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Capital

Vizinhos até evitam rua onde igreja continua aglomerando, mesmo após interdição

“A gente não sabe mais o que fazer. Fazemos denúncias anônimas, chamamos a polícia, mas sempre continuam abrindo”, diz morador

Izabela Sanchez e Aletheya Alves | 09/08/2020 15:19
Na semana passada, pastor que dá nome à placa até usou barra de ferro para resisitir à fiscalização (Foto: Marcos Maluf)
Na semana passada, pastor que dá nome à placa até usou barra de ferro para resisitir à fiscalização (Foto: Marcos Maluf)

No Jardim Centro-Oeste, bairro distante do centro da Capital e quase fora da cidade, a Igreja “Pai, Filho e Espírito Santo” ficou famosa Brasil afora depois que o pastor Paulo Ferreira, fundador da igreja, chegou a ser preso por desacato e até ameaçou a fiscalização da Prefeitura com barra de ferro na última semana. Dias depois, a igreja segue funcionando e os vizinhos até atravessam a rua para fugir dos cultos aglomerados.

O pastor adota um discurso negacionista sobre os perigos do novo coronavírus. Na última semana, a fala “destemida” foi recheada de acusações contra as autoridades e um autoelogio: “Ainda tem profeta de Deus na terra”.

“Não vou fechar, estou seguindo a ordem de Deus. A Justiça da terra é para prender bandido, traficante. Não para fechar igreja”, declarou na ocasião.

Na manhã deste domingo (9), a reportagem foi até a Avenida Marajoara onde a igreja funciona e conversou com vizinhos da igreja.

Com 60 anos, Claudete evita passa na igreja porque teme a contaminação (Foto: Marcos Maluf)
Com 60 anos, Claudete evita passa na igreja porque teme a contaminação (Foto: Marcos Maluf)

Quem mora ao lado do culto segue com medo de ser contaminado. Esses moradores relataram celebrações lotadas e disseram até mudar de rua quando precisam “sair por necessidade”. Ao Campo Grande News, eles também contaram que os casos de covid pipocam nos arredores da igreja.

É o que afirma Claudete Dauzaker, 60. Ela disse que a igreja apenas “ficou dois dias fechada depois da fiscalização”. Ela disse ter ficado incomodada porque no mesmo dia em que a igreja foi lacrada, lá estava o pastor fazendo churrasco. “Estou muito preocupada e incomodada”, disse.

“Chega de noite a gente precisa sair de casa, temos que passar do outro lado da rua, de tanto medo. Eles não mantêm distância e continua lotando todas as noites”, afirma ela. “Conheço pessoas que tiveram covid, além das pessoas que moram por perto. Já tenho medo e tento não sair de casa e com isso fico ainda mais. Uma vizinha próxima está com covid”, disse ela.

Ivanildo já está cansado de denunciar e nada acontecer (Foto: Marcos Maluf)
Ivanildo já está cansado de denunciar e nada acontecer (Foto: Marcos Maluf)

É o que também afirmou o pedreiro Ivanildo Macedo, 53, e disse que os moradores “já não sabem mais o que fazer”.

“A gente não sabe mais o que fazer. Fazemos denúncias anônimas, chamamos a polícia, mas sempre continuam abrindo. Tem idoso, criança, todo tipo de gente, eles não param, não adianta. Ontem estava indo na feira e até atravessei a rua, com medo”, relatou o trabalhador.

“Sinto agonia, não é brincadeira. Eu também acredito em Deus, mas a gente sabe que precisa respeitar as regras que estão impostas. A igreja precisa entender isso e as pessoas também”, defende Ivanildo.

A reportagem foi até a igreja, mas o pastor não estava lá. No local, apenas uma mulher limpava o espaço e não quis falar. Por telefone, o pastor disse que “não dá entrevistas”. O Campo Grande News também procurou o Conselho de Pastores, organização que une parte dos líderes evangélicos em Mato Grosso do Sul, mas não conseguiu contato com o presidente e o vice-presidente da associação.



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