ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 22º

Capital

Chamada de “preta safada”, Marinalva esperou 8 anos por “pequena vitória”

Nesta semana, a jornalista Marinalva Pereira ganhou na Justiça direito à indenização do ex-patrão

Tainá Jara | 07/12/2019 10:54
Sorriso largo da apresentadora Marinalva Pereira depois de vitória na Justiça em ação de injúria racial (Foto: Ricardo Gael)
Sorriso largo da apresentadora Marinalva Pereira depois de vitória na Justiça em ação de injúria racial (Foto: Ricardo Gael)

Episódios de racismo são rotina na vida da apresentadora Marinalva Pereira desde que é criança. No entanto, na maturidade, com filhos e netos, ela precisou dar um passo além e contribuir na luta por igualdade racial. Classificar a trajetória de quase dez anos na Justiça até obter a condenação do ex-patrão que a chamou de “preta safada” como uma pequena vitória, parece no mínimo injusto, porém, a lucidez permite avaliar que até ela melhorou depois da decisão.

A experiência  a fez estabelecer uma divisão rígida para lidar com a forma como as pessoas enxergam os negros. “Existe quem gosta, os que engolem e os que não respeitam de maneira nenhuma”. Opinião incisiva, no entanto, não dispensa a reflexão profunda. “Sabemos que isso é cultural e que muitas pessoas não falam por maldade. Mas isto tem que parar”, ressalta.

Autocrítica constante motivou até a mudança de visão sobre um assunto polêmico. Prova de que um pouco de reflexão não faz mal a ninguém. “Eu era contra as cotas, mudei de ideia. Mas, eu ainda faço uma ressalva quanto a forma como é divulgada. As cotas são benéficas, porém, têm que passar por um processo de igualdade. Para não ficar esta estigmatização do cotista”, explica.

Foco na educação de base é uma das alternativas apontadas pela jornalista como eficazes para alcançar a igualdade racial. “Tem que começar pela escola . Tinha que ser matéria. Disciplina dada em sala de aula para não descriminar pessoas. As escolas deveriam pregar isto: igualdade para além da questão da cor”.

Apresentadora tornou-se militante na luta pela igualdade racial (Foto: Ricardo Gale)
Apresentadora tornou-se militante na luta pela igualdade racial (Foto: Ricardo Gale)

“Sabia que não podia confiar em preto” – Marinalva nasceu no interior de São Paulo e mudou-se para Campo Grande há cerca de 20 anos. Em 2011, ela ingressava em novo emprego. Atuaria como diretora executiva e apresentadora de uma grande emissora recém-instalada no Estado. As promessas da nova jornada, no entanto, não se concretizaram.

A apresentadora descobriu que a empresa não tinha autorização para atuar em Mato Grosso do Sul. A revelação desencadeou ódio expresso em forma de ofensas por parte do ex-patrão. “Eu sabia que não podia confiar em preto” e “aquela preta safada roubou até o balde”, foram algumas das frases proferidas pelo ex-patrão.

Testemunhas foram fundamentais para Marinalva registrar um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher. O processo começou como ação trabalhista, mas o evidente episódio de racismo levou o caso para as esferas civil e criminal.

A tramitação na Justiça ajuda a entender o que a vítima considera uma pequena vitória. A decisão responsável por indenizar a apresentadora em R$ 15 mil foi dada na esfera civil. Porém, na esfera criminal, a condenação de serviços comunitários acabou prescrevendo. 

Relembrar a trajetória de dez anos até a decisão final da Justiça emociona: “Dizem que a Justiça é cega e lenta. Eu concordo. Mas, quando ela quer abrir os olhos... Quando a gente grita, como eu gritei, a gente consegue. Eu pago imposto, eu trabalho, eu respiro, eu tenho sangue, eu tenho cor, não me discrimine, eu sou igual a você. Eu sou um ser humano”.

Parte do valor da idenização, segundo ela, será revertido em doações para escola de comunidade negra a ser definida pela jornalista. "Quero que eles [as crianças negras] vejam o horizonte. Não apenas o racismo".

Para Marinaval, caminho para acabar com racismos está na educação das crianças (Foto: Ricardo Gale)
Para Marinaval, caminho para acabar com racismos está na educação das crianças (Foto: Ricardo Gale)
Nos siga no Google Notícias