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De volta ao desperdício

Por Coriolano Xavier (*) | 30/08/2018 13:10

Muito dos alimentos que se produz vão para o lixo. A Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), por exemplo, divulgou em agosto o seu levantamento anual sobre as perdas de alimentos na rede supermercadista (base 2017) e os números põem a gente para pensar: em frutas, legumes e verduras (FLV) as perdas representaram (considerando-se o seu preço de custo) 6,20% do faturamento líquido desse tipo de produto; em peixes o índice foi 6,02%, em carnes 3,05%, em padaria/confeitaria 4,53% e em comida pronta 6,34%. Em relação a 2016, dois índices pioraram (peixes e comida pronta), os outros três melhoraram ligeiramente. A entidade não informa o valor das perdas em cada caso, mas revela o total: R$ 6,4 bilhões.

São números baseados em pesquisa que envolveu 218 empresas do setor e 2.335 lojas em todo o país, totalizando 10,4 milhões de m² em área de venda e 30.293 checkouts (18ª Avaliação de Perdas em Supermercados). Por isso mesmo, são eloquentes ao evidenciar o enorme problema que é o desperdício de alimentos, pois o varejo supermercadista representa hoje mais de 70% do abastecimento alimentar no país. Por trás dessas perdas, segundo a ABRAS, há furtos, inconformidade de fornecedores e erros administrativos ou de inventário, mas a "quebra operacional" é a principal causa apontada pelo setor, que inclusive adota um rol de procedimentos preventivos, boa parte voltados à prevenção de furtos.

Isso sugere que, talvez, ainda exista um bom potencial de ataque ao desperdício por meio de inovações e gestão de precisão na operação comercial em si, melhorando a acurácia das informações sobre hábitos de compra, cadeias de fornecimento e percepção dos produtos. Tecnologias 4.0 para criar oportunidades associadas à previsão de demanda e níveis de estoque. Inteligência artificial casada com maior conectividade na cadeia de suprimento, permitindo respostas mais rápidas de fornecimento. Reforço de boas práticas em processos-chave da manipulação dos produtos. Marketing educativo com capilaridade pelos circuitos digitais, promovendo maior racionalidade no consumo dos perecíveis.

Os produtos FLV, por exemplo, além de perecíveis e sensíveis a manejo de estoque ou loja, comumente enfrentam rejeições por aparência (tamanho e forma), sem maior fundamentação nutricional. Puras percepções ou crenças de consumo. Mas imagine-se o poder transformador de uma blitz de novos conhecimentos visando aumentar a consciência em seu consumo – com as ferramentas da internet e a partir da inteligência acumulada nos bancos de dados, que permitem fazer o milagre da personalização em massa. As ferramentas estão aí, pois muitos supermercados já fazem isso, só que restritos às ofertas comerciais. É preciso ir além, quando se olha para o consumidor: marketing educativo neles, em nome da sustentabilidade e dos negócios.

(*)Coriolano Xavier é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor da ESPM.

 

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