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Comportamento

Conhecido como Rei do Cabreúva, Calépes é famoso tocando bar há 50 anos

Thaís Pimenta | 21/08/2018 07:52
No sua poltrona de rei, Calépes recebe a todos os clientes com um sorriso no rosto. (Foto: Thaís Pimenta)
No sua poltrona de rei, Calépes recebe a todos os clientes com um sorriso no rosto. (Foto: Thaís Pimenta)

O Bar e Mercearia Calépes é uma das melhores partes dos 50 anos da vida de Miguel Calépes. Prestes a completar 84, ele segue firme a frente do espaço no bairro Cabreúva. A passos lentos, característicos de uma pessoa que já andou por muitos caminhos, é que ele recebe quem entra no bar com sorriso tranquilo no rosto.

A placa ao lado do caixa já avisa: "Super Promoção, peça 1 fiado e ganhe 2 nãos", deixando bem claro que não é porque Calépes tem um jeitão simpático que não precisa ganhar dinheiro.

Na Rua Santos Dummont, próximo a Orla Morena, ele se instalou. Mas quando se mudou para o bairro, para constituir família com a falecida esposa, Maria, escolheu uma rua paralela à Orla, um pouco mais próxima da Ernesto Geisel. A mudança para o ponto atual aconteceu há 40 anos. Ali, construiu a casa e, ao lado, o segundo endereço do bar.

Por estar há tantos anos no mesmo cantinho, Calépes recebeu o simpático apelido de Rei do Cabreúva, dado por um desenhista, vizinho durante anos do barzinho. "Ele chegou em casa e me deu um desenho dele. Na ilustração ele me desenhou como um rei de ouros do baralho e justificou com o apelido", diz o simpático rei da região, que guardou em um lugar especial, no balcão do bar, o desenho, devidamente emoldurado.

Pinga saborizada é especialidade de Calépes, que a serve num relíquia, a garrafa que hoje já nem é mais fabricada. (Foto: Thaís Pimenta)
Pinga saborizada é especialidade de Calépes, que a serve num relíquia, a garrafa que hoje já nem é mais fabricada. (Foto: Thaís Pimenta)

Amigo do ex-prefeito Levy Dias, ele diz que teve de intervir nos tempos em que o Cabreúva era um grande buraco, cheio de lama, na cidade. O antigo cenário hoje parece inimaginável aos mais jovens e Calépes diz que contou com a ajuda dos amigos políticos para, pouco a pouco, trazer o básico para o bairro.

"O povo do centro não vinha pra cá por causa do córrego. Eu pedi pro Levy o asfalto e ele me deu, assim como a água encanada e a luz nos postes. Aí mudou a administração para o Juvêncio  e eu pedi uma escola para o bairro. Ele teimou comigo que o terreno que eu indicava não era da Prefeitura, mas mandou um engenheiro me acompanhar e confirmou minha afirmação. Depois montou a escola pra gente", comenta.

Foi ali onde o cantinho que escolheu para criar seus três filhos, Roberto, Rosana e Ronaldo. Por ter tratado todos sempre bem, os vizinhos conhecidos passam buzinando e acenando a seu Miguel. "Na verdade até gente que não conheço me cumprimenta quando eu estou aqui no portão".

Mesa de sinuca é novidade, e fica no centro do bar, no bairro Cabreúva. (Foto: Thaís Pimenta)
Mesa de sinuca é novidade, e fica no centro do bar, no bairro Cabreúva. (Foto: Thaís Pimenta)
Imagem do rei foi desenhada por um vizinho e muito amigo de Calépes. (Foto: Thaís Pimenta)
Imagem do rei foi desenhada por um vizinho e muito amigo de Calépes. (Foto: Thaís Pimenta)
Corintiano, ele faz questão de mostrar sua torcida nos objetos dispostos pelo bar. (Foto: Thaís Pimenta)
Corintiano, ele faz questão de mostrar sua torcida nos objetos dispostos pelo bar. (Foto: Thaís Pimenta)

Mesmo a frente do bar, já são 30 anos sem fumar cigarro e 20 sem tomar uma gota de álcool. Depois de quebrar uma promessa feita a Nossa Senhora Aparecida, em que havia jurado nunca mais beber, ele teve uma experiência de quase morte.

"Fui parar no hospital e tudo. E na hora eu comecei a procurar entender porque tinha chegado naquele ponto. Me lembrei que há 4 meses tinha feito a promessa. Pedi perdão a Ela e falei 'isso mesmo, pode judiar direito de mim'". Depois do livramento, ele acordou 100% no dia seguinte no quarto do hospital, e desde então, já foi um longo tempo de promessa comprida!

Não beber não o impede de produzir a pinga mais famosa do Cabreúva, feita com casca de laranja, cravo e canela. "Ela é cheirosa. Passa o cheiro do álcool e fica só o docinho". Além dela, Miguel tem outra receita guardada a sete chaves: ele produz um remédio caseiro, natural, para as pernas. "Esse eu não vendo e não cobro, é dado".

Muito fiel à Nossa Senhora, ele diz que o "milagroso" remédio conta com a benção de Nossa Senhora. "Ela já apareceu duas vezes pra mim. Em frente ao portão, o bar estava cheio, e só eu a vi", diz ele, emocionado.

Receita do tempero do frango também é dele, e faz um sucesso danado. (foto: Thaís Pimenta)
Receita do tempero do frango também é dele, e faz um sucesso danado. (foto: Thaís Pimenta)

Depois do falecimento de sua grande parceira de vida, a quem ele se diz ainda apaixonado, seu filho mais novo passou a ajudar no bar. É Ronaldo quem comanda a cozinha, com lanches e porções criadas por ele. "Isso daí não tinha antes no bar. Era só bebida, mas o pessoal gosta bastante".

Aos domingos, ele serve churrasco e frango assado. A receita do tempero da ave, como não poderia deixar de ser, é de seu Calépes, e ele garante que o tal do frango faz um sucesso danado. "Veio um japonês comprar comigo no domingo e na segunda ele voltou perguntando se eu ainda tinha porque sua filha, que mora em São Paulo e estava passando férias aqui disse que nunca tinha comido um frango tão bom que nem o meu".

As relíquias espalhadas pelo barzinho deixam claro que ali tem história para se ouvir. O local onde ele armazena sua pinga é uma antiga garrafa da Coca-Cola de 1,5 L, de vidro, que não é mais fabricada. As próprias mesas no interior do bar são do primeiro ponto da mercearia, que antes se chamava Beco's.  Só a TV, a mesa de sinuca, e a cozinha do filho foram aquisições novas no barzinho.

Por conta da simpatia e por ser bom de prosa foi que Fernando Cruz, responsável pelo evento Sarobá, escolheu fazer sua próxima edição no bar de Calépes. A festa acontece às 15h, com entrada gratuita, neste sábado (25). Para saber mais acesse o link.

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