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Comportamento

Médicos disseram que Eduardo seria uma "plantinha", mas hoje joga até futebol

Thailla Torres | 16/11/2016 07:46
Eduardo sempre foi motivo de sorriso para as três pessoas mais importantes da sua vida. (Foto: Thailla Torres)
Eduardo sempre foi motivo de sorriso para as três pessoas mais importantes da sua vida. (Foto: Thailla Torres)

Há 10 anos, quando Eliane foi mãe do segundo filho, o amor incondicional dividiu lugar com a insegurança sobre a vida do bebê. Soube que Eduardo teve paralisia cerebral e ali surgiu uma força que a mãe nem imaginava ter.

"Eu fiquei sem chão. Eu já era mãe de uma menina, que já estava andando e correndo. Quando me disseram que eu teria que mudar minha vida e que ele não andaria, não aceitei ouvir aquilo do meu filho", desabafa hoje a técnica em enfermagem e manicure Eliane Araújo da Silva, de 30 anos. 

Eduardo Henrique nasceu prematuro e desde os primeiros dias de vida, o médico disse a Eliane que ele seria uma criança com certa dificuldade no desenvolvimento. A desconfiança de que algo estava muito errado com o filho, veio aos seis meses. "Fui percebendo uma diferença. Ele não era uma criança normal. Respondia pouco aos estímulos, quando eu colocava ele na cama, nunca se mexia. Resolvi levar no pediatra e sugeri ir a um neurologista", lembra. 

Foi no Hospital Universitário que o bebê foi diagnosticado com a paralisia cerebral. Apesar do choque, naquele momento, Eliane recorda que viu no diagnóstico um motivo a mais para continuar lutando, mesmo quando as dificuldades já faziam parte da rotina.

Eduardo, com sorriso lindo, foi o presente que veio ao mundo como maior alegria da família. (Foto: Thailla Torres)
Eduardo, com sorriso lindo, foi o presente que veio ao mundo como maior alegria da família. (Foto: Thailla Torres)

"Eu ainda trabalhava como empregada doméstica, mas tive que parar tudo e ir em busca de tratamento. Não aceitei ouvir que ele não andaria e nem teria uma vida normal. Coloquei na cabeça que só eu podia fazer algo por ele".

Segundo os médicos, Eduardo não teria condições de andar e nem falar. "Disseram que ele seria uma plantinha, sem expectativas. Mesmo quando o médico não soube dizer se a paralisia era grave ou moderada", lembra Eliane.

Na cabeça da mãe, era difícil compreender os motivos que levariam o filho a ter uma vida limitada. Nos meses que seguiram, a dedicação e o esforço para a mudar a realidade do filho só aumentaram. "Eu não tinha conhecimento, tinha dificuldade de ir atrás de tratamento e eu buscava por pessoas que pudessem me orientar do jeito certo. Mostrar um caminho", conta.

Persistente, Eliane batalhou para ver o sorriso do filho, comemorando os primeiros avanços. "Lembro que a médica disse que eu não podia esperar muita coisa. Mas comecei correr atrás porque eu sabia que não podia desistir dele, sabia do potencial e que ele conseguiria andar um dia". 

Hoje, Eduardo sorri o tempo todo, principalmente quando corre pela casa brincando com a bola de futebol, um dos brinquedos preferidos, além do tablet com joguinhos. No olhar da mãe e da irmã Milena Cristina, de 13 anos, está o orgulho e a emoção ao ver de perto todos os avanços. 

"É a coisa mais emocionante. Acho que é o amor incondicional e esse sorriso dele é que mantém a gente unido", diz Eliane, sendo interrompida pelo carinho da filha que não larga as mãozinhas do irmão. "Mãe ele é mesmo o nosso xodó", lembra Milena.

Alegria de Eduardo é estar ao lado das mulheres guerreiras e cheias de amor pela família. (Foto: Thailla Torres)
Alegria de Eduardo é estar ao lado das mulheres guerreiras e cheias de amor pela família. (Foto: Thailla Torres)

O sorriso lindo de Eduardo foi a razão de toda persistência. "As primeiras palavras foram aos 3 anos de idade. Cada vez que ele falava, evoluía, a gente comemorava", sorri.

Por conta do diagnóstico de paralisia, Eliane se viu em um desafio quando precisou acompanhar de perto o tratamento do filho. A falta de conhecimento no assunto, foi motivo para ela decidir dar uma guinada na vida.

"Depois de um tempo eu comecei a trabalhar como babá na casa de uma residente em Pediatria. Foi a minha patroa que me deu suporte para fazer coisas que eu achava que não seria capaz", lembra.

Capaz de muitas coisas, com cinco anos veio a maior surpresa desde o diagnóstico dos médicos. No dia do aniversário de Eliane, ela viu o filho andar pela primeira vez. "Ele chegou da escola trazendo um presentinho pra mim, era uma florzinha e quando eu vi ele estava caminhando quando desceu do ônibus escolar. Ele já estava no desenvolvimento, engatinhava com a barriga. Mas olha, quando vi ele andando, foi de arrepiar", diz emocionada.

Hoje Eduardo está com 10 anos. É um menino esperto e cheio de alegria. Fala, anda, brinca, come sozinho e já soletra o alfabeto. Ainda não sabe formar as palavras, mas a leitura vem com o tempo, confia a mãe. "Ele tem dificuldades motoras e de fala. Mas continuo tratando ele como um filho normal. Ele faz artes como qualquer criança da idade dele e aqui em casa não deixo ninguém tratar ele como se tivesse um problema. Segue regras, tem disciplina e cumpre com os horários, assim como a irmã. É claro que a evolução dele é mais lenta, mas isso não impede ele de ter uma vida normal", descreve.

Irmã lembra que Eduardo é o xodó da família. (Foto: Thailla Torres)
Irmã lembra que Eduardo é o xodó da família. (Foto: Thailla Torres)

Eliane fez um curso de Técnica em Enfermagem e hoje atua no Hospital Universitário de Campo Grande. Estudar é o recomeço para mudar a vida do filho e de toda a família. "Uma vez ele precisou ser internado e eu não sabia nada do que estavam fazendo com ele. Não entendia e fui estudar, porque eu sabia que tinha que cuidar dele. Na época, trabalhava, era mãe e ainda fazia o curso".

Eliane admite que o dia a dia não é fácil. Mas a descoberta da paralisia foi a oportunidade para tornar qualquer ser humano ainda melhor. "Isso daqui é só o comecinho da nossa história. Cada dia é uma nova página. Não é fácil mesmo, mas eu nunca pensei em desistir, é só encarar o desafio e seguir em frente", defende.

Para ela, a grande preocupação é com a independência de Eduardo. "Não aceito que chamem meu filho de coitadinho. Porque o que a gente fala, as crianças sentem. E ele não é um coitado, mas sim um guerreiro. Eduardo passou por coisa que muita gente nem imagina e hoje está aí sorrindo. Por isso eu falo para qualquer mãe, tem que acreditar neles, porque ter um filho especial não significa diminuir sua vida, mas todo dia ter um renascer diferente".

Mas ainda tem dias que passa um filme pela cabeça, comenta. "Se eu acreditasse lá atrás que meu filho iria vegetar, eu não teria o Eduardo falando 'eu te amo' pra mim todos os dias. Tem coisa na vida da gente, que não tem uma palavra de médico que tire", ensina.

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"Minha vida não acabou, Eduardo é quem me trouxe uma vida melhor", declara a mãe. (Foto: Thailla Torres)
"Minha vida não acabou, Eduardo é quem me trouxe uma vida melhor", declara a mãe. (Foto: Thailla Torres)
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