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Capital

Usuários transformam ponto de encontro em "cracolândia" no Centro

Alan Diógenes e Marcelo Calazans | 06/03/2015 17:39
Usuários não se intimidam com presença de policiais e guardas municipais. (Foto: Marcelo Calazans)
Usuários não se intimidam com presença de policiais e guardas municipais. (Foto: Marcelo Calazans)

Quem passa pela Rua Barão do Rio Branco, próxima a antiga rodoviária de Campo Grande, não tem como não notar a grande quantidade de usuários de drogas reunidos em uma esquina. Comerciantes e moradores da região já definiram o local como uma “Cracolândia”. Sim, isso mesmo, semelhante aos dos grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

A presença de usuários, garotas de programa e travestis fazendo o uso de entorpecentes já virou cena rotineira do lugar. Eles ficam andando para lá e para cá, pedem dinheiro às pessoas e quando conseguem alguns trocados se reúnem na esquina da Barão do Rio Branco com a Rua Vasconcelos Fernandes.

A população tem opiniões e visões diferentes sobre o fato. De um lado estão aqueles que só estão preocupados com a segurança, temem sofrer algum tipo de violência por parte destes indivíduos e não gostam deste visual para a cidade. Do outro, estão aquelas pessoas que enxergam os usuários com um olhar mais solidário e querem ajudar de alguma forma essas pessoas a largar o vício.

A comerciante Constantina Lemes, 78 anos, é proprietária de um restaurante que funciona há 30 anos na região. Ela conta que quando comprou o estabelecimento, já existia a aglomeração de usuários de drogas. “Nossa! Antigamente era um grupo de 60 ou mais pessoas. Era gente baleada, esfaqueada, era gente morta todo santo dia”, mencionou.

Constantina sente na pele o reflexo da situação. “Está difícil manter o restaurante porque ninguém mais quer vir aqui por medo. Não sei mais o que faço sem clientes. O pior é que a Guarda Municipal só passa, mas não faz nada”, destacou.

O carteiro Wilson Muniz, 50, que trabalha no Correios em frente à ““Cracolândia”, falou que quando chega ao serviço às 6h30 o grupo de usuários já está no lugar. “Está feio o negócio, eles vivem aí. Dormem, comem, usam drogas e depois saem para pedir dinheiro nos semáforos”, apontou.

Usuários dormem no meio das calçadas. (Foto: Marcelo Calazans)
Usuários dormem no meio das calçadas. (Foto: Marcelo Calazans)
Esposa de usuário as vezes o leva para casa para ver os 8 filhos, mas ele acaba retornando para as ruas. (Foto: Marcelo Calazans)
Esposa de usuário as vezes o leva para casa para ver os 8 filhos, mas ele acaba retornando para as ruas. (Foto: Marcelo Calazans)

O comerciante José Francisco Neto, 59, já teve a banca de revistas danificada várias vezes pelos usuários. “Eles já arrombaram várias vezes, para não bastar botaram fogo esses dias, queimou tudo minhas coisas. Eles urinam em frente à banca. Na verdade estão parecendo zumbis, mortos vivos”, destacou.

O jornalista José Antônio Abdala, 43, chegou em Campo Grande há poucos dias e afirma não ter visto nada igual. “Já passei por 50 cidades em minha vida e nunca tinha visto isso. Causa comoção de ver a que ponto o ser humano pode chegar”, salientou.

Um dos usuários, que pediu para não ser identificado, falou que tem oito filhos e a esposa passa todos os dias no local, e as vezes consegue levá-lo para casa. “Mas não adianta, não consigo largar o vício e acabo voltando para a rua. Pior é que já fui gente, trabalhava em um hotel conhecido da cidade”, desabafou.

Já Eliz, 26 anos, faz uso de crack desde o 14 anos. Ela veio do Paraná e está sozinha na Capital. Vítima de diversas agressões a usuária contou um pouco de sua história. “Já levei facada, tiro e tudo o que você imaginar”. Ela pede que as pessoas olhem com carinho para os usuários. “Nem todos somos bandidos e as vezes a Polícia Militar e a Guarda Municipal age com truculência com a gente”, finalizou.

Conforme o presidente do Conselho de Segurança da área central, Adelaido Luiz Espinosa Vila, 45, orgão tem trablhao para exterminar este problema, no sentido de pedir ajuda ao Ministério Público e prefeitura para poder dar assistência social e saúde aos usuários como um tratamento. Segundo ele, grande parte desses usuários veio do Nordeste trabalhar no setor da construção civil e em canaviais, mas acabaram sendo demitidos e foram para as ruas.

A Polícia Militar e Guarda Municipal informaram que a informação de truculência com os usuários não procede. Em conjunto, os orgãos realizam um trabalho de fiscalização. Os usuários são abordados e se tiverem fazendo o uso de entorpecentes no momento, são encaminhados à delegacia para prestar depoimento.

Em seguida entre o projeto Consultório de Rua desenvolvido pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) que faz o acompanhamento destes usuários e os encaminham ao tratamento de desintoxicação. Os funcionários também levam preservativos e fazem exames de HIV e doenças sexualmente transmíssiveis e trabalhos de prevenção. Boa parte destes usuários são encaminhados ao Cetremi (Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante).

Projeto até que tenta, mas usuários acabam rendendo ao vício. (Foto: Marcelo Calazans)
Projeto até que tenta, mas usuários acabam rendendo ao vício. (Foto: Marcelo Calazans)
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