (Foto: Gustavo Maia)

Como transformar um “não lugar” em arte? Como perceber o que é invisível no dia a dia? Como dar três dimensões às fotografias? Como denunciar os números do feminicídio no Brasil por meio de uma instalação artística? As perguntas são bem distintas, mas um grupo recém-graduado de artistas visuais pela UFMS reuniu todas as respostas como trabalhos de conclusão de curso, criando exposição no Centro Cultural José Octávio Guizzo.

Aberta à visitação até 31 de janeiro, a exposição Diversidades Condensadas reúne as obras das artistas Camila Calolinda, Carolina Castro, Deborah Nazareth, Lila Borges, Maria Chiang, Gabriella Oshiro e Natália Mota; e dos artistas Alex Alonso e Lucas Braz.

Para quem já curte artes visuais em suas diversas formas e suportes, a exposição traz várias linguagens - desde o desenho e a pintura, à instalação e escultura. Tem arte para todos os gostos. E para quem nunca visitou uma exposição, a dica é: se deixe levar pelas sensações e pensamentos que lhe vierem à cabeça. Mas esteja atento, às vezes, o segredo para captar a mensagem transmitida pelo artista está em perceber os detalhes.

Fotos são frames de videopoema de Carolina Castro. (Foto: Gustavo Maia)
Fotos são frames de videopoema de Carolina Castro. (Foto: Gustavo Maia)

Carolina Castro expõe fotos que são, na realidade, recortes de videopoema que você só vai conseguir assistir se acessar o código QR ou os links que ela disponibilizou ao lado de suas obras. O vídeo-poema é o formato em que um ator ou uma atriz, que no caso foi um amigo que topou o desafio, interpreta poemas de uma maneira performática. Escritos por ela mesma, os textos expressam as inquietudes do ser e suas questões filosóficas diante do mundo que o cerca.

Com um autorretrato, pintado em camadas recortadas de vidro, o artista Alex Alonso propõe uma reflexão sobre o que consideramos ser nossa identidade e como a construímos baseados nas nossas experiências e sentimentos. “Ninguém nasce pronto. A gente vai se construindo a partir da percepção das coisas, do mundo ao nosso redor. Mas pra incluir essas percepções da realidade na nossa identidade, antes nós precisamos entender essas sensações, por isso é preciso essa reflexão”, explica.

A fotografia ganhou forma tridimensional nas mãos da arquiteta Deborah Nazareth que, com a ajuda de programas como o SketchUp e o AutoCAD, transformou suas fotos em esculturas. Ela relata que por conta da sua formação anterior, em Arquitetura, já tem um olhar atento às formas e aos materiais das coisas, e essa foi sua influência para produzir suas obras, que mostram o ciclo da transformação de um objeto em outro, através da arte.

O trabalho de Camila Calolinda resgata o valor das coisas tidas como insignificantes, desimportantes. Ela aborda o conceito de ‘não lugar’, elaborado pelo antropólogo Marc Augé, que define lugares transitórios e sem um pertencimento, como é o caso de uma rodoviária ou aeroporto - locais por onde as pessoas apenas passam, sem de fato estabelecerem uma conexão com esses espaços. E foi justamente nesses lugares que ela, que deixou a família em São Paulo para estudar em Campo Grande, começou a enxergar elementos que apesar de estarem sempre nos mesmos lugares, são completamente ignorados pelas pessoas, como se fossem invisíveis ou nem existissem. “As pessoas passam todo dia por ali e não olham, não enxergam as coisas. É isso que eu chamo de lugares transparentes”.

Espaço tem pinturas, desenhos, esculturas, fotografias e instalação. (Foto: Gustavo Maia)
Espaço tem pinturas, desenhos, esculturas, fotografias e instalação. (Foto: Gustavo Maia)

Mas a arte não é apenas abstração e reflexão, é também denúncia e provocação. E esse é exatamente o propósito da instalação Raízes que Matam, da artista Lila Borges. Ela reuniu as técnicas pintura aquarela e instalação para representar o que ela define como “a última instância da violência sofrida diariamente pelas mulheres”: o feminicídio.

Com tecidos brancos manchados de vermelho que parecem criar raízes no chão, ela mostra como alguns conceitos e costumes estão fortemente enraizados em nossa cultura e como isso afeta, diariamente, a vida de milhares de mulheres no mundo.

Obra é autorretrato de Alex Alonso em "camadas de existência". (Foto: Gustavo Maia)
Obra é autorretrato de Alex Alonso em "camadas de existência". (Foto: Gustavo Maia)
Fotografias são transformadas em objetos 3D com a ajuda de softwares. (Foto: Gustavo Maia)
Fotografias são transformadas em objetos 3D com a ajuda de softwares. (Foto: Gustavo Maia)
Artista registrou em caderninho tudo que existe mas não é visto. (Foto: Gustavo Maia)
Artista registrou em caderninho tudo que existe mas não é visto. (Foto: Gustavo Maia)
Na obra de Maria Chiang é possível ouvir gravação produzida durante sua imersão nos mundos Guarani e Kaiowá. (Foto: Gustavo Maia)
Na obra de Maria Chiang é possível ouvir gravação produzida durante sua imersão nos mundos Guarani e Kaiowá. (Foto: Gustavo Maia)

O Centro Cultural José Octávio Guizzo fica na Rua 26 de Agosto, 453; e funciona de terça a sexta, das 8h às 22h.

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