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Capital

Para sobreviver, Rádio Clube pode ter que vender parte do patrimônio

Nadyenka Castro e Gabriel Neris | 29/06/2012 12:17

Débito do clube mais tradicional da cidade chega perto de R$ 16 milhões, maior montante para o INSS

Caso sócios optem pela venda da Unidade I, sede Campo irá concentrar todas as atividades do Rádio Clube. (Foto: Minamar Júnior)
Caso sócios optem pela venda da Unidade I, sede Campo irá concentrar todas as atividades do Rádio Clube. (Foto: Minamar Júnior)

Tradicional em Campo Grande, o Rádio Clube pode ser colocado à venda. O motivo: o clube está lotado de dívidas. O montante chega perto de R$ 16 milhões.

A principal dívida é com o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social). São aproximadamente R$ 14 milhões que foram refinanciados. Há duas parcelas em atraso e se três ficarem em aberto, o refinanciamento é cancelado.

“O clube está nas mãos dos sócios”, resume Milton Borges, integrante do Conselho Deliberativo do Rádio Clube, ao explicar que o futuro de 87 anos de história depende de decisão dos associados que será tomada em Assembleia Geral a ser realizada em julho.

De acordo com Borges, os problemas financeiros do Rádio Clube começaram no início da década de 80. Desde 1981 o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) da Unidade II, na avenida Interlagos, não é pago. Desde 1996, deixaram de ser feitos pagamentos do imposto da Unidade I e ao INSS.

O INSS e o IPTU são as principais dívidas. Só de IPTU são cerca de R$ 3,9 milhões. Mas há também débitos com plano de saúde, companhia de gás, Enersul, diversos fornecedores e empréstimos bancários: tudo isso chega a R$ 15,9 milhões.

Para quitar a dívida com a União, em setembro de 2009 o Rádio Clube fez o refinanciamento em 180 meses. “Prazo máximo”, lembra Milton. O montante de R$ 14 milhões reduziu para R$ 11 milhões.

Para pagar em dia as parcelas, além da taxa de manutenção, os 1,6 mil sócios passaram a contribuir com R$ 50 a mais. Esta quantia era exclusiva para o pagamento do refinanciamento.

Em outubro o Rádio Clube já tinha 400 sócios a menos e aquele ano fechou com apenas 900 títulos. E aí os problemas aumentaram. O Clube fez campanhas para atrair mais sócios, lançou novas modalidades de títulos e até mês passado eram 1.465.

Estes 1.465 sócios geraram receita média mensal, nos primeiros cinco meses deste ano, de R$ 210 mil. Além do dinheiro com a manutenção, o Clube tenta gerir as despesas com locações de espaços, que de janeiro a maio deste ano renderam, mensalmente, média de R$ 41 mil.

De janeiro a maio deste ano, o clube recebeu R$ 1.719.854 e pagou R$ 1.795,029. Situação que gerou déficit de R$ 75.375. Além deste déficit, outro montante que deixa o Clube no vermelho são R$ 476 mil em compromissos que não foram cumpridos, não incluídos aí a dívida com o IPTU.

INSS - Conforme Milton, o contrato de refinanciamento prevê o cancelamento do acordo caso não haja o pagamento de três parcelas – consecutivas ou não-. Se houver cancelamento, a dívida retorna aos R$ 14 milhões.

Sede Cidade do Rádio Clube - Unidade I. Vários espaços da unidade estão destinados para locações. (Foto: Ângela Kempfer)
Sede Cidade do Rádio Clube - Unidade I. Vários espaços da unidade estão destinados para locações. (Foto: Ângela Kempfer)

O parcelamento também pode ser cancelado caso, no fim, haja algum boleto em atraso.

Além do débito com refinanciamento, o Clube tem dívida também com o repasse mensal do INSS dos funcionários.

Por conta da falta de pagamento, as duas unidades do Rádio Clube estão penhoradas na Justiça. “Há várias ações de execução fiscal na Justiça”, fala Milton.

O que fazer? - De acordo com Borges, vão ser apresentadas aos sócrios duas alternativas para quitação das dívidas: reajustes das taxas de manutenção e da contribuição para o refinanciamento, “em mais de 50%”, lembra Borges, ou a venda de um dos imóveis.

Conforme o presidente do Conselho Deliberativo do Rádio Clube, Delcindo Vilela, “as despesas da sede cidade superam três vezes mais as despesas da sede campo. Não tem condições de manter esse clube no centro da cidade, não tem estacionamento, não tem como fazer investimento. O que queremos fazer, se houver a venda vamos levar tudo pra lá”, disse.

A decisão sobre o que será feito deve ser tomada em assembleia geral, em julho.

Para o presidente do Clube, Omar Ayoub, caso os sócios optem pela venda da Unidade I (Centro), o projeto é concentrar todas as atividades do Rádio na Unidade II. “Será o melhor clube do Centro-Oeste”, disse. “Teremos a melhor academia da cidade, faremos um novo salão de festas, um grande restaurante”, afirma.

Ayoub lembra que “com as duas sedes a manutenção é muito alta”, que a possibilidade de venda “é só um estudo”, que “não tem ninguém interessado nos imóveis” e são os sócios quem irão decidir o futuro do Clube.

A Unidade I tem 6,7 mil metros quadrados e a Unidade II 141,4 metros quadrados. Para Milton, as duas unidades juntas devem somar, pelo menos, R$ 50 milhões.

Tradição-Em jogo, está o patrimônio de um estabelecimento que, por ser o mais antigo sempre foi considerado o clube da elite, onde, durante décadas foi realizada a principal festa de carnaval da cidade, as festas de formatura e casamentos.

O Rádio Clube também tem tradição no esporte, com a revelação de talentos da natação, por exemplo.

O clube nasceu em 1924, da união entre aficionados pelo rádio, que era uma novidade da época. O Rádio Clube completará 88 anos no dia 27 de dezembro.

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