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Capital

Promessa de cuidar das filhas não se cumpriu para mãe e pai mortos pela covid

Nem mesmo a covid fez Luiz ficar afastado da esposa, com quem viveu casamento de 32 anos

Lucia Morel | 09/04/2021 06:36
Stefáni, Mara, Giovanna e Luiz em viagem à praia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Stefáni, Mara, Giovanna e Luiz em viagem à praia. (Foto: Arquivo Pessoal)

No período de um mês e três dias, Stéfani, 29 e a irmã, Giovanna, 21 perderam o pai e mãe por causa da covid-19. Mara Lúcia de Abreu dos Santos, de 52 anos, foi a primeira a mostrar sintomas da doença, mas mesmo assim, o esposo, Luiz Augusto dos Santos, da mesma idade, não desgrudava dela.

Conforme Stéfani Tatiane de Abreu dos Santos, que é a mãe de primeira viagem de um menininho de 5 meses, a família desconfiava que Mara poderia estar com covid, mas nem isso fez Luiz se afastar dela. “A gente falava que precisava ficar longe, mas ele dormiu juntinho dela todas as noites, só deixou quando ela precisou internar”, contou.

Mara faleceu no dia 1º de março, dois dias depois de apresentar sintomas mais graves da doença. Internada, ela precisou ser intubada, mas teve uma parada cardiorrespiratória e faleceu.

Luiz e Mara com o netinho. (Foto: Arquivo Pessoal)
Luiz e Mara com o netinho. (Foto: Arquivo Pessoal)

Stéfani lembra, chorando, que conversou com a mãe antes dela ir para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). “Ela falou comigo e com minha irmã no dia que morreu. Ela disse que não ia responder mais (mensagem) porque estava muito cansada, mas que havia jantado bem. E disse que me amava”. A filha lembra ainda que a mãe enviou uma foto que a mostrava bastante debilitada.

Luiz ficou muito triste com a morte da esposa e ainda não havia sido internado quando ela faleceu. Dias antes, ele chegou a dizer que se a esposa morresse, ele morreria junto, mas no dia do enterro, que foi muito rápido, a promessa foi outra.

“No velório dela, ele prometeu cuidar de mim e da Giovana. Quando ele conseguiu a vaga pro Regional (hospital), ele falou que não ia desistir. Ele lutou. No segundo dia dele lá, a médica já falou que ele era dos mais graves, teve trombose pulmonar, mas ainda assim resistiu 25 dias. A saturação dele chegou a 56% na sexta-feira, mas ele aguentou até domingo, quando morreu”, conta a filha.

Última mensagem – o adeus de Stéfani e Giovanna ao pai foi exatamente na sexta-feira, 2 de abril, quando a médica que o acompanhava mais de perto permitiu uma ligação entre eles, mesmo com Luiz desacordado.

“Eu disse pra ele que meu filho começou a comer, que estávamos bem e esperando ele voltar. Que não importava o jeito que ele voltasse (com sequelas), mas que a gente precisava dele aqui, cuidando da gente”, disse a filha, bastante emocionada.

Suportando as perdas com ajuda da fé, Stéfani afirma que é a esperança da ressurreição que a mantém de pé, confiando que encontrará os pais no paraíso um dia.

“Não é achismo, é certeza que vamos nos encontrar no paraíso. Não consigo expressar nem sei como estamos suportando tudo isso, mas tenho certeza que vamos encontrá-los no paraíso”, se conforta.

Luiz ao lado da esposa, que sempre amou. (Foto: Arquivo Pessoal)
Luiz ao lado da esposa, que sempre amou. (Foto: Arquivo Pessoal)

A lembrança que fica, além do amor entre os pais, que durou 32 anos, é também a da alegria inabalável da mãe e da motivação do pai, que juntos, adoravam viajar e até tinham uma viagem para a praia marcada para maio deste ano.

A covid não permitiu que o plano se cumprisse, mas para a filha, apesar da dor e da saudade, a vontade agora é de ensinar o filho, Arthur, o caminho de amor e união ensinado pelos avós, que tão pouco puderam conviver com ele.

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