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Comportamento

Cris resolveu criar canal de sexo em Campo Grande, apesar do medo do machismo

Mariana Lopes | 09/09/2017 07:15
Depois da repercussão, Cris passou a entender a importância do feminismo (Foto: André Bittar)
Depois da repercussão, Cris passou a entender a importância do feminismo (Foto: André Bittar)

Falar sobre sexo, por mais natural que seja, ainda é um tabu e gera diversos tipos de preconceito e julgamentos. Cristina Gasparetto sentiu isso na pele quando se propôs a criar um canal no Youtube para abranger o assunto. De assédio virtual a mudança no tratamento de pessoas próximas, ela esbarrou na realidade de uma sociedade que ainda não está preparada para ver uma mulher exercer o direito à liberdade de se expressar e abordar o assunto que lhe convir.

Cristina tem 33 anos, é formada em Design, pós-graduada em Design de Interiores, trabalhou na área de Marketing, até que se viu desempregada e sem perspectiva para continuar no mercado formal. Foi quando o marido dela, o músico Ricardo Tavares, 32 anos, sugeriu que ela investisse em um novo negócio: venda de produtos eróticos. Ela topou o desafio de um trabalho como outro qualquer, mas nem por um momento imaginou os problemas que enfrentaria.

Enquanto vendedora, ela acabou assumindo também o papel de terapeuta das clientes. "Eu atendia em domicílio, o que acabava criando uma proximidade com as pessoas, e minhas clientes começaram a desabafar comigo situação pessoais, já ouvi de tudo", conta Cris.

Por causa dessas situações, ela foi atrás de cursos sobre sexualidade, pois queria se sentir melhor preparada para tratar do assunto principalmente com as mulheres e passar informações verdadeiras e coerentes. Com o tempo, ela foi ganhando mais credibilidade e confiança, que as próprias clientes a incentivaram a criar o canal no Youtube para falar sobre sexo, dar dicas, conselhos.

Mais um vez apoiada pelo marido e pela família, ela tratou a ideia como um feedback positivo do espaço que conquistou com suas clientes. Preparou os conteúdos e encarou a gravação dos conteúdos. "Nunca imaginei que sofreria qualquer tipo de assédio ou desrespeito, fiquei muito chocada quando comecei a ver mensagens chegando e até com medo de sair de casa", conta cris.

E as mensagens chegaram logo nos primeiros vídeos postados. E não pararam mais. Vale ressaltar que 100% dos textos de assédio, desrespeito, preconceito e julgamento eram escritos por homens. "Tive muitas mensagens bacanas, carinhosas e até de pessoas contando como meus vídeos as ajudaram de alguma forma".

Hoje, Cris criou nova profissão: colorista de vida (Foto: André Bittar)
Hoje, Cris criou nova profissão: colorista de vida (Foto: André Bittar)
Ricardo foi o maior incentivador de Cris (Foto: André Bittar)
Ricardo foi o maior incentivador de Cris (Foto: André Bittar)

Mas para quem sabe fazer do limão uma boa limonada, a experiência dos vídeos abriu portas para outras realidades e fez Cristina enxergar novas possibilidades. A primeira questão que ela pontua é o feminismo. "Não me considerava feminista, até passar a ver a luta do feminismo nas histórias das minhas clientes e perceber o quanto ainda existem mulheres que sofrem caladas, que são praticamente estupradas pelos próprios maridos, que nunca tiveram realmente prazer em suas relações, ver o quanto há mulheres infelizes, mas conformadas porque as fizeram acreditar que era só isso que elas podiam ter na vida. E o que mais me espantou foi ver que isso acontece, na maioria das vezes, com mulheres da minha idade, da minha geração", conta Cris.

Desde então, ela entrou na luta do empoderamento da mulher, para devolver o brilho, a autoestima, a autoconfiança. Hoje, Cristina conclui o curso de Terapia Holística e criou a própria profissão: colorista de vida.

Ela simplesmente resolveu não alimentar o machismo que corrói a sociedade. Ela escolheu o caminho de colorir a vida de quem realmente deseja viver em um mundo melhor, seja com um relacionamento mais saudável e com sentimentos recíprocos e respeitosos, seja com os sonhos que precisam sair do papel, seja com as pazes que muitas vezes precisamos fazer com nós mesmos.

Sobre o assédio, preconceito, falta de respeito e tantos outros fatores que a levaram a mudar os rumos do canal no Youtube, a defesa de Cris vem do marido. "O mundo ainda não está pronto para as mulheres... E isso é uma pena".

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