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Capital

Joias apreendidas em MS são símbolos de 'guerra santa' de traficante pastor

Joias apreendidas em Campo Grande revelam referências bíblicas e militares ligadas ao poder de Peixão

Por Gabi Cenciarelli | 09/12/2025 16:34
Joias apreendidas em MS são símbolos de 'guerra santa' de traficante pastor
Joias apreendidas na Capital do MS (Foto: Divulgação PRF)

Descrito por pesquisadores como um “traficante-pastor”, Peixão teve parte de sua ideologia revelada em Mato Grosso do Sul, onde joias com referências ao Estado de Israel e a figuras bíblicas foram apreendidas em Campo Grande, na última segunda-feira (8). As peças, trazidas pela família do líder do Terceiro Comando Puro, facção carioca, na rota usada para alcançar a Bolívia, expõem a mistura de fé, guerra e poder que sustenta o comando do Complexo de Israel, no Rio de Janeiro.

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A Polícia Rodoviária Federal apreendeu em Campo Grande (MS) joias com referências ao Estado de Israel e símbolos bíblicos, pertencentes à família de Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, líder do Terceiro Comando Puro no Rio de Janeiro. Peixão, que nunca foi preso e possui mais de 70 anotações criminais, controla o chamado "Complexo de Israel", conjunto de cinco comunidades na Zona Norte carioca. Ele se apresenta como um "traficante-pastor", mesclando comando do crime organizado com discurso religioso fundamentalista, promovendo cultos e perseguindo religiões de matriz africana.

Segundo o pesquisador Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo), Peixão é descrito como um “traficante-pastor”, por unir o comando do crime organizado a um discurso religioso fundamentalista. Mesmo com mais de 70 anotações criminais, ele nunca foi preso e se tornou um dos traficantes mais poderosos e procurados do Rio de Janeiro.

Ele assumiu o controle de cinco comunidades da Zona Norte carioca e rebatizou a região como "Complexo de Israel", formada por Vigário Geral, Parada de Lucas, Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau. Nessas áreas, impôs um domínio sustentado pela combinação de armas, culto religioso, intimidação e simbologia bíblica.

Entre os criminosos, Álvaro Malaquias é chamado de Mano Arão, em referência a Arão, irmão de Moisés. Dentro da facção, o grupo passou a ser conhecido como “Tropa do Arão”, reforçando a ideia de um exército de cunho religioso.

Joias apreendidas em MS são símbolos de 'guerra santa' de traficante pastor
Pingentes com referências bíblicas estavam nas malas apreendidas com familiares de Peixão. (Foto: Divulgação | PRF)

Segundo Bruno Paes Manso, o próprio Peixão já declarou, em áudios de WhatsApp, que se enxerga como um traficante escolhido por Deus para representar interesses divinos na Terra. Ele afirma acreditar que recebeu, em sonhos, a missão de restaurar o “reino de Israel” no Rio de Janeiro.

Religião como forma de terror e poder - De acordo com o pesquisador, Peixão transformou a religião em instrumento direto de poder territorial. Ele promove cultos para seus homens, usa pichações com salmos nos muros e dissemina a ideia de uma batalha espiritual permanente entre o bem e o mal.

Essa leitura fundamentalista da fé também embasa a perseguição a religiões de matriz africana. Terreiros foram destruídos, moradores relataram proibição do uso de branco, de terços, de imagens de santos e até controle sobre o som das missas nas ruas.

Para o pesquisador, figuras como Peixão surgem em contextos onde o Estado perde força, e líderes violentos passam a ser vistos como fiadores de uma ordem imposta pelo medo. Nesse cenário, o “traficante-pastor” se vende como alguém disposto a ir para a guerra para garantir sua própria versão de ordem.

Joias apreendidas em MS são símbolos de 'guerra santa' de traficante pastor
Acessórios com inscrições religiosas e militares faziam parte do material apreendido. (Foto: Divulgação | PRF)

O que significam as joias apreendidas na Capital do Mato Grosso do Sul - As joias encontradas com a família de Peixão em Campo Grande não são apenas itens de luxo ou ostentação. Cada símbolo carrega parte da ideologia que sustenta seu poder.

O medalhão com a inscrição “Israel Defense Force” faz referência direta às Forças de Defesa de Israel, reconhecidas mundialmente pelo poder militar. Ao adotar esse símbolo, Peixão se associa à imagem de um exército em guerra permanente.

Outro símbolo identificado é a Estrela de Davi, um dos principais emblemas do judaísmo e do Estado de Israel desde 1948. A tradição aponta que o símbolo era usado nos escudos do exército do rei Davi. A estrela também ficou historicamente marcada pela perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi imposta pelos nazistas como forma de identificação.

Também aparece a expressão “varão de guerra”, retirada do livro do Êxodo, da Bíblia, usada para designar um homem poderoso, vencedor de batalhas e defensor de seu povo. Dentro da lógica do grupo, o termo reforça a ideia de que os integrantes atuam em uma guerra espiritual.

Joias apreendidas em MS são símbolos de 'guerra santa' de traficante pastor
Álvaro tem perfil violento e é acusado, também,  de intolerância religiosa (Foto: Divulgação | PRF)

Os pingentes ligados a Arão reforçam ainda mais a narrativa messiânica. Ao se associar a uma figura central da Bíblia, Peixão constrói a imagem de um líder escolhido, não apenas um chefe do tráfico, mas alguém que se apresenta como representante de uma missão divina.

Prisão - A tentativa de saída do país seguia uma rota estratégica por Mato Grosso do Sul. A esposa, três filhos e um sobrinho de Álvaro Malaquias Santa Rosa saíram do Rio de Janeiro de avião até Campo Grande e, daqui, seguiram pela BR-262 com destino a Corumbá, na fronteira com a Bolívia. A interceptação ocorreu ainda na Capital, por volta do meio-dia de segunda-feira (8), após alerta da Polícia Civil do Rio de Janeiro à Polícia Rodoviária Federal.

Peixão não estava nos veículos, mas com os familiares os policiais encontraram malas com diversas joias personalizadas, medalhões e relógios. O sobrinho afirmou ser o dono dos objetos, mas ele e a esposa do traficante foram presos em flagrante por suspeita de lavagem de dinheiro e vínculo com organização criminosa. Após depoimento, acabaram liberados.

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