ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, DOMINGO  12    CAMPO GRANDE 31º

Cidades

Marco Temporal poderá ser votado hoje em Brasília; indígenas se manifestam em MS

Para pressionar contra a votação, manifestações acontecem em rodovias e na Assembleia Legislativa

Cassia Modena e Jackeline Oliveira | 30/05/2023 12:00
Na semana passada, maioria dos deputados votou pela votação em regime de urgência (Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados)
Na semana passada, maioria dos deputados votou pela votação em regime de urgência (Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados)

Previsto para ser votado ainda nesta terça-feira (30) pelos deputados federais, o PL (Projeto de Lei) 490/07 define a data da promulgação da Constituição Federal – 5 de outubro de 1988 – como marco temporal de ocupação dos territórios pelos povos originários, tendo o efeito de modificar as regras para demarcação de terras indígenas no Brasil. Há outros pontos da proposta que, igualmente, poderão promover alterações no processo demarcatório.

O PL do Marco Temporal, como ficou conhecido, foi colocado na pauta na semana passada, após pedido de urgência para sua votação ser aprovado pela maioria dos parlamentares. Isso ocorreu estrategicamente antes de o STF (Supremo Tribunal Federal) votar o projeto, o que estava previsto para o mês de junho.

Enquanto a Câmara se prepara para votá-lo em Brasília (DF), indígenas se mobilizam para pressionar deputados estaduais de Mato Grosso do Sul a se posicionarem de forma contrária à proposta, na tentativa de produzir algum impacto à votação dos representantes federais.

Cerca de 30 pessoas foram até a Casa de Leis estadual nesta manhã com essa intenção. Estiveram lá membros da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Conselho Terena e os movimentos indigenistas Kuñangue Aty Guasu e Aty Guasu, além de outros movimentos sociais apoiadores.

Manifestantes indígenas e de movimentos sociais na Assembleia (Foto: Jackeline Oliveira)
Manifestantes indígenas e de movimentos sociais na Assembleia (Foto: Jackeline Oliveira)

Coordenadora-executiva da Apib no Estado, Val Eloy, chama a proposta relativa ao Marco Temporal de "PL da morte". Ela o considera um retrocesso capaz de provocar extermínio de povos indígenas. "Pode ser um retrocesso de direitos para nós, indígenas, a aplicação da tese do Marco Temporal. É um genocídio e extermínio dos povos indígenas", afirmou.

A mobilização tem objetivo de chamar atenção da sociedade e, especialmente, dos deputados estaduais e federais que estiveram em comunidades indígenas para apresentar propostas e pedir votos nas últimas eleições, disse Val Eloy. "A gente veio até a Assembleia Legislativa para marcar presença, tentar sensibilizar os deputados que vão votar o PL e dizer que estamos atentos a qualquer retrocesso de direito. Não aceitaremos", pontuou.

Rodovias - Indígenas também bloqueiam rodovias em Mato Grosso do Sul para se manifestar contra a votação pela Câmara dos Deputados e aprovação do PL do Marco Temporal.

Até o fim desta manhã, eles estavam em trechos da rodovia BR-463, em Ponta Porã, e do Anel Viário de Dourados.

Carta - Os manifestantes indígenas e de movimentos sociais aproveitaram para pedir que os deputados assinem um documento em que se comprometem a agendar reuniões a partir junho, entre representantes dos povos indígenas e dos poderes Executivo e Legislativo, para tratar de criação de políticas públicas nas áreas de segurança, saúde, educação, direitos das mulheres e combate ao racismo religioso.

Em meio aos pedidos para a segurança pública, por exemplo, está o impedimento de que operações policiais de reintegração de posses sejam realizados sem ordem judicial federal e parecer do Conselho de Intermediação de Conflitos Sociais e Situação de Risco, da própria Assembleia Legislativa, seja em áreas demarcadas ou não.

Indenizações - Da bancada federal de Mato Grosso do Sul, Vander Loubet (PT) foi um dos que votaram contra a votação em regime de urgência do PL. Ele defende que a pressa deveria ser para analisar um outro projeto, que une dois lados em conflito pelas terras, o de proprietários rurais que têm terras em áreas indígenas e a dos próprios indígenas que querem retomá-las.

"Nosso foco é atuar naquilo que une os dois lados, que é a proposta que vai permitir a indenização das terras. Para nós, a maior urgência é a PEC das indenizações, pois entendemos que ela é consenso entre os que defendem os indígenas e os que defendem os produtores rurais", afirma Vander.

Para Vander, PEC da Indenização atende os dois lados que disputam terras (Foto: Arquivo)
Para Vander, PEC da Indenização atende os dois lados que disputam terras (Foto: Arquivo)

Ele acredita que a indenização é a melhor saída. "A ideia de permitir a indenização é um caminho viável para a gente encaminhar uma solução efetiva para os conflitos, pois aquelas terras que forem alvo de disputa poderão ser negociadas, permitindo assentar os indígenas nas terras que reivindicam, mas com a devida indenização aos proprietários", explica o deputado.

Do restante da bancada federal, apenas Camila Jara (PT) votou junto a Vander. Os demais deputados votaram a favor.


Nos siga no Google Notícias