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Comportamento

Há um ano na África, casal fala sobre doação, preconceito e aprendizado

Mariana Lopes | 02/09/2017 07:05
Por viver momentos como este, o casal garante que o povo de Guiné é alegre e acolhedor
Por viver momentos como este, o casal garante que o povo de Guiné é alegre e acolhedor

Dois corações sonhadores e cheios de fé, transbordando amor ao próximo e vontade de fazer a diferença no mundo. Aquele velho discurso do comodismo passou longe da vida do casal Leandro Morilha, 30 anos, e Pérola Assis, 29. Há quase um ano, os dois largaram tudo para encarar uma missão religiosa em Guiné Bissau, na África. Desde então, começaram uma trajetória que nem mesmo eles tinham noção de como seria. E hoje, garantem que o que não faltará na bagagem de volta para o Brasil é aprendizado.

A princípio, o casal embarcou em outro continente com o missão de evangelizar e também de compartilhar conhecimento profissional. Leandro é engenheiro ambiental e Pérola é advogada. Os dois trabalham na gestão de oito projetos do Caritas de Bafatá, que é o órgão de ação caritativa da Igreja Católica no mundo. Juntos com mais 26 trabalhadores, estão construindo a primeira escola agrícola da Guiné Bissau.

Entre os projetos, Leandro também destaca o trabalho em duas Casas das Mães, que é o local que acolhe mulheres com gravidez de risco. E há ainda o grupo que atua na conscientização às mães com os cuidados do pré-natal. Além de outros trabalhos como apoio na melhoria genética de sementes para aumentar a produção agrícola, gerenciamento de grupos de micro finanças, nos quais ensinam as pessoas a poupar dinheiro e emprestar entre si como um banco comunitário (público alvo de 4000 pessoas).

"Neste um ano, conseguimos entender o plano de Deus para nós aqui. Apesar do chamado ser para a evangelização, e isto fazemos com o testemunho diário seja na África ou no Brasil, a necessidade do país é tanta que não conseguimos estar aqui somente para sair falando de Deus a quem encontrarmos na frente, o chamado também é para doar nosso conhecimento, nossa experiência profissional, a compaixão com o próximo e nossa vida como casal", relata Leandro.

Mas além das experiências profissionais, o choque cultural e social fez com que os dois parassem para refletir a importância da vida. "É um desafio, porque aqui a morte é muito presente e normal. Trabalhamos junto com outras 28 pessoas, e nestes 10 meses todos já perderam um familiar", lamenta o brasileiro.

Por outro lado, eles afirmam que, apesar das dificuldades, o povo da Guiné é muito lutador, predominantemente alegre e acolhedor. "A terra é muito fértil, mas o sofrimento do povo vem de anos de uma política corrupta, desde a recente libertação de Portugal em 1974", explica.

E por incrível que pareça, o casal diz sentir preconceito pela cor da pele. Mas os dois afirmam que aprenderam a levar os comentários na esportiva. "Quando estamos andando, as crianças chamam 'branco, branco' e tudo vira festa com eles. Mas quando alguém mais velho faz a mesma brincadeira, já é com um tom pejorativo e com um olhar que nos lembra que não estamos em casa. Nossa resposta vem na aproximação, em uma brincadeira como: "ma abo i branku tan djubi bu mon bas, i branku" (Mas você é branco também, veja a palma da sua mão, é branca) e continuamos o caminho sorrindo", conta Leandro.

Sobre tudo o que passaram e o que sabem que ainda passarão, Leandro e Pérola garantem que é uma grande experiência espiritual, emocional e corporal. "Nosso corpo não está preparado para a África. Sabemos que nestes 36 meses viveremos 80 anos, aprendendo e ensinando, e isto qualquer um pode fazer em retribuição à vida gratuita que ganhamos, basta sair de si e ir", motiva o engenheiro.

Com conhecimento profissional, Leandro e Perola auxiliam oito projetos em Guiné Bissau (foto: arquivo pessoal)
Com conhecimento profissional, Leandro e Perola auxiliam oito projetos em Guiné Bissau (foto: arquivo pessoal)

Arrumando as malas - Vamos voltar ao começo de tudo para entender como Pérola e Leandro foram parar em outro continente. Tudo começou em abril de 2016, quando o casal passou a questionar o sentido da caminhada cristã deles. Foi, então, que surgiu a ideia da missão.

Mas para os planos saírem do papel, em agosto do ano passado, Pérola e Leandro fizeram um curso voltado a missionários, em Brasília, onde foram apresentados a Dom Pedro Zili, brasileiro e bispo de Guiné Bissau, que os convidou para a missão na África. As passagens de ida e volta foram conseguidas com o apoio da comunidade e das crianças da catequese da Paróquia São João Bosco, onde o casal participava.

De malas prontas, os dois saíram de Campo Grande em outubro e desembarcaram em Bafatá, cidade localizada no centro de Guiné Bissau. Aqui na capital sul-matogrossense, deixaram famílias, amigos, empregos, venderam o carro e protelaram os planos de comprar uma casa. Tudo por um ideal que acreditavam.

"Como viemos a convite do próprio bispo de Bafatá, ele garante o nosso sustento, com a casa e alimentação basicamente. Não temos outro gasto, afinal não há muitas opções de compras", revela Leandro. O campo-grandense explica que na cidade a energia é de painel solar e a água é retirada de poço. "Normalmente os missionários vêm com projetos diocesanos, as paróquias brasileiras enviam o sustento, mas em Mato Grosso do Sul não tem este projeto, iniciará agora com nossa vinda".

Quase um ano depois, eles partilham a própria história provando que Deus não inspira sonhos que sejam capazes de serem realizados. O retorno ao Brasil está previsto para outubro de 2019. Até lá, Pérola e Leandro aidna devem guardar na bagagem muita experiência boa e aprendizados para a vida toda.

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Troca de experiência com os moradores de Bafatá garantem uma bagagem cheia quando voltarem ao Brasil
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