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Interior

Com doce, agente de saúde tira índios da estrada no Dia das Crianças

Crianças indígenas costumam ir para a beira da rodovia esperar doação de brinquedos em Dourados; situação é comovente, mas poucos aparecem para presentear os pequenos

Helio de Freitas, de Dourados | 12/10/2016 08:15
Fernanda, as irmãs Jenifer e Ketlin e a mãe, Edilene (Foto: Helio de Freitas)
Fernanda, as irmãs Jenifer e Ketlin e a mãe, Edilene (Foto: Helio de Freitas)
Feliz com pacote de doce, Lucas pediu para aparecer na foto (Foto:  Helio de Freitas)
Feliz com pacote de doce, Lucas pediu para aparecer na foto (Foto: Helio de Freitas)

Todo 12 de outubro, o Dia das Crianças, dezenas de pequenos moradores da reserva indígena de Dourados vão logo cedo para a beira da estrada. Os pequenos guarani-kaiowá se aglomeram na margem da MS-156, que liga Dourados a Itaporã, para esperar por um presente.

Essa é a realidade da maioria das sete mil crianças que habitam a mais populosa reserva indígena do país. Localizado em Dourados, a 233 km de Campo Grande, o conglomerado de casas formado pelas aldeias Bororó e Jaguapiru tem a maior população do Brasil. Já passa de 16 mil pessoas.

"É triste ver crianças na beira da estrada logo cedo esperando que alguém traga um presente no dia delas. Eu mesmo já comprei balas e entreguei para essas crianças porque sabia que ninguém ia aparecer", afirmou ao Campo Grande News o presidente do conselho local de saúde indígena Leoson Mariano.

Na segunda-feira (10), a agente de saúde Sandra Freitas, mulher de Leoson, reuniu as crianças do grupo de famílias que ela atende para entregar um pacote de doces a cada uma delas.

Sandra aproveitou o dia de pesagem de crianças e mães atendidas pelo programa Bolsa Família para fazer a entrega, em uma igreja evangélica da aldeia Jaguapiru.

Nenhuma criança sabia do ocorrido e não escondia a alegria de ganhar um pequeno presente dois dias antes da data de festa para todas elas no Brasil.

"Estou feliz pelo presente. Gosto de ser criança aqui na aldeia", disse a estudante Fernanda, 11, que foi com a mãe Edilene e as irmãs Jenifer, 7, e Ketlin, 4. No sexto ano, Fernanda quer ser veterinária.

Assim como as três irmãs, várias outras crianças foram até o local de atendimento da equipe de saúde e saiu de lá com um pequeno pacote de doces e com a felicidade nos olhos. Como o pequeno Lucas, 5, que pediu para a mãe para tirar uma foto com a lembrança. Depois fez questão de ver como a imagem ficou no visor da câmera e saiu sorrindo ao lado da mãe.

As agentes de saúde Lucineide e Sandra (Foto: Helio de Freitas)
As agentes de saúde Lucineide e Sandra (Foto: Helio de Freitas)

Lucineide Martins, outra agente de saúde que atende na aldeia Jaguapiru, elogiou a iniciativa da amiga Sandra e disse que vai copiar a ideia no ano que vem.

"Ela correu atrás de patrocínio. Pediu ajuda de um e de outro para conseguir comprar esses doces e fazer as crianças felizes", disse Lucineide.

Segundo Sandra, apesar da grande dificuldade de muitas famílias, a situação está melhor para os guarani-kaiowá de Dourados. "Entre as famílias que atendo não temos criança desnutrida e todas estão com boa saúde. Esse resultado se deve a uma série de fatores, como maior conscientização das mães e o próprio Bolsa Família, que ajuda bastante".

Faltam equipes - Leoson Mariano disse que entre tantos problemas existentes na reserva, o número reduzido de equipes de saúde e a falta de veículos para transporte até o hospital pioram a situação dos moradores.

"As equipes de agentes de saúde daqui atendem mais famílias que as equipes da cidade. Os carros da Sesai ficam longe das aldeias, o que atrasa o socorro aos moradores", afirmou Leoson.

A droga e o álcool que entram na reserva também são uma ameaça para as crianças indígenas de Dourados. A proximidade das aldeias com a cidade também favorece o crime.

“Trazem coisas roubadas na cidade para vender aqui. A violência também preocupa. Aumentou muito nos últimos tempos. Precisamos de mais apoio e atenção das autoridades”, afirma Leoson.

Crianças da aldeia Jaguapiru, em Dourados (Foto: Helio de Freitas)
Crianças da aldeia Jaguapiru, em Dourados (Foto: Helio de Freitas)
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