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A (Des)Construção da Sociedade

Por Paulo Eduardo de Barros Fonseca (*) | 09/12/2017 09:00

Segundo Rosseau[1], o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Isso porque ao perder sua liberdade natural, o homem busca ganhar a liberdade civil firmando, ainda que tacitamente, um contrato social. Nesse contrato, ao mesmo tempo, o povo é agente ativo e passivo, ou seja, é parte do processo de elaboração das normas e do seu cumprimento, pois compreende que obedecer às leis que escreve para si mesmo é um ato de liberdade, isso enquanto um pacto pautado na alienação da vontade particular como condição de igualdade entre todos.

Quer parecer evidente que o estabelecimento desse pacto enfrentou, enfrenta e enfrentará dificuldades para ser fixado, mas que sempre, em qualquer situação, deve ser orientado por valores que foram e são fundamentais para a estabilidade da sociedade.

A filosofia trata dessa questão ao discutir o conjunto de valores, individuais e coletivos, considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta humana. Como tais valores fornecem o alicerce oculto dos conhecimentos, adquiri-se consciência do certo e do errado a partir da estruturação do mundo moral no íntimo do ser, ou seja, a partir daquilo que estiver fixado na sua consciência, alimentado por idéias e desejos.

No aspecto psicológico, os valores designam o traço de personalidade caracterizado pela tendência que o ser julga determinados objetivos ou ações.
Ocorre que a modificação ou o rompimento do contrato social não pode implicar na quebra e inversão dos valores basilares da sociedade e, em decorrência, gerar fatores de desestabilização e uma grave crise ética.

Aparentemente a sociedade moderna vive e convive com esse paradoxo, talvez pelo evidente afrouxamento dos laços familiares, que forjam a socialização primária com regras e valores básicos importantes para o convívio social.

Com apreensão percebemos que parte da sociedade moderna tem se distanciado dos valores espirituais, deixando se envolver e tentando impor uma realidade meramente materialista. Ora, se dentro do princípio de liberdade, a qual não é absoluta, pois o direito do próximo deve ser respeitado, inclusive para que se busque o constante convívio harmônico, sem intolerância ou discriminação, inimaginável admitir que a quebra de paradigmas, que afetam o contrato social estabelecido, seja imposta.

Dessa maneira, neste momento histórico da humanidade e como artífices da construção de uma sociedade mais equilibrada, os valores da sociedade humana, construídos e sedimentados a partir de um passado coletivo, não devem ser menosprezados, mas examinados sob a ótica do bom senso e respeito, de modo que seja possível reconhecer qual o nosso papel enquanto indivíduo na sociedade, na família e dentro de nós mesmos.

É de se lembrar o alerta do Apóstolo Paulo ao afirmar que “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas coisas convém”[2]

[1] Jean Jacques Rosseau – 1712-1778 – Ribeiro. Paulo Silvino – Rousseau e o contrato social
[2] I Coríntíos 6:12

(*) Paulo Eduardo de Barros Fonseca é procurador autárquico aposentado do Estado de São Paulo (Unesp) e vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa.

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