ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  26    CAMPO GRANDE 24º

Cidades

De bingo a consórcio: recursos do século passado para salvar hospitais

"Saúde não tem preço, mas tem custo e o custo é alto", diz presidente de federação

Aline dos Santos | 14/08/2014 10:17
De bingo a consórcio: recursos do século passado para salvar hospitais
Com bingo, hospital de Guia Lopes arrecadou R$ 40 mil. Valor equivale a 4% da maior dívida. (Foto Divulgação)
Com bingo, hospital de Guia Lopes arrecadou R$ 40 mil. Valor equivale a 4% da maior dívida. (Foto Divulgação)

Rifa, bingo, trabalho voluntário, consórcio de cidades. A lista é longa e traz soluções até do início do século passado para que as entidades filantrópicas mantenham o atendimento aos pacientes. Se na década de 20, o carroceiro José Mustafá, o Zé Bonito transportou por quatro anos e de forma voluntária os materiais para construção da Santa Casa de Campo Grande; atualmente é um bingo que dá sobrevida ao hospital Edelmira Nune Oliveira, em Guia Lopes da Laguna.

No município a 227 quilômetros de Campo Grande e com população de 10.287 habitantes, o bingo arrecadou R$ 60 mil. Para o hospital, devem sobrar R$ 48 mil, valor que será investidos nas despesas operacionais. O dinheiro, por exemplo, equivale a 4% da maior dívida. “Temos uma dívida de energia de quase R$ 1 milhão, a conta de água é de R$ 300 mil”, afirma o presidente do hospital, Cláudio Marques.

Segundo ele, os serviços não podem ser suspensos, mas Enersul e Sanesul processam o hospital. Os problemas financeiros ainda incluem o atraso há dois meses do repasse municipal de R$ 96 mil, que pode levar os médicos a cruzarem os braços.

Conforme Cláudio Marques, a receita mensal não chega R$ 140 mil, resultado dos R$ 96 mil da Prefeitura, R$ 6.700 do governo do Estado e faturamento de R$ 35 mil do SUS (Sistema Único de Saúde). Porém, o gasto por mês é de R$ 160 mil. “Para manter o hospital, precisaríamos de R$ 200 mil, no mínimo”, diz.

Inaugurada há dez anos e com nome de Hospital Regional, a unidade atende urgência, ambulatório e realiza partos e cirurgias. Segundo a direção, são cinco médicos plantonistas e seis médicos na equipe cirúrgica. De acordo com o presidente, que assumiu há 60 dias, o hospital só tem o título de HR, situação que pretende esclarecer na SES (Secretaria Estadual de Saúde).

Em Nioaque, Prefeitura aplica mais de 30% do orçamento mensal em saúde. (Foto: Marcelo Calazans)
Em Nioaque, Prefeitura aplica mais de 30% do orçamento mensal em saúde. (Foto: Marcelo Calazans)

Consórcio - Na região de Guia Lopes, o município de Nioaque tem um hospital fechado desde 2009. De acordo com o prefeito Gerson Garcia Serpa (PSB) as cidades vizinhas formaram um convênio e pretendem construir um Hospital Regional em Jardim. “Atenderia Porto Murtinho, Caracol, Bela Vista, Bonito, Nioaque e Guia Lopes”, afirma. O custo da obra é de R$ 4 milhões, bancados por emenda parlamentar.

Sem hospital, o prefeito afirma investir mais de 30% da receita mensal em saúde. O custo com o setor é de R$ 700 mil, enquanto a arrecadação é de R$ 2,2 milhões por mês. São sete médicos e três ambulâncias em Nioaque. “Tem médico que ganha R$ 27 mil. Saúde e educação tiram todo o nosso recurso. Não consegue fazer outras coisas, não pode tocar uma obra”, diz.

Primeiro mundo – Para a direção do hospital de Guia Lopes, a unidade de referência para a região deve ser a do município. “Tem o Centro de Diagnóstico mantido pela associação New Hope. São aparelhos de última geração. Faz exames cardiológico, endoscopia, colonoscopia. Além disso, Guia lopes está no centro da região Sudoeste”, afirma Cláudio Marques.

Caos - Segundo a presidente da Febesul (Federação das Instituições Filantrópicas e Beneficentes de Mato Grosso do Sul), Rosa Conceição da Costa Vila Boas, há hospitais que vivem o colapso. “Outros conseguem tocar o barco. Mas dizer que algum hospital está bem financeiramente é algo difícil”, pondera. A entidade não tem levantamento do valor total da dívida dos filantrópicos no Estado.

Para ela, a solução depende de nova contratualização. “Não teve reajuste nos últimos anos. Precisa de recursos financeiros. Saúde não tem preço, mas tem custo e o custo é alto. Não tem outro camino se não tiver dinheiro para equilibrar suas contas”, diz.

Nos siga no Google Notícias