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Capital

Sem comprovante de residência, diabético não consegue fazer exames pelo SUS

Paula Maciulevicius | 26/11/2011 13:55

Um dos critérios para cartão do SUS é ter comprovante de residência em nome do paciente. Dificuldade constatada pelo Campo Grande News

Ao fundo seo Osvaldo que não conseguiu fazer exames pelo SUS e o cliente da borracharia. “É um absurdo porque a saúde é um direito adquirido”, diz. (Foto: Simão Nogueira)
Ao fundo seo Osvaldo que não conseguiu fazer exames pelo SUS e o cliente da borracharia. “É um absurdo porque a saúde é um direito adquirido”, diz. (Foto: Simão Nogueira)

Com problemas de diabetes e um desmaio na última quarta-feira em decorrência da elevada taxa de açúcar no sangue, o borracheiro Osvaldo Ishimaro, de 55 anos, está de mãos atatadas. Para ter atendimento na rede municipal de saúde ele precisa do cartão do SUS (Sistema Único de Saúde) e esbarra justamente na burocracia.

Seo Osvaldo mora há 10 em Campo Grande, de favor, no mesmo local em que trabalha, em uma borracharia na região do bairro Amambaí. Um dos critérios exigidos pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), de ter comprovante de residência em nome do paciente, ele não corresponde. Não tem nenhuma conta de água, luz ou telefone em seu nome.

Na quarta-feira ele passou mal. Teve um desmaio e foi encaminhado pelo Samu até o posto Guanandy. De lá foi bem atendido, mas para ser medicado, precisava passar por uma bateria de exames. Nesse caminho seo Osvaldo não esperava que um documento pudesse impedí-lo de encarar os procedimentos.

O dono da borracharia juntamente com um cliente o levaram até o posto de saúde do Caiçara. Chegando lá a surpresa de que ele não poderia fazer os exames sem o cartão do SUS. O trio foi então até a Sesau, para solicitar o cartão que foi negado.

“Ele mora aqui, a luz é no nome de outra pessoa. É um absurdo porque a saúde é um direito adquirido, ele mora de favor, não tem nada no nome dele e ele pode morrer se não fizer a bateria de exames”, comenta o consultor ambiental Alfredo do Amaral, de 52 anos.

Segundo eles o médico pediu urgência nos exames que agora não tem se quer uma previsão de quando podem ser feitos.

Jovem de 25 anos não conseguiu fazer cartão porque mora com os pais e não possui nenhuma conta em seu nome. (Foto: Simão Nogueira)
Jovem de 25 anos não conseguiu fazer cartão porque mora com os pais e não possui nenhuma conta em seu nome. (Foto: Simão Nogueira)

“Eu preciso urgente”, diz o borracheiro.

De acordo com o patrão e o cliente do seo Osvaldo, o médico havia dito que o tratamento só poderia ser feito depois que todos os exames fossem realizados.

“A gente até pediu para dar um remédio, mas o médico disse que não podia sem antes ver as taxas”, comenta Alfredo.

Seo Osvaldo ainda mantém a calma, mas parece que não por muito tempo. O assunto é sério e merece destaque e até agora não parece ter tido uma solução.

Em contato com a assessoria de imprensa da Sesau, o Campo Grande News foi informado que eles obedecem normas do Ministério da Saúde, e que o órgão exige que o paciente comprove onde mora para fazer o cartão.

De acordo com a Sesau, na ausência do comprovante em nome do seo Osvaldo, o patrão ou dono da casa onde ele mora pode se responsabilizar. “Ele precisa procurar a assistência social, porque isso se trata de um problema social”, orientou a Secretaria.

Para o cliente que acompanha de perto toda a situação, a justificativa não convence. “O caso é grave e ele foi barrado. Não esperava exatamente por conta do lance quando acharam mais de mil carteirinhas jogadas. É um dinheiro mal usado. A Secretaria obriga o paciente ir até lá, você chega tem mil pessoas lá. É uma brincadeira deixar a população sujeita a essas coisas”, declara.

Seo Osvaldo não é o único a lidar com isso. Na fila para solicitar o cartão da Sesau, o Campo Grande News encontrou a jovem Érica Barão Silva, de 25 anos. Ela mora em casa, com os pais e a filha pequena.

Na hora de pedir o cartão, por ter 25 anos, não conseguiu. Só teria o direito à consultas e exames nos postos de saúde da Capital se apresentasse um comprovante em seu nome.

“Eu sempre morei ali, para que endereço melhor do que a casa dos pais da gente?”, questionou.

Ela respondeu que não sabe o que vai fazer e que não adianta voltar. “Não dá para vir semana que vem, não tenho nada, vou continuar sem”, explicou.

Segundo a Sesau, para comprovar residência vale contas de água, luz, telefone, boletos de cartão de créditos, telefones, mensalidade e até o documento do Enem. No caso de pacientes menores de 18 anos, vale o documento em nome do responsável.

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