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Em Pauta

A verdade está na cara. É possível decifrá-la?

Mário Sérgio Lorenzetto | 24/06/2019 06:27
A verdade está na cara. É possível decifrá-la?

Basta engatar uma conversa com alguém para um turbilhão inconsciente invadir teu cérebro. Não há exceção, a tua mente sempre tenta descobrir o que o outro está pensando e sentindo de verdade. Vamos ao exemplo clássico: se você conhecer duas pessoas em um dia, pode muito bem ficar com impressões completamente opostas de cada uma, mesmo que o teor da conversa tenha sido exatamente o mesmo. Uma pode lhe parecer simpática e a outra falsa.
Isso acontece porque a comunicação verbal não vale nada para o seu inconsciente. O que ele capta são as expressões faciais do outro. Se uma daquelas pessoas riu durante a conversa, mas sem mover os olhos, seu cérebro saberá que aquelo riso é forjado. Você pode nem perceber que viu um sorriso de mentira. Mas seu cérebro percebe. E isso afetará o julgamento que você faz do interlocutor.

A verdade está na cara. É possível decifrá-la?

A análise de expressões faciais.

Instinto. Sim, ele existe e vem sendo estudado pela ciência. A análise de expressões faciais é tão instintiva que, se você cutuca um bebê que está na dele, brincando, ele imediatamente olhará em teu rosto para saber se você é uma ameaça. E, se você simular que é uma ameaça, fazendo uma careta, ele dará logo seu sinal de desaprovação. Nada é mais amedrontador para um bebê que nasce sabendo ler expressões faciais do que um monte de músculos distorcidos na face de um adulto.

A verdade está na cara. É possível decifrá-la?

Uma ciência que ainda engatinha.

Teríamos um novo mundo se entendêssemos a ler totalmente a verdade na cara dos outros. Apesar de fundamental, isso de ler a mente dos outros a partir de expressões sutis do rosto é uma ciência pouco estudada. Quase tudo que se sabe disso vem do trabalho de dois cientistas: Silvan Tomkins, um psicólogo da Universidade de Princeton e Paul Ekman, seu pupilo, hoje professor aposentado da Universidade da Califórnia. Os dois, por sinal, serviram de inspiração para a construção do personagem Carl Lightman, protagonista da série "Lie to me" (Minta para mim).
Paul Ekman fundamentou todo seu trabalho observando as micro-expressões. Ele catalogou, uma a uma, cerca de 3 mil combinações de movimentos musculares do rosto. O resultado foi um mapa quase completo das expressões humanas. Se isso foi incrível, o principal veio depois. Após estudar por muito tempo vídeos de milhares de pessoas, Ekman percebeu a presença constante de movimentos faciais que duram uma fração de segundo. São movimentos correspondentes a emoções que, pelo visto, as pessoas estavam tentando ocultar.

A verdade está na cara. É possível decifrá-la?

Micro-expressões de bom humor não enganam.

Alguém simulando bom humor, por exemplo, pode mostrar, muito brevemente, os lábios estreitados que caracterizam uma expressão de raiva. A mera existência das micro-expressões significa que nossos instintos podem ser capazes de ler a mente dos outros de forma muito mais complexa do que detectar sorrisos falsos. Tomkins, o psicólogo de Princeton que o diga. Demonstrou a Lightman que nossas emoções são incrivelmente passíveis de leitura.

A verdade está na cara. É possível decifrá-la?

Violência e homossexualidade: a prova de Papua Nova Guiné.

Um dia Tomkins foi visitar Ekman em seu laboratório enquanto ele estudava as expressões de nativos de Papua Nova Guiné. Algumas imagens eram da tribo "Fore", um povo muito pacífico. Outras eram do povo "Kukukuku", um grupo guerreiro e sodomita, que obrigava os jovens da tribo a fazer sexo com os mais velhos. Tomkins não sabia de nada disso quando começou a ver as imagens no laboratório. Mas então olhou para uma foto dos Fore e disse: "Hummm... Esse povo me parece muito educado e gentil". E, em seguida, apontou para a de um Kukukuku, afirmando: "Este outro é violento, e estou vendo evidências de homossexualidade". Ekman ficou de queixo caído. Quando perguntou como Tomkins tinha adivinhado, o mestre só apontou para pequenas rugas e protuberâncias que caracterizavam as expressões nos rostos dos fotografados. Era tudo que ele precisava para entrar na mente deles.

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