Do tamanho da Alemanha, MS tem vazio demográfico como aliado contra vírus
Mas o alerta é de que a vantagem termina por aí e não é hora de relaxar: de cada 100 doentes, 10 precisam de hospital
Enquanto muita gente acha que o número de “só” cinco mortes em Mato Grosso do Sul pelo novo coronavírus indicam que ele pode se mais uma gripezinha, os especialistas analisam que o Estado tem sim características que ajudam a conter a curva de casos. Como a grande extensão territorial, equivalente a área de um País como a Alemanha, e a baixa densidade demográfica: 6,8 habitantes por quilômetro quadrado.
Mas o alerta é de que as vantagens terminam por aí e não é hora de relaxar, pois segue a média de que a cada cem doentes pela covid-19, dez vão precisar de leito em hospitais.
Eles analisam que ações quando o vírus chegou, com a quase imediata suspensão das aulas e fechamento de estabelecimentos comerciais, também ajudaram a segurar a alta da doença e permitiram que mais leitos fossem preparados para atender os doentes.
Dessa forma, Mato Grosso do Sul, com 2,4 milhões de habitantes, tem taxa de letalidade de 3,5% e não chora tanto mortos com o vizinho São Paulo, com população de 44 milhões. Por lá, a média é de uma morte a cada 30 minutos e letalidade de 7,4%.
“A gente não tem concentração tão alta quanto em outras capitais e o espaçamento demográfico em Mato Grosso do Sul é muito grande se comparado ao outros Estados. A concentração de pessoas favorece a relação interpessoal que o coronavírus precisa para se alastrar. A gente tem essa vantagem da baixa concentração populacional”, avalia o infectologista Rodrigo Nascimento Coelho, do HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian.
O médico destaca que agora começa o período do frio, em que tempo seco e baixa temperatura são favoráveis à propagação de vírus.
De acordo com o infectologista, a torcida é para que a curva de casos da covid-19 seja achatada, sem uma explosão de casos. “De cada cem pessoas que se infectam, dez vão precisar de hospital, se todo mundo tiver coronavírus ao mesmo tempo não terá estrutura de atendimento”, afirma Rodrigo Coelho.
Outra leitura feita pelo médico é que em Campo Grande, o vírus começa a chegar com mais impacto agora na rede pública de saúde. Até então, o perfil era de pessoas que estavam em viagem, os chamados pacientes de conexão de aeroporto, e procuravam atendimento na rede particular.

Para cada cidade, uma epidemia – Apesar dos comparativos entre Mato Grosso do Sul e outros Estados, a infectologista Mariana Croda, da Faculdade de Medicina da UFMS (Universidade Federal de MS) e do comitê de operações de emergência do Estado, avalia que mesmo dentro do Estado o coronavírus terá cenários diferente em cada um dos 79 municípios. “Cada município vai vivenciar uma epidemia diferente, cada um vai vivenciar uma realidade”, afirma.
A especialista destaca que inicialmente, por exemplo, não se imaginou que Batayporã seria um município com tantos casos. A cidade de 11 mil habitantes registrou seis confirmações e duas mortes pela doença.
“Não adianta comparar o Brasil com a Europa, não adianta comparar Mato Grosso do Sul com a região Norte, que é mais pobre. É uma epidemia diferente. A maioria dizima boa parte da população pobre e País de primeiro mundo não se preocupava. Essa é diferente, atinge a todos, mas começa na classe mais alta”, diz Mariana Croda.
No retrato de hoje da doença no Estado, a infectologista afirma que MS ainda não atingiu números preocupantes e dispõe de leitos e capacidade diagnóstica e terapêutica.
“Mas é muito pior do que uma gripezinha e um resfriadinho. É muito mais agressivo do que os vírus que a gente, normalmente, conhece. Há um grupo de privilegiados que pode se abster de ter contato com o vírus nessa fase. Se você puder esperar a ciência agir, na busca pela vacina e tratamento, desfrute desse privilégio”, afirma a médica, que pede que quem puder, permaneça em casa.