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Artes

Em prédio feito de lembranças, ateliê educa o olhar e pergunta o que cada um faz pela cidade

Ângela Kempfer | 29/09/2011 13:30
Crianças desvendam labirinto gigante, desenhado na parede.
Crianças desvendam labirinto gigante, desenhado na parede.

Na parede 5X6 um grande labirinto com tinta azul tem 4 formiguinhas buscando a saída. É o começo de várias descobertas e alguns desafios impostos pela arte. Como o inseto que nunca desiste de fazer o caminho, as crianças são instigadas a pesquisar, pensar, ver além do óbvio, construir uma ideia e criar.

Inventos simples encantam quem aparece para aprender. Uma máquina feita com motor de ventilador e uma bacia produz circutos multicoloridos ao toque do lápis.

O curso de fotografia, para adultos, reúne até médicos, muitos com máquinas digitais que ainda não sabem explorar.

É o mundo do ateliê da artista plástica Ana Ruas, um prédio de 400 metros quadrados com um contorno de detalhes sugestivos espalhados pelas paredes e móveis, a maioria com valor sentimental para a “dona da casa”.

"Tento mostrar que nenhum artista produz sem pesquisa, sem ter informações. Para pintar aquele labirinto, por exemplo, pesquisei 70 tipos até chegar a ele. Foi um dia para fazer e meses de pesquisa", diz Ana.

Em outra sala ampla, o andaime estampado na parede de pé direito enorme - desenho quase imperceptível, é a lembrança proposital, deixada ali para não haver esquecimento sobre o processo de construção de um projeto que levou 2 anos para ser concebido e concluído.

O lugar merece uma reportagem à parte, sobre a delicadeza das informações milimetricamente dispostas pelas mesas e estantes e espaços pensados e repensados. "Nada foi por acaso, tudo isso foi muito estudado até o dia da inauguração, no aniversário de Campo Grande".

Mas o assunto agora é a contribuição. Na entrada também há a palavra "Perto", a alma do espaço. "Ouso afirmar que não estamos longe de lugar algum. Neste instante, perto para mim é o caminho, é o ponto de chegada, basta saber para onde quero ir", diz o material de divulgação do ateliê.

A ideia é educar o olhar, passar os dias exercitando a arte com crianças e adultos e, principalmente, movimentar e ampliar o circuito cultural de Campo grande. "Educar o olhar é também ensinar a dissernir entre o que é certo e errado, sair da zona de conforto, provocar a atitude", avalia Ana, que também é arte educadora.

O recado também está na parede: O que faz de um lugar o nosso lugar? Que lugar no mundo Campo Grande ocupa e o que cada um faz para merecer esta cidade?

Ana e a máquina de arte feita com motor de ventilador e bacia.
Ana e a máquina de arte feita com motor de ventilador e bacia.

A primeira resposta de Ana Ruas à última pergunta veio há 16 anos e ainda hoje estão em viadutos de Campo Grande e espaços em 58 bairros da cidade, envolvidos em projetos que a artista desenvolveu com adolescentes da periferia para “plantar a sementinha” da critica e valorização, além de fazer arte contemporânea.

“Um dia, o prefeito (André Puccinelli) ganhou latas de tinta de uma empresa e ligou para mim. Perguntou se eu pintava viadutos. Respondi que sim, desliguei o telefone e fui pesquisar e em dias entreguei tudo pronto”.

A determinação da artista já é conhecida, por inúmeros projetos viabilizados com leis de incentivo à cultura.

Quadros da série "Redes" estão por todos os cantos, o resultado de um mês de visitas diárias a um vendedor, em uma esquina da avenida Afonso Pena.

"Todos os dias tirava fotos para estudar a disposição das redes e as cores". O trabalho foi também para o muro do quintal, que se confunde com o redário voltado para a varanda, criada também para ser palco de apresentações artísticas no futuro.

No ateliê, ela ocupa os espaços com a graça da sensibilidade para aulas de artes plásticas e fotografia.

Redes suspensas e no muro, prontas para o público de espetáculos que estão por vir.
Redes suspensas e no muro, prontas para o público de espetáculos que estão por vir.

Águas cristalinas - A carteira escolar em um dos acessos à varanda foi doada em São Paulo, é da década de 50. Sacolas de feira coloridas quebram o branco que domina o prédio. As cadeiras velhas receberam um trançado de tecido, feito pela própria Ana.

Na estante, um caixa com “toquinhos de lápis” são a lembrança deixada pelos dois filhos, de 5 e 8 anos. Logo acima, o desenho de uma família inteira de sereias, todo amassado.

“Minha filha amassou na minha frente e eu fiquei sem ação. Depois, ela abriu o papel e explicou: ‘É para você ver as águas cristalinas’. Dá para acreditar”, conta Ana, ainda atônita com a criatividade da filha.

A artista parece encantada em um mês de contato com as crianças que frequentam o ateliê, meninos de meninas a partir de 6 anos. As atividades são pagas, 15 reais por criança em caso de grupo escolar e 30 reais individualmente. São 2 horas de atividades. "Eles não param um minuto", detalha.

A aula vale para a vida toda, vai além da arte que se ensina na escola.

“Um dia, um dos meninos estava com muita dificuldade de fazer um labirinto, já estava quase chorando. Disse que ele ia conseguir e quando ele terminou eu virei para ele e falei: Sabe do que eu mais gostei nesse trabalho? Foi o fato de você não desistir”. lembra.

Para quem quer - Amanhã, dia 30, o ateliê faz o primeiro Café Filosófico desde a inauguração. O tema é "Tempo", com o físico Alfredo Salvetti e o sociólogo Paulo Cabral. A conversa começa às 18h30. Informações pelo telefone 3026 10 78, o mesmo para agendamento de oficinas.

Alunos em dia de oficina no ateliê de Ana Ruas.
Alunos em dia de oficina no ateliê de Ana Ruas.
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