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As bermudas apertadas e o seu desconforto

Nelson Trad Filho (*) | 22/04/2013 08:54

A história está cheia de evidências de que a insensatez de certos líderes é tão contagiosa quanto a varíola, antigamente, ou a gripe aviária de hoje. E, muitas vezes, mais perniciosa, porque embota o raciocínio daqueles que, mais próximos do chefe inoculado, deveriam tentar ajudá-lo a livrar-se do mal.

A recente – e infeliz – manifestação do líder do prefeito na Câmara, sobre um rocambolesco “Triângulo das Bermudas” confirma, pela sua própria extravagância, o caráter contagioso do mal da presunção autoritária que o prefeito levou para o Executivo de Campo Grande. Especialmente porque a malsinada “denúncia” do vereador sucedeu a outro espasmo de insensatez, manifestado pela secretária de Assistência Social, vereadora licenciada. Do alto dos poderes ilimitados que – inspirada em seu chefe – julga ter, a secretária vetou a visita-inspeção de seus colegas do Legislativo aos Ceinfs (Centros de Educação Infantil).

A origem do mal que atacou os neurônios desta de quem partiu a ordem, não demorou a se manifestar pela boca de seu chefe. Aparentemente “livre” desse tênue fio de autocensura que separa a lucidez da insanidade, o prefeito proclamou aos quatro ventos, com ares de um reencarnado ‘Antônio Conselheiro’, que os vereadores “assustam as crianças que choram DESESPERADAMENTE ao avistarem, nos Ceinfs, os legisladores da Capital” – e por isso estão proibidos de exercer sua atribuição constitucional de fiscalizar. Dá licença vai...

Seria cômico, caso não fosse trágico.

Mas o que está ruim sempre pode piorar, segundo uma antiga “lei”.

E aqui caímos todos na patética penumbra do “Triângulo das Bermudas”, sacado da inventiva mente do vereador, para ‘denunciar’ um monumental conluio entre Ministério Público Estadual, Tribunal de Contas do Estado e Câmara Municipal de Campo Grande para remover o prefeito da chefia do Executivo através de processo de impeachment.

“Alguém que opera de maneira baixa tem dado ordens para o ‘triângulo das Bermudas’ fazer um golpe e causar o impeachment”, bradou o líder do prefeito, com a simplicidade dos insensatos. Com comovente infantilismo, vereador prolatava então uma gravíssima denúncia, na flagrante tentativa de manipulá-la como antídoto a prováveis punições legais a que seu chefe pode estar sujeito, pelos abusos, muitos e difusos, que tem cometido.

- Isso é coisa de maluco... – diagnosticou o conselheiro do TCE/MS, relator das contas da Prefeitura de Campo Grande no Tribunal de Contas do Estado. Perplexo ante a ‘arapuca’ que o líder do prefeito tentou montar, o conselheiro interrogava-se sobre quem teria tanto poder para comandar o tal triângulo imaginado pela atribulada mente do 1º suplente empossado para ser o seu líder.

- Esse vereador é lunático...! – sentenciou o presidente da Câmara Municipal de Campo Grande.

Ainda que severos, esses diagnósticos podem não dar conta de todo o mal que acomete esse edil que bradou aos quatro cantos da cidade o “Triângulo das Bermudas”.

Para o leitor entender, a chamada região “Triângulo das Bermudas”, também denominada de “Mar dos Perdidos”, era um local sabidamente perigoso por várias combinações climáticas (chuvas fortes, ventos intensos e ondas gigantes), onde quem por ali insistia em cruzar, desaparecia como num passe de mágica.

Tenho lembrado muito das minhas aulas de psiquiatria para entender todas essas bagunças. Me lembro que meu professor falava que o subconsciente humano nunca mente... (isso está comprovado cientificamente).

Pois bem, vejo uma clara demonstração, nessa fala do vereador líder do prefeito, que seu subconsciente entrou em ação. Percebeu que, ao adentrar em terrenos perigosos, com condições legais nada favoráveis a quem preza pela ética e honestidade, esses agentes aí sim ficariam sujeitos ao “Triângulo das Bermudas”. Continuem a governar através de emergência, desrespeitando contratos legalmente constituídos, dando calotes com dinheiro em caixa, mantendo obras federais paradas, não solicitando autorização da Câmara para remanejar o orçamento, confrontando e zombando das instituições e seus membros que o destino fatalmente será cruzar o obscuro “Triângulo”.

Para não sucumbir a esse já revelado desfecho em que a própria história nos ensinou, basta evitar estes procedimentos que maculam a honradez de um homem público. Administrar uma capital requer respeito a essas instituições (Ministério Público, o Tribunal de Contas e a Câmara de Vereadores).

Ao invés de confrontá-los, vocês deveriam sim entender seus papéis constitucionais e trabalhar em harmonia para o bem da nossa cidade. Cada um no seu papel.

Resta-nos sentir o gosto e o preço da tal da mudança, apoiada incondicionalmente por alguns e agregada pelo “DE TODOS”...

Calma Campo Grande... a democracia nos concede o direito de corrigir os erros cometidos por ilusões, nem que seja só daqui a alguns anos... E quanto às “bermudas”? Estando assim apertadas, com certeza vão gerar desconforto!

(*) Nelson Trad Filho é médico (CRM-MS 2164) e ex-prefeito de Campo Grande

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