“Abusador pode ser alguém acima de qualquer suspeita", alerta psicanalista
Mas há sinais que pais e responsáveis podem reconhecer até em pessoas muito próximas

Casado, trabalhador, com vida aparentemente “normal”. O perfil do abusador de crianças nem sempre é o de um estranho perigoso rondando esquinas escuras. Muitas vezes, trata-se de alguém acima de qualquer suspeita, mas que carrega sinais ignorados pela sociedade. É o que aponta a psicanalista Viviane Vaz, coordenadora do projeto Nova Transforma, voltado ao enfrentamento da violência sexual contra crianças e mulheres.
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O perfil do abusador sexual de crianças nem sempre corresponde ao estereótipo do criminoso suspeito. Segundo a psicanalista Viviane Vaz, coordenadora do projeto Nova Transforma, eles podem ser pessoas aparentemente normais, que apresentam sinais como elogios excessivos a crianças e vício em pornografia. A especialista alerta para a necessidade de vigilância dos pais e destaca que os abusadores costumam buscar crianças vulneráveis e isoladas. Ela também critica a falta de um sistema público de prevenção e acompanhamento psicológico para pessoas que demonstram tendências abusivas desde a adolescência.
Segundo ela, há comportamentos que funcionam como alertas e que os pais precisam aprender a identificar até nas pessoas mais próximas.
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“O abusador costuma elogiar demais as crianças, de forma excessiva, e isso já deveria chamar atenção. Outro ponto é o vício em pornografia. É algo que pouco se fala, mas está presente em muitos casos que já atendi. O cérebro viciado passa a enxergar de forma maliciosa, como um predador”, explica.
A especialista lembra que o consumo de pornografia é tratado como algo banalizado, mas pode se tornar uma escalada. “Nossa sociedade tornou aceitável consumir pornografia, mas isso desvirtua a imagem de relacionamento e desejo. O que se vê nunca é suficiente, então a pessoa procura mais. Muitos acabam alimentando a mente com cenas de estupro de crianças ou até de animais. Quando isso acontece, não há como a visão sobre as crianças continuar a mesma”, alerta.
Outro aspecto levantado por Viviane é a busca por crianças mais vulneráveis. “Eles procuram aquelas que estão isoladas, que não recebem tanto amor familiar. Por isso, os pais precisam estar atentos, vigilantes, monitorar e conversar. O abusador não escolhe a criança de forma aleatória”, destaca.
Sem acompanhamento - A ausência de um sistema público capaz de identificar essas tendências antes do crime também é apontada como falha grave. Ela cita o caso recente de estupro e morte da menina de seis anos na semana passada. Marcos Wilian Teixeira Timóteo frequentava a casa da família da criança e desde a adolescência tinha passagens pelo crime de estupro de vulnerável.
“Esse rapaz já tinha passado por internação na Unei (Unidade Educacional de Internação) por ter abusado de um bebê! Ficou um ano em acolhimento, mas foi solto sem qualquer processo terapêutico. Não houve nenhum encaminhamento para que ele trabalhasse esse desejo? É possível ensinar autocontrole, mas nada foi feito”, critica.
Para Viviane, lidar com a prevenção ainda é mais barato – e menos devastador – do que enfrentar as consequências de um crime consumado. “A rede não tem um processo para identificar esses casos cedo. Se um adolescente apresenta sinais de tendência ao abuso, para onde ele vai? Quem trabalha isso com ele?", questiona.
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