Assassino de jovem de 17 anos usa carta da ex-cunhada para evitar condenação

“A Nicole não podemos mais ver infelizmente e saiba que já te perdoei pois Deus pediu pra mim te perdoa”.

Este é o trecho da carta enviada pela irmã de Nicole Teixeira de Amorim ao ex-cunhado Felipe da Silva Gomes, 19 anos. O rapaz está preso desde o ano passado depois de ter matado a companheira, então com 17 anos, a tiros de espingarda no peito e na cabeça, na frente do filho do casal, de apenas dois meses de idade.

O crime aconteceu no dia 19 de janeiro do ano passado, em São Gabriel do Oeste, a 140 quilômetros de Campo Grande. Desde que foi detido, permanece no estabelecimento penal de Coxim.

Felipe Gomes foi acusado de homicídio, qualificado pelo feminicídio e motivação torpe, com agravante do crime ter sido cometido até 3 meses após o parto e na presença do filho. Também foi acusado pela posse e porte ilegal de arma de fogo.

A carta foi escrita no dia 11 de junho de 2020, quase cinco meses depois do crime cometido contra Nicole e foi anexada pela defensora pública Anna Cláudia Rodrigues Santos, como instrumento de defesa de Felipe Gomes, quando o caso for a julgamento.

No texto, a jovem fala que entende como deve ser difícil para Felipe ficar longe do filho e da Nick e fala que o perdoou.

Em seguida, conta que sonhou com a irmã. “Nick me visitou no meu sonho ela disse que te ama demais e que te perdoa, pois você não tem culpa pois precisava ser assim”.

Ela descreve como está o filho do casal, “com 4 dentes, quase engatinhando”. Descreve o sofrimento da família e dos pais dele, que tem visitado a criança. Na carta, ela também questiona o rapaz: “Felipe, você não tem noção como isso afetou as duas famílias tinha umas pessoas que era próximas de você e da Nick falando que você batia na Nicole (...).

No texto, ela reafirma o amor e a fidelidade da irmã por ele. Diz que a irmã o amou “até o último suspiro” e somente disse que estava traindo o rapaz para que ele fosse embora.

 “Sei que você vai passar o dia dos pais aí infelizmente, o M**** tem a mesma mancha no olho que você tem e você ainda tem dúvidas se ele é ou não é o seu filho. Ele é o seu filho, seu fruto com a Nick”.

“(...) fiquei sabendo o que você fez eu fiquei com raiva e ódio de você estava pensando em te mata, mas aí eu orei pra Deus tira isso da minha cabeça, pois você era um irmão pra mim, e ia ser uma tragédia maior”.

No fim, pede que Deus o transforme em uma pessoa melhor.

O crime – No dia 19 de janeiro de 2020, por volta das 6h, Felipe Gomes voltou para casa, no bairro Primo Maffissoni, depois de ter passado a noite ingerindo bebida alcoólica e ter usado cocaína em uma festa.

Os dois discutiram e Felipe pegou a arma que era mantida em cima do guarda-roupas, uma espingarda calibre .22 e atirou em Nicole, no peito. Ela tentou correr, mas caiu na porta do banheiro, momento que ele atirou novamente, na cabeça da vítima.

Depois disso, saiu de casa e procurou o pai, contando o que tinha acontecido, sendo orientado a procurar a polícia. Ao se entregar, com “aparente euforia”, conforme registro da ocorrência na PM (Polícia Militar), contou que havia “matado sua esposa”. Com frieza, conforme registro inicial do caso, na Polícia Militar, disse que “não havia perdão” para o que ela havia feito.

Felipe relatou que os dois já tiveram outras brigas, por conta de uma traição dela, mas tinha reatada. Naquele dia, durante a discussão, ela teria dito que o havia “traído umas três vezes”. O rapaz pegou espingarda no quarto e começou a municiar a arma. Nicole, na versão dele, ria e debochava.

Em seguida, ele apontou a arma e atirou em Nicole.

A polícia foi até a casa deles e encontrou o pai da jovem, que tentava socorrê-la, em vão. No imóvel, a polícia encontrou 18 gramas de maconha, a espingarda, além de 30 munições, sendo 9 deflagradas.

No processo, consta que a Defensoria Pública tentou derrubar pelo menos a tese de motivação torpe, mas teve recurso negado pela Justiça.