Bingo, zona, túnel do crime... lugares onde já aconteceu de tudo na Capital
Alguns endereços que muita gente nem imagina o que já funcionou também constroem a memória de Campo Grande

Ao longo de 126 anos, Campo Grande se transformou. A Capital sul-mato-grossense, que comemora aniversário nesta terça-feira (26), viu nascer, crescer e se descaracterizar lugares que marcaram capítulos importantes de sua trajetória. Muitos deles já não carregam mais a mesma aparência, e as novas gerações, muitas vezes, nem imaginam o que aconteceu nesses endereços que hoje se misturam ao ritmo moderno da cidade.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Campo Grande completa 126 anos e carrega consigo histórias marcantes em seus edifícios. Locais que já abrigaram bingos, clínicas de aborto, casas noturnas e até palco de crimes elaborados, hoje se misturam à paisagem urbana, desconhecidos pelas novas gerações. Um exemplo é o antigo prédio de uma clínica de aborto, palco do maior processo do tipo no país, hoje deteriorado e ocupado por usuários de drogas. O caso, que ganhou repercussão internacional através de um podcast, ainda vive na memória de moradores antigos. Outros locais, como o túnel cavado para assaltar um banco, bingos fechados após proibição federal e a antiga boate Enigma, também fazem parte da história da cidade. Enquanto alguns prédios foram reaproveitados como concessionárias, restaurantes e clínicas, outros permanecem abandonados ou transformados em depósitos, guardando silenciosamente as memórias de um passado vibrante e, por vezes, obscuro.
Em diferentes pontos do Centro e dos bairros, funcionaram espaços que se tornaram referência para gerações passadas. De antigos cinemas a clubes, passando bingos e até imóveis que sediaram acontecimentos de repercussão nacional, cada endereço traz um pedaço da identidade campo-grandense.
A seguir, você confere alguns desses endereços que guardam memórias de diferentes épocas e ajudam a contar os 126 anos da Capital:
Clínica de Aborto - Um sobrado abandonado na esquina das ruas Dom Aquino e General Osório, guarda um dos capítulos mais tristes da história da cidade. O prédio, hoje deteriorado e usado por dependentes químicos, foi cenário do maior processo de crimes de aborto do Brasil, que ganhou repercussão nacional e até prêmio internacional em podcast.
A chamada “Clínica de Planejamento Familiar” funcionou por mais de 20 anos e foi fechada em 2007, após investigação apontar a realização de mais de 10 mil procedimentos ilegais, que chegavam a custar R$ 20 mil. A proprietária, Neide Machado, iria a julgamento, mas foi encontrada morta no fim de 2009. A polícia concluiu que foi suicídio. Em abril de 2010, ex-funcionárias foram condenadas por aborto ilegal.
Em agosto de 2023, o caso voltou ao noticiário com o podcast Caso das 10 Mil, da Folha de São Paulo, que venceu o International Women's Podcast Awards na categoria de produções em língua não-inglesa, dando ao episódio local destaque internacional.
Cleusa Costa, de 85 anos, vive na rua desde criança. Ela lembra bem quando começaram os comentários sobre a clínica. “Até a minha filha, que é dentista, estava se formando e ia procurar uma sala lá. Logo depois, a gente ficou sabendo que era uma clínica de aborto. Aí ela falou: ‘Graças a Deus que eu não consegui achar a sala lá’”, conta.
Com o passar dos anos, a rotina do local mudou, mas sempre cercada de mistério.“Passado muito tempo, eu trabalhava com estética e veio uma moça que falou que tinha feito um aborto lá, que era por sucção. Meu Deus do céu”, recorda a moradora, citando que o episódio teria ocorrido nos anos 90.
Após o fechamento, o prédio ainda teve outros usos. “Virou casa de repouso, depois creche para adultos, mas acabou fechando de vez deve ter uns 5 anos”, lembra Cleusa.
Endereço de um crime quase perfeito - Em dezembro de 2019, um túnel de 70 metros foi aberto durante plano de assalto à Central Administrativa do Banco do Brasil, no Bairro Coronel Antonino. O corredor cavado por uma quadrilha a partir de uma residência na Rua Minas Gerais, a cerca de uma quadra da agência, foi descoberto pela Polícia Civil.

Conforme a polícia, as escavações para viabilizar o roubo duraram seis meses. Porém, o Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros) agiu para interromper o plano com a prisão de sete pessoas e morte de outros dois membros da quadrilha.
As apurações concluíram que o lucro obtido com o crime seria dividido entre os nove participantes identificados. A operacionalização do esquema já custava R$ 1 milhão. Os homens que trabalhavam na escavação recebiam R$ 2 mil por semana pelo trabalho. O plano de roubar o banco era arquitetado há pelo menos três anos.
"Vim trabalhar aqui perto depois que tudo aconteceu, mas todo mundo aqui na região sabe da história. Na empresa em que trabalho até virou motivo de brincadeira entre o pessoal", conta uma mulher que trabalha na região e preferiu não ser identificada
Bingos e casas de aposta - Pela cidade, poucos percebem que alguns prédios guardam histórias de uma época em que a sorte era um atrativo campo-grandense. Antes da proibição em 2004, os bingos eram locais de encontro na cidade.
Nos anos 1980 e 1990, a cidade respirava expectativa em torno das rodadas. Em 1989, um bingo no estádio Morenão tinha como prêmio um carro zero quilômetro, exposto no gramado.
Em 2004, o governo federal proibiu a exploração de bingos e caça-níqueis. Em Campo Grande, decisões judiciais ainda mantiveram o setor de pé por mais três anos, até que, em abril de 2007, a Polícia Federal fechou três bingos e duas casas de jogos de uma só vez.
Na Rua 14 de Julho, quase esquina com a Fernando Corrêa da Costa, funcionou um dos bingos conhecidos. Hoje, o prédio abriga uma concessionária de automóveis. “Sabemos que aqui já foi agência bancária porque tem um cofre gigante, mas não sabíamos nada sobre bingo”, comentou um funcionário.
Outro ponto fica na Rua Dom Aquino, próximo ao cruzamento com a 13 de Maio. Ali, o passado de apostas deu lugar a um restaurante e à clínica do Sesc.
Cinemão da Rodoviária - Ao longo de 126 anos, Campo Grande se transformou. A Capital sul-mato-grossense, que comemora aniversário nesta terça-feira (26), viu nascer, crescer e se descaracterizar lugares que marcaram capítulos importantes de sua trajetória. Muitos deles já não carregam mais a mesma aparência, e as novas gerações, muitas vezes, nem imaginam o que aconteceu nesses endereços que hoje se misturam ao ritmo moderno da cidade.
Em diferentes pontos do Centro e dos bairros, funcionaram espaços que se tornaram referência para gerações passadas. De antigos cinemas a clubes, passando bingos e até imóveis que sediaram acontecimentos de repercussão nacional, cada endereço traz um pedaço da identidade campo-grandense.
Boate Enigma - Em um galpão no fim da Rua 14 de Julho, por anos funcionou a mais antiga casa noturna com acompanhantes de Campo Grande, a Enigma. Fundada em 1992, a boate foi aberta pelo empresário Zica Oliveira, que morreu em 2021, aos 56 anos, por conta de complicações de um câncer de fígado. Mesmo após a morte, a empresa segue aberta sob o comando dos herdeiros de Zica.
O prédio era conhecido pela pintura completamente preta, com o nome Enigma e a ilustração de uma boca pintadas em vermelho. No local, onde funciona um box para crossfit.
Um dos responsáveis do local não quis conversar com a equipe do Lado B e revelou que até hoje, muita gente faz associações do prédio com a casa noturna, que atualmente funciona no Jardim Paulista.

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.