Do nascimento ao luto em cinco dias: pai diz que filho morreu por negligência
Médico teria deixado sala de parto e não voltou para atender bebê que estava com dificuldade respiratória

No dia 21 de outubro de 2024, o servidor público municipal Adalberto Fontoura, de 39 anos, levou a esposa à Maternidade Cândido Mariano para o nascimento de Antônio Gabriel. Mas o que seria um momento de alegria se transformou em luto cinco dias depois.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O servidor público Adalberto Fontoura move processo judicial contra médico pediatra após a morte de seu filho recém-nascido na Maternidade Cândido Mariano, em Campo Grande. O bebê Antônio Gabriel, nascido em 21 de outubro de 2024, faleceu cinco dias após o parto devido a complicações respiratórias. Segundo relatos do pai, o pediatra chegou atrasado ao parto e deixou o hospital logo após o nascimento, quando o bebê já apresentava dificuldades respiratórias. O atendimento foi transferido para a médica plantonista, irmã do pediatra, que só pôde avaliar a criança duas horas depois. O recém-nascido desenvolveu quadro grave de hipóxia e sepse, vindo a falecer após falência múltipla de órgãos.
A família demorou para recobrar as forças e só agora entrou na Justiça contra o médico pediatra responsável pelo atendimento, sob a acusação de conduta negligente que teria contribuído para a morte do bebê.
- Leia Também
- Hospitais em MS vão adotar "check-list" para evitar mortes durante partos
- Médicos são suspensos por erro que deixou filho de vereador em estado vegetativo
Adalberto conta que o pré-natal foi acompanhado por um obstetra e, dias antes do parto, uma ultrassonografia de rotina confirmou que o bebê estava saudável. Assim, o parto foi agendado para um dia especial, a data do aniversário do pai.
O casal deu entrada no hospital às 5h e o parto estava marcado para as 7h. No entanto, segundo o relato, o obstetra informou que precisaria aguardar o pediatra, que estava atrasado. Ao chegar ao local, o médico teria comentado sobre um jogo de futebol da noite anterior e usava, por baixo do jaleco, uma regata do time que disputou a partida, dizendo que havia ficado até tarde com amigos, o que já deixou o pai preocupado.
Logo após o nascimento, Antônio Gabriel apresentou dificuldades para respirar. Uma das assistentes tentou estimular a respiração do bebê, que chegou a chorar. O pediatra enrolou-o em um pano, mostrou-o à mãe e colocou-o em um berço aquecido.
O pai relata que percebeu que o bebê continuava com dificuldade para respirar, mas o pediatra já havia deixado a sala e o hospital. Diante do agravamento, as enfermeiras teriam tentado contato com o médico, que, segundo o pai, se recusou a retornar, informando que o atendimento ficaria a cargo da médica plantonista, sua irmã.
Ainda conforme o relato, a médica estava em um parto de risco e só pôde atender o recém-nascido duas horas depois. O bebê nasceu às 7h26, teve piora às 7h34 e só foi avaliado pela plantonista por volta das 9h.
De acordo com Adalberto, ela teria dito que a criança “só precisava esquentar um pouquinho”, prescreveu soro e deixou a sala. “O abandono, a demora, o descaso. O que seria mais importante que tentar salvar uma vida que havia acabado de chegar ao mundo?”, questiona o pai.

Ele afirma que a tentativa de aplicar o soro foi desesperadora porque as enfermeiras não conseguiam encontrar o acesso venoso. Outras profissionais da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) foram chamadas, mas, também sem sucesso, recorreram ao uso de cateter.
“Eu vi agulhas passarem de mãos em mãos sem sucesso; enfermeiras experientes eram chamadas, também sem sucesso. Meu filho foi furado tantas vezes que não pude contar. Temendo uma infecção, orava de joelhos na sala enquanto as enfermeiras tentavam me acalmar”, desabafa.
Por volta das 10h, Adalberto acompanhou a esposa até o quarto e, ao retornar, percebeu que o bebê já havia sido retirado da sala. Segundo ele, só às 10h48 foram solicitados exames e raio X. O recém-nascido foi encaminhado à UTI neonatal às 14h47.
O pai afirma que permaneceu na UTI quase o tempo todo, saindo apenas para comer. Na sexta-feira (25), foi informado por uma médica plantonista que o bebê estava sob uso contínuo de medicamentos havia dias e apresentava falência de órgãos.
O servidor público conta que, acreditando em um milagre, foi para casa para orar e refletir. Pouco depois, recebeu uma ligação do hospital informando o falecimento do bebê.
Entrei na maternidade com um pré-natal perfeito, um bebê saudável, cheio de sonhos e vi uma condição clínica facilmente reversível se agravar e ceifar a vida do meu filho por negligência. Saí da maternidade com a pior dor que um homem pode sentir”, lamenta Adalberto.
Durante um ano, o casal se afastou das redes sociais e de compromissos para viver o luto. O caso do bebê Ravi, que também morreu na Maternidade Cândido Mariano, chamou a atenção da família, que hoje participa de um grupo com outras mães que passaram pela mesma situação.
Atualmente, Adalberto processa o pediatra por negligência médica e pretende se reunir com parlamentares e outras famílias enlutadas para pedir providências. Segundo ele, médicos com quem conversou afirmam que o filho precisaria de reanimação imediata nos primeiros minutos após o parto, quando as chances de reversão seriam maiores.
O prontuário médico de Antônio Gabriel registra que o bebê apresentava quadro gravíssimo, com hipóxia grave desde o nascimento, acidose respiratória e sepse grave, sem resposta ao uso de drogas vasoativas.
No processo judicial, o médico pediatra alegou que não houve abandono, pois manteve contato com a irmã, médica plantonista, para continuidade do atendimento. Ele também contestou os horários apresentados pelo pai, afirmando que o atendimento foi realizado rapidamente.
“A partir de então, a conduta médica registrada nos prontuários é extremamente cautelosa, já que foram solicitados exames oportunos e adequados e prescrita a medicação conforme a hipótese diagnóstica que se apresentava”, diz trecho da defesa.
A reportagem procurou a assessoria da Maternidade Cândido Mariano, que informou que não vai comentar o caso no momento.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

