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Comportamento

A professora foi além do be-a-bá e ajudou os alunos a terem um novo lar

Paula Maciulevicius | 28/12/2012 07:17
A professora foi além do be-a-bá e ajudou os alunos a terem um novo lar
2012 foi o ano em que uma professora foi além da tarefa de ensinar e mostrou a solidariedade da forma mais didática e humana possível. A ‘profe’ virou ‘mãe’ ao levar dois alunos que perderam o lar para casa. (Foto: Minamar Júnior)
2012 foi o ano em que uma professora foi além da tarefa de ensinar e mostrou a solidariedade da forma mais didática e humana possível. A ‘profe’ virou ‘mãe’ ao levar dois alunos que perderam o lar para casa. (Foto: Minamar Júnior)

A lição da professora foi além da tarefa de casa. Do quadro negro e dos vistos no caderno ela passou a lecionar a solidariedade e em dose dupla. Alexandra Nazário da Cruz, 32 anos, não só explicou o significado da palavra e como escrevê-la. Na prática foi a mestre que ultrapassou o be-a-bá e da sala de aula levou dois alunos para dentro de casa, depois de vê-los dividindo um só cômodo de madeira com quatro irmãos e os pais, no terreno onde um dia fora a casa da família.

Por decisão judicial, a casa no bairro Santa Emília foi demolida em abril. Os 30 dias seguintes desde que a professora encontrou os irmãos gêmeos, na época, com 9 anos, comendo arroz cru, foram de determinação em conseguir uma casa para a família.

Os braços que acolheram os meninos, Henrique e Eric, foram os mesmos que bateram de porta em porta, da Câmara Municipal à Prefeitura e Assistência Social, em busca de um teto para as crianças.

2012 foi o ano em que uma professora foi além da tarefa de ensinar e mostrou a solidariedade da forma mais didática e humana possível. A ‘profe’ virou ‘mãe’, lutou e deu à família uma casa para morar.

Casada, sem filhos biológicos, mas dois de todo coração. Eric e Henrique, nunca deixavam de ir à escola, mas quando já não apareciam há dois dias, a professora foi atrás. A casa onde moravam não existia mais. Os meninos não tinham onde comer e dormir.

Por um mês, entre o trabalho de ensinar, ela dividiu com dona Rose, a mãe das crianças, a responsabilidade de também criá-los. Ela os abrigou dentro de casa.

O esforço era além de ensinar na escola onde dava aulas e o resultado, seria alegria maior do que ver um aluno formando as palavras. Vê-los fazendo a tarefa de casa na própria casa.

Em maio, em pleno Dia das Mães, uma mãe renasceu e outra surgiu pela primeira vez. Alexandra se viu mãe. Dona Rose passou a data com a família num lar. Depois de abrigar os alunos por um mês, a ‘profemãe’ conseguiu, por meio de programas do Governo Federal, uma casa para os alunos no bairro Dom Antônio Barbosa.

Os meninos gêmeos, na época tinham 9 anos. Por um mês eles viveram com a professora até que ela conseguisse uma casa para a família, no Dom Antônio Barbosa. (Foto: João Garrigó)
Os meninos gêmeos, na época tinham 9 anos. Por um mês eles viveram com a professora até que ela conseguisse uma casa para a família, no Dom Antônio Barbosa. (Foto: João Garrigó)
A foto é digna de porta-retrato de família. O casal que foi além dos quatro pratos a mais na mesa. Deu o conforto de um lar a uma família inteira. (Foto: Pedro Peralta)
A foto é digna de porta-retrato de família. O casal que foi além dos quatro pratos a mais na mesa. Deu o conforto de um lar a uma família inteira. (Foto: Pedro Peralta)

No Jardim Azaléia, outra casa abriu a porta para a solidariedade. A mesa de jantar ganhou mais quatro pratos na hora das refeições e nos cômodos, o barulho de crianças correndo. Em junho, o Campo Grande News contou a história de Maria Neusa Guaresi, 46 anos, e Idalvan Alves Martins, 53, exemplos que o jornal gostaria de escrever com mais frequência.

O casal que já não tinha mais filhos em casa deu a volta por cima estendendo mais que a mão. Dando a uma família inteira o conforto de uma casa. Eles adotaram Simone Ferreira Neri, 31 anos e os três filhos dela, quando viram que a família estava prestes a ser posta na rua.

Ele sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e ela, violência doméstica por 20 anos. Quando se encontraram a solidariedade foi somada e quem ganhou com o resultado foi a família de Simone. Ela já trabalhava com Maria Neusa e ao se separar do marido, não tinha escolha a não ser deixar a casa onde morava.

Sem dinheiro para o aluguel, foi em um dia de faxina pelo bairro onde o casal mora que o sorriso da caçulinha, Jhulia, na época com 5 anos, tocou Neusinha, como é conhecida. Sabendo que as crianças não teriam onde ficar, ela pensou, mas o coração falou mais alto, por si só e pela própria razão.

Neusa e Idalvan levaram mãe e filhos para dentro de casa. No peito o sentimento do casal era de missão cumprida e nos olhos, a alegria de ver o lar completo.

Um chip de celular abriu as portas para a solidariedade. Vanessa da Silva, passou fome e frio e foi acolhida por uma família enquanto acompanhava o filho na Santa Casa. (Foto: Simão Nogueira)
Um chip de celular abriu as portas para a solidariedade. Vanessa da Silva, passou fome e frio e foi acolhida por uma família enquanto acompanhava o filho na Santa Casa. (Foto: Simão Nogueira)

Tem situações em que os laços de afeto falam mais forte. Outras em que parece que as pessoas são colocadas na hora certa e no momento certo. Destino ou resposta às orações de um coração aflito. Foi dentro de um hospital, quando uma mãe pedia ajuda para colocar um chip no celular que a mão amiga veio por acaso e de uma total desconhecida.

Vanessa da Silva, 24 anos, chegou em junho a Campo Grande. Acompanhada do filho de 3 anos, ela veio de Bataguassu com R$ 20 na carteira, documentos, nenhuma roupa para si, poucas peças para o menino e um celular, que na pressa, veio sem chip. Os dois vieram de ambulância transferidos do hospital do município para a Santa Casa, depois que um portão caiu em cima do menino.

Ao pedir ajuda para instalar o chip recém-comprado no celular, ela acabou contando para outra mãe o drama que vivia. Fome, frio, sem roupa nem lugar para dormir, muito menos conhecidos que a pudessem ajudar.

A mulher que ouviu os relatos no hospital foi embora. Do outro lado, Vanessa nunca imaginou o que poderia acontecer. Em casa, a mulher contou à sogra, Rose Mara Pereira Decknes Limeiro, na época com 38 anos. A cabeleireira, manicure, depiladora e com a vocação natural para fazer o bem que voltou ao hospital e buscou Vanessa.

Enquanto o menino esteve internado, Vanessa teve a família que precisou emprestada de Rose Mara. A mulher, que levou a desconhecida vinda de fora para dentro de casa.

Três famílias abriram a casa para quem precisou. Escancararam portas, janelas, puseram pratos a mais na mesa, foram além do que se esperava. Abriram o coração para dar amor, para distribuir o bem e compartilharam suas histórias de vida com o Campo Grande News. Personagens de encher os olhos. Pequenos exemplos, que vemos, e escrevemos bem menos do que gostaríamos, mas que marcaram 2012. O ano em que a solidariedade veio das mãos de uma professora, uma cozinheira e uma cabeleireira. Gente que estende a mão sem nada em troca, que deu mais do que tinha a oferecer e não mediu esforços para fazer sorrisos em 2012.

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