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Restos mortais reacendem mistérios não resolvidos do Maníaco do Segredo

João Leonel foi condenado a 28 anos de prisão, mas ainda há casos em julgamento

Por Gabi Cenciarelli | 06/12/2025 09:08
Restos mortais reacendem mistérios não resolvidos do Maníaco do Segredo
João Leonel quando foi preso em 2016 (Foto: Arquivo / Campo Grande News)

O aparecimento de um crânio humano nesta semana não apenas reacendeu a dor das famílias que procuram desaparecidos há anos, mas também levantou uma curiosidade macabra que explodiu entre leitores do Campo Grande News: afinal, por onde anda o Maníaco do Segredo?

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João Leonel da Silva, conhecido como Maníaco do Segredo, aterrorizou Campo Grande entre 2011 e 2016, atacando casais na região da Mata do Segredo. Com um padrão específico de atuação, ele rendia os casais, amarrava os homens e estuprava as mulheres, sempre usando capuz e roupas escuras. Preso em 2016, foi condenado a 28 anos de prisão por estupro, roubo e tentativa de latrocínio. É suspeito do desaparecimento de dois adolescentes em 2012, após celulares das vítimas serem encontrados em sua casa, e do assassinato de Diego Sá Barreto em 2016. Atualmente, cumpre pena no Instituto Penal de Campo Grande.

O nome do estuprador em série voltou aos comentários e às buscas porque celulares de dois jovens desaparecidos há quase 17 anos foram encontrados enterrados na casa onde ele morava. Com a repercussão do novo achado de restos mortais, o passado voltou à tona e trouxe de volta uma figura que, mesmo presa, ainda provoca inquietação.

João Leonel ficou conhecido como Maníaco do Segredo por causa do local onde atuava. A maior parte de seus ataques acontecia nos arredores da Mata do Segredo, uma área extensa de preservação ambiental que divide bairros como Nova Lima, Mata do Jacinto e Marquês de Herval.

O conjunto de ruas escuras, vielas de terra e trilhas em meio ao mato se tornou cenário para ataques que, por anos, seguiram o mesmo padrão. Ali, casais que buscavam privacidade passaram a conviver com o medo de serem surpreendidos por um agressor que parecia conhecer cada detalhe da região.

Restos mortais reacendem mistérios não resolvidos do Maníaco do Segredo

"Assinatura" do criminoso em série - As primeiras ocorrências relacionadas ao modo de atuação que mais tarde seria associado a ele surgiram ainda em 2009. Os relatos eram semelhantes: um homem armado, encapuzado, usando roupas largas e escuras. Ele surgia de repente, rendia o casal, roubava celulares e dinheiro e separava as vítimas. Os homens eram amarrados, humilhados e ameaçados.

As mulheres eram estupradas, obrigadas a caminhar pelo mato, muitas vezes ajoelhadas, sob ordens para não olhar para trás. Várias relataram que o agressor mudava propositadamente a voz e que parecia gravar as cenas. Quando alguém tentava fugir, ele atirava. Um dos homens baleados chegou a ficar em coma por cinco dias.

A investigação mostraria mais tarde que João Leonel agiu de forma organizada durante metade de uma década, entre 2011 e 2016. Ele usava luvas, preservativos e rotas de fuga. Fazia as vítimas entrarem na água ou caminharem longas distâncias para eliminar vestígios.

Escolhia locais em que a mata dificultava a aproximação de testemunhas ou câmeras de segurança. O conjunto de práticas levou investigadores a classificá-lo como um agressor com perfil de série, capaz de repetir com precisão o mesmo ritual.

O caso mais grave atribuído a ele ocorreu em fevereiro de 2016, quando Diego Sá Barreto, de 28 anos, foi morto a tiros em uma abordagem que reproduzia o modus operandi dos ataques. Diego estava em um encontro casual com uma mulher quando ambos foram surpreendidos pelo agressor.

A testemunha conseguiu fugir e pedir socorro, mas desapareceu durante a investigação. Diego foi encontrado caído, com os pés amarrados e marcas de disparo pelas costas. O caso demorou anos para avançar, mudou de delegacia e só virou ação penal em 2020. Ele responde pelo crime como réu por latrocínio, mas o processo ainda está em andamento.

Restos mortais reacendem mistérios não resolvidos do Maníaco do Segredo
João Leonel quando foi preso em 2016 (Foto: Arquivo / Campo Grande News)

Como foi preso? - A prisão que mudaria o rumo das investigações aconteceu meses depois. Em agosto de 2016, João Leonel foi detido por um roubo de notebook e levado à Derf (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos). Na delegacia, uma das vítimas dos ataques contra casais o reconheceu imediatamente.

A descrição batia com relatos antigos e com um relatório produzido por investigadores anos antes, que já apontava semelhanças entre ao menos seis ataques. Com o reconhecimento, a Polícia Civil conseguiu relacioná-lo a pelo menos sete episódios com o mesmo padrão. A coincidência mais marcante foi a interrupção total dos ataques após sua prisão.

Duas faces - Nos processos, suas falas são curtas, e ele nega todas as acusações. A violência dos crimes contrastava com o comportamento que ele adotava diante da polícia e da Justiça. Essa dualidade marcou as investigações. Para as vítimas, João Leonel era agressivo, falava impropérios, humilhava, ameaçava matar e demonstrava controle absoluto da situação.

Nos depoimentos oficiais, porém, aparecia um homem quase mudo, incapaz de sustentar o olhar, respondendo de forma monossilábica e repetindo que era inocente. Delegados e investigadores apontaram essa diferença como parte do perfil de criminosos organizados em série: dominam as cenas de ataque, mas se retraem diante da autoridade formal.

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 Corpo do Diego Sá Barreto, cuja morte é atribuída ao "maníaco" (Foto: Arquivo / Campo Grande News)

A ligação com o desaparecimento de Naiara e Wellington, em 2012, permanece um dos pontos mais delicados da trajetória dele. Os dois adolescentes saíram para esperar um ônibus e nunca mais voltaram. A investigação encontrou os celulares enterrados em sua casa, mas não conseguiu reunir provas que sustentassem um indiciamento. Sem corpos e sem evidências conclusivas, o caso foi arquivado. As famílias convivem até hoje com a falta de respostas. A mãe de Wellington chegou a ficar frente a frente com João Leonel em busca de explicações, mas saiu sem nenhuma.

"Eu tentei falar com ele quando foi preso, mas ele não quis falar comigo. Pensei que se uma mãe apelasse, ele poderia dizer o que aconteceu. Eu só quero um desfecho; nunca nos despedimos dos nossos filhos, já faz 17 anos. O que eu posso dizer é que eu o vi e, pelo olhar, ele era muito frio, muito frio mesmo", relata Suely Fernanda Afonso, mãe de Wellington.

Depois da prisão dele em 2016, foi condenado por estupro, roubo majorado e tentativa de latrocínio. As penas somadas chegam a 28 anos, com término previsto para 2032. Porém, ele deve ficar mais tempo preso porque ainda existem casos em julgamento. Ele cumpre pena na ala destinada a autores de crimes sexuais do Instituto Penal de Campo Grande.

João Leonel da Silva voltou à conversa porque, quase 17 anos atrás, dois jovens desapareceram no Bairro Nova Lima e nunca mais foram vistos. Os celulares de Naiara, de 17 anos, e de Wellington, de 14, foram encontrados enterrados no quintal da casa onde vivia João, o "Maníaco do Segredo". Nesta semana, o aparecimento do crânio fez a família suspeitar que poderia ser de um deles.

Leonel nunca foi indiciado por esse crime, por falta de provas, mas a "coincidência" colocou sobre ele uma sombra que nunca desapareceu. Com a descoberta dos restos humanos, a memória do desaparecimento voltou a doer e reacendeu o interesse pela história do principal suspeito, que nunca confessou o crime.

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João Leonel em registro de prisão (Foto: Processo penal)

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