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Arquitetura

Com margaridas feitas a mão na fachada, casa é delicadeza na Rua dos Andradas

Thaís Pimenta | 30/06/2018 07:10
Família mudou de forma, mas continua tão bonita quanto a fachada da charmosa casa de dona Irma. Lucila,Lenir, Luci e Sirlene abraçam Irma. (Foto: Paulo Francis)
Família mudou de forma, mas continua tão bonita quanto a fachada da charmosa casa de dona Irma. Lucila,Lenir, Luci e Sirlene abraçam Irma. (Foto: Paulo Francis)

As margaridas que compõe a fachada da casa de dona Irma Rodrigues, de 85 anos, na Vila Duque de Caxias, já entregam, de cara, que ali mora alguém especial. Duas mulheres, mãe e filha, provam que a delicadeza das pétalas das flores esculpidas com cimento há 35 anos estão tanto na fachada, como no coração das moradoras. Mas a sensibilidade feminina não compete com a força dessas duas, que há cerca de um ano viram a vida virar de cabeça pra baixo com a saída do pai e marido de casa.

No gigantesco terreno, de 870m², três construções já foram lar para muita gente! A família de Irma, composta pela filha, Lenir Aguero dos Santos e pelo filho mais velho, Arnaldo Aguero, mora ali há 50 anos, mas a casa era bem diferente de como está hoje em dia. Foi só depois da grande reforma, feita por Anastácio Aguero, que o lar tomou a forma atual. 

Dona Irma abriu as portas para suas sobrinhas, que foram criadas debaixo do mesmo teto que seus filhos de sangue.  Lucila Ribeiro, de 53 anos, Luci Ribeiro, 53 anos, e Sirlene Ribeiro, de 50 anos, foram acolhidas pela família Aguero e, por gratidão ao amor recebido, até hoje voltam pra casa ajudar a madrinha a cuidar da limpeza da casona.

Casa de dona Irma fica na Rua dos Andradas, na Vila Duque de Caxias, na lateral do quartel. (Foto: Paulo Francis)
Casa de dona Irma fica na Rua dos Andradas, na Vila Duque de Caxias, na lateral do quartel. (Foto: Paulo Francis)

Na casa do lado esquerdo foi construído o salão de beleza de Lenir, que hoje trabalha junto de sua filha, Evelin. "Isso daqui antes era tudo cercado, era bem diferente no passado, sem contar o bairro. O batalhão, por exemplo, não tinha esse muro não, era aberto, só com cerca também".

Ainda resgatando as memórias de uma vida, quase inteira, morando no mesmo lugar, Lenir conta que nunca saiu do bairro. "Na Duque de Caxias a gente tinha o trilho de trem, e era muito emocionante vê-lo passar sempre no mesmo horário".

Mesmo quando a filha se mudou para uma casa sua, pra morar com sua família, Lenir tinha de ir ao terreno da mãe para atender suas clientes. A decisão de voltar a morar na casa onde foi criada foi tomada ano passado, quando a mãe se deparou com a solidão. 

"Nós tínhamos essa casa a parte, no fundo do terreno, e ela estava abandonada aqui. Não via porque deixar isso aqui assim, sendo que cabe eu e meu marido, e ainda ficamos junto da minha mãe", conta. Em julho faz um ano que estão todos morando juntos de novo.

A própria construção carrega estilo do passado. (Foto: Paulo Francis)
A própria construção carrega estilo do passado. (Foto: Paulo Francis)
Oito margaridas compõe o muro da fachada. (Foto: Paulo Francis)
Oito margaridas compõe o muro da fachada. (Foto: Paulo Francis)

A ideia das flores no muro da casa foi do próprio pai, que queria um prédio diferente dos outros. Seu Anastácio, civil da Base Aérea, fazia cada pétala com um molde de madeira, atravessava a rua pra conferir se tinha ficado perfeito, e seguia decorando. 

Dentro do salão, as obras de arte do paizão também decoram as paredes e o teto do espaço. "Aqui ele fez uma espécie de ave, que forma uma moldura no teto. No começo ele tinha pintado de azul escuro, pra combinar com a fachada, eu pedi pra ele tirar porque ficou parecendo uns urubuzinhos", brinca ela. Foram precisos dois anos para finalizar o cômodo.

Fachada do salão era diferente, tinha um detalhe de um rosto, em perfil, com os cabelos ao vento. (Foto: Paulo Francis)
Fachada do salão era diferente, tinha um detalhe de um rosto, em perfil, com os cabelos ao vento. (Foto: Paulo Francis)

O muro da casa já esteve com tom de salmão, depois passou para um rosinha claro, azul escuro, azul mais claro, e hoje está vermelho. 

Com uma parreira de uva, que está ali há pelo menos 50 anos, uma horta completinha, com salsinha, cebolinha, couve, coentro, rúcula e hortelã, plantada por Irma, um balanço, construído para os netos da família, transformam o que podia ser apenas o quintal de uma casa comum, no quintal com cara de casa de vó.

Sem riquezas e artigos caros, dona Irma leva a vida de dona de casa e de bisavó com a tranquilidade de quem tem sabedoria pra lidar com as adversidades da rotina.

Lenir é a filha de dona Irma, e morou ali desde seu nascimento. (Foto: Paulo Francis)
Lenir é a filha de dona Irma, e morou ali desde seu nascimento. (Foto: Paulo Francis)
Dona Irma e Lucila. (Foto: Paulo Francis)
Dona Irma e Lucila. (Foto: Paulo Francis)

Chocolate, um labrador ainda filhotinho, traz ainda mais alegria pra dentro da casa. As primas e afilhadas da Vila Duque de Caxias chegam sem avisar pra ajudar nos cuidados do lugar em que nasceram.

Com carinho, Lucila diz que Irma foi quem costurou a primeira calcinha de sua vida. "Minha festa de 15 anos aconteceu aqui dentro. Brincávamos juntas, éramos parceiras até na hora de avisar umas as outras que o Anastácio estava chegando enquanto a prima beijava na boca escondido", lembra.

Mudar do bairro? Jamais! "Aqui nós nascemos e aqui morreremos", finalizam todas elas, confirmando a calmaria que é morar na região.

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Detalhes emolduram o teto do salão da filha  Lenir. (Foto: Paulo Francis)
Detalhes emolduram o teto do salão da filha Lenir. (Foto: Paulo Francis)
Os detalhes foram feitos em cimento, e não em gesso. (Foto: Paulo Francis)
Os detalhes foram feitos em cimento, e não em gesso. (Foto: Paulo Francis)
Parreira de uva tem mais de 50 anos ali, e é fruto os cuidados da família. (Foto: Paulo Francis)
Parreira de uva tem mais de 50 anos ali, e é fruto os cuidados da família. (Foto: Paulo Francis)
Horta foi plantada inteirinha por dona Irma, com couve, hortelã, cebolinha, coentro, salsinha e rúcula (Foto: Paulo Francis)
Horta foi plantada inteirinha por dona Irma, com couve, hortelã, cebolinha, coentro, salsinha e rúcula (Foto: Paulo Francis)
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