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Capital

Com superlotação, pacientes estão internados em salas médicas no HU

Diversos profissionais estão com atestado médico por lesões de sobrecarga de trabalho. Pronto Atendimento Médico vai ficar fechado por 15 dias para estabilizar atendimento

Izabela Sanchez | 16/08/2018 15:13
Pacientes em macas no corredor do Pronto Atendimento Médico no HU (Izabela Sanchez)
Pacientes em macas no corredor do Pronto Atendimento Médico no HU (Izabela Sanchez)

Pacientes em macas espalhados ao longo do corredor, familiares irritados e reclamações generalizada sobre o caos na saúde pública. É o cenário do PAM (Pronto Atendimento Médico) do HU (Hospital Universitário), em Campo Grande. Com capacidade para apenas 26 pacientes em leitos, a ala abriga hoje 67 pacientes, 41 deles espalhados em macas e cadeiras por falta de camas. No limite do atendimento, o Hospital resolveu fechar o PAM por 15 dias.

Chefe de divisão de gestão e cuidado do PAM, a médica Cláudia Lang explica que o cenário coloca em risco pacientes e profissionais. Conforme explica, o problema é muito maior, motivado pela falta de leitos em Mato Grosso do Sul. Segundo o MPMS (Ministério Público Estadual) o déficit chega hoje a 800 leitos.

Cláudia afirma que a abrangência do atendimento preventivo na saúde da família, nas unidades básicas, ainda é pequeno, em cerca 40%, um dos ingredientes para a superlotação de internações nos hospitais de Campo Grande.

“O que mais enche o nosso pronto socorro são pacientes hipertensos, pacientes diabéticos, pacientes com problemas respiratórios, que, muitas vezes são doenças crônicas que não são bem acompanhadas. Não tem uma prevenção, um controle, aí agudiza, dá uma crise, com muita frequência, porque não tem esse atendimento que deveria ser na atenção básica”, comenta.

A chefe da divisão afirma que os pacientes correm risco de infecções e contaminações, já que estão muito próximos um dos outros, o que contraria normas estabelecidas.

“Para um paciente estar protegido tem que ter uma distância mínima estabelecida em regulamentações da vigilância sanitária. Eu não tenho nem como receber um paciente novo porque não tenho como colocar em um consultório pra examinar porque tem paciente lá. Nas enfermarias o que seria o ideal, eu conseguir tirar esse paciente daqui e levar pra enfermaria. Mas na enfermaria também tenho pacientes crônicos, com muitos dias de internação, com infecções graves, não consigo dar alta rápido”.

Pacientes internados em salas médicas – A situação é caótica ao ponto de dois pacientes terem sido internados em condições improvisadas. Com suspeita de tuberculose, duas pessoas internadas no HU estão em salas médicas. Pacientes idosos, explica Cláudia, correm risco de cair das macas.

“Então o risco de acontecer esse tipo de acidente e o risco de infecção. Para um paciente estar protegido tem que ter uma distância mínima estabelecida em regulamentações da vigilância sanitária. Eu não tenho nem como receber um paciente novo porque não tenho como colocar em um consultório pra examinar porque tem paciente lá. Nas enfermarias o que seria o ideal, eu conseguir tirar esse paciente daqui e levar pra enfermaria. Mas na enfermaria também tenho pacientes crônicos, com muitos dias de internação, com infecções graves, não consigo dar alta rápido”, comenta.

A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), afirma ter sido oficiada e declarou que o fluxo de encaminhamentos precisou ser reorganizado. Agora, explicou a Secretaria, a Santa Casa e o Hospital Regional devem receber os pacientes de média e alta complexidade de urgência e emergência.

Fila de macas e cadeiras no corredor do Pronto Atendimento Médico no HU (Izabela Sanchez)
Fila de macas e cadeiras no corredor do Pronto Atendimento Médico no HU (Izabela Sanchez)

Os profissionais de saúde da enfermagem estão doentes, explica a médica. Com a carga excessiva de trabalho, atestados médicos são frequentes. Só nesta quinta-feira (16) 3 profissionais estão afastados por lesões na coluna. É o que explica o responsável técnico da enfermagem de urgência e emergência, Emerson Bonifácio Custódio.
“O hospital é como qualquer empresa, tem limites de produção. Esse limite, essa carga excessiva de trabalho se reflete na saúde do trabalhador. Está tendo muita lesão ortopédica. Prejudica o atendimento porque alguém tem que fazer o serviço. Quando você tem um setor lotado, o risco de infecção é sempre alto, porque fere-se normas estabelecidas”, declarou.

Andreia Stephan Trindade, 43, acompanha a mãe, que teve complicações após uma colostomia. “É horrível ficar aqui, não tem uma cadeira pra gente. Ela é cadeirante, não pode ficar muito tempo sentada. Ontem ela estava em uma cadeira e consegui arrumar uma maca pra ela. Acho que deveria aumentar essa parte do hospital”.

A demanda por mais recursos é constante, conforme explicou Cláudia Lang. A tentativa de dialogar com as Secretarias de Saúde e a regulação de pacientes, também. “Nós ficamos nesse embate com a regulação, explicando, mandando documento, mandando papel, entrando em contato. Os nossos diretores aqui falando com secretário, com o coordenador de regulação, é um embate diário. Mas enquanto a situação está dentro do tolerável, vai ficando paciente na maca, mas chegou o limite”, explicou.

Maria Lucia Delgado, 50, está há três dias acompanhando a mãe. “Tem pessoas que estão sofrendo, é muito mal organizado, mas eles fazem o que podem. É complicado ficar aqui, tem gente com todo tipo de doença”.

Um ofício sobre a situação foi assinado pelo superintendente do HU, Cláudio César da Silva, e enviado às secretarias municipal e de Estado de Saúde, MPF (Ministério Público Federal), MPE (Ministério Público Estadual), CRM (Conselho Regional de Medicina), Conselho Regional de Enfermagem e Central de Regulação.

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