ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  23    CAMPO GRANDE 21º

Artigos

Somos todos iguais?

Por Silas Fauzi (*) | 20/11/2012 09:07

Nessa semana comemoramos ao dia da Consciência Negra em nosso país. Essa data é comemorada desde 1978 e faz menção à luta das pessoas negras, sobretudo pela igualdade de direitos, pela história de resistência e pela plena liberdade diante de uma sociedade que foi forjada à custa do escravismo. Zumbi, morto em 20 de novembro de 1695, é a grande referência de resistência e luta pela liberdade e autonomia do seu povo na região de Palmares, no estado de Alagoas e a história do Brasil é toda ela marcada pela constante luta dessa parte significativa da população do nosso país. Mas a história de luta não se resume somente ao estudo dos acontecimentos: ela se faz no nosso dia-a-dia.

Em pleno século 21, após décadas de “libertação” dos negros da condição de escravos das fazendas cafeeiras, ainda temos casos alarmantes de discriminação racial em várias esferas da nossa sociedade. Quando se fala em discriminação racial, não existe idade. Crianças, jovens, adultos e idosos sofrem constantes atos de racismo velados que vão desde uma piadinha, que num primeiro momento parece ser inocente, até atos de racismo declarados, como o da professora da disciplina de Religião Afro, da Universidade do Estado do Pará (UEPA), que desferiu palavras depreciativas à condição humana ao segurança da instituição que estava cumprindo seu papel de trabalhador responsável com a suas obrigações.

Não precisamos ir muito longe para verificar a relação que algumas pessoas estabelecem com as outras por conta da sua cor. No dia 23 de abril de 2011, tivemos um caso lamentável ocorrido no interior das Lojas Americanas, onde um trabalhador foi atravessar de uma rua à outra por dentro do estabelecimento com um ovo de páscoa, quando foi abordado por seguranças acusando-o de ter subtraído o produto da loja sem efetuar o pagamento. Não contente com a abordagem, os seguranças da loja o espancaram a ponto de deixar, além de uma fratura no nariz, vários hematomas pelo corpo e a retina deslocada. Até hoje esse trabalhador tenta levar uma vida normal com todas as dificuldades que o trauma lhe trouxe para sua vida e de sua família.

Em relação à comparação dos números frios entre negros e brancos, vemos uma realidade que os meios de comunicação nunca revelam à grande massa. Vejamos alguns dados: o salário do negro é 70% menor do que o do branco; a taxa de analfabetismo entre os negros é de 14,4%, já entre os brancos é de 5,9%; o número da taxa de desemprego entre os negros é de 10,1%, enquanto que entre os brancos é de 8,2%; já o índice de negros nas universidades é de 12,8%; o número de negros e pardos representam 66,5% da população carcerária; e por fim, o número de mortes por causas violentas é de 65,5% entre os negros.

Todos esses dados são do último Senso do IBGE. Se fizermos a mesma comparação entre as mulheres negras e as mulheres brancas e entre as mulheres negras e os homens brancos, alguns dados mais dobram. Isso revela o quanto precisamos avançar na conquista pela igualdade de direitos. Políticas afirmativas fazem uma compensação entre o atraso social e econômico que historicamente essa população sempre viveu, pois existe uma parcela significativa da população que repugna toda e qualquer forma de inclusão dos negros em universidades e no mercado de trabalho, além de haver também uma discriminação velada nos espaços institucionais em nosso estado. Um exemplo é a liminar concedida pelo Tribunal de Justiça do nosso estado, a pedido da Federação do Comércio de Mato Grosso do Sul, anulando a Lei que estabelece feriado no dia 20 de novembro, ao contrário do que já acontece em tantos outros estados e em mais de 750 municípios brasileiros.

O racismo ainda produz a invisibilidade da população negra e é necessário que produzamos uma proporcionalidade de acesso aos meios que garantam igualdade para todos. Somente assim chegaremos a tão sonhada sociedade harmoniosa.

(*) Silas Fauzi é professor e militante das pastorais sociais.

Nos siga no Google Notícias