ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  26    CAMPO GRANDE 32º

Em Pauta

Fogo para banir cobras. Um pouco de agricultura indígena

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/11/2019 06:30
Fogo para banir cobras. Um pouco de agricultura indígena

Por volta de 1.500, centenas de povos indígenas dependiam da agricultura para sobreviver. Os estudos atuais mostram que os cultivos eram regionalizados. Áreas de mandioca estavam no litoral, na bacia amazônica e no sul do país. Áreas de milho - que os portugueses odiavam comer - iam do extremo sul até São Paulo. Nós, do Centro-Oeste, estávamos na área da batata-doce. Esses três itens alimentares eram quase sempre associados a abóboras e carás.

Fogo para banir cobras. Um pouco de agricultura indígena
Fogo para banir cobras. Um pouco de agricultura indígena

A agricultura envolvia homens e mulheres.

Havia um certo método na agricultura indígena. Envolvia homens e mulheres. Primeiramente, cortavam as árvores e deixavam-nas secar de um a três meses. Nessa etapa empregavam machados de pedra e fogo. O fogo era considerado um recurso eficaz para limpar a área, fertilizar a terra com cinzas e, acreditem, eliminar cobras.
Logo a seguir, acontecia a "coivara". Tal atividade consistia em reunir o restos de madeira em montículos - como até hoje é feito em muitas fazendas - queimando-os novamente, efetuando-se em seguida, a limpeza final do terreno. Uma vez encerrada essa etapa, terminava o ciclo masculino de trabalho. Entravam as mulheres na faina. Eram elas que plantavam, erradicavam as ervas daninhas e retiravam raízes que considerassem inúteis.

Fogo para banir cobras. Um pouco de agricultura indígena
Fogo para banir cobras. Um pouco de agricultura indígena

Abandonavam a terra após duas ou três colheitas.

Após duas ou três colheitas - que ocorriam a cada ano e meio -, abandonava-se a clareira que havia sido aberta na mata. As aldeias eram desfeitas. Procuravam um novo lugar para viver. O fogo era novamente utilizado e o ciclo era repetido. Preparar os alimentos era uma tarefa feminina. Pilavam ou raspavam as raízes secas ou tenras com uma grossa casca de árvore toda engastada de pedrinhas bem duras. Faziam uma massa com a mandioca, batata-doce ou milho. E dela, extraíam um tipo de farinha. Essa farinha era usada como acompanhamento de carnes, de peixes e até de frutas. Inicialmente, os europeus a comparavam com o pão que existia em seus países. Eles eram de uma civilização do trigo. E fracassaram ao tentar reproduzir por aqui a lavoura europeia. Restava-lhes apenas adotar os costumes dos indígenas.
Fogo. Fogo era seu método, instrumento e costume. O resto - índio preservando floresta, ecologista - é lenda criada há bem poucos anos. Não destruíam tudo ou quase tudo - como os brancos agora fazem - devido ao diminuto tamanho das áreas que utilizavam para a agricultura, em comparação com a imensidão do território que estava a seu dispor.

Fogo para banir cobras. Um pouco de agricultura indígena
Nos siga no Google Notícias