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Comportamento

Afinal de contas, o fato de não dar certo com ninguém é culpa do seu dedo podre?

Paula Maciulevicius | 10/01/2017 06:20
Dentro da série "como ser uma pessoa melhor em 2017", o Lado B foi procurar compreender o que é ter "dedo podre".
Dentro da série "como ser uma pessoa melhor em 2017", o Lado B foi procurar compreender o que é ter "dedo podre".

Não existe um termo específico que traduza na Psicologia o que popularmente acusamos como "dedo podre", mas o que se pode entender, a partir do sentido da expressão é que quem tem, no geral, está mal acompanhada. Dentro da série "como ser uma pessoa melhor em 2017", o Lado B foi procurar compreender o que é ter "dedo podre" e como trabalharmos em nós o caminho para escolhas melhores. 

Psicólogo clínico, Ricardo Teiji Paula Takaki, é quem responde às dúvidas. E para ampliar a questão, "dedo podre" também vale para amizade. Embora se fale mais para relacionamentos como no namoro, é normal se aplicar ao círculo de amigos, pois se refere principalmente às pessoas que estão em companhia de alguém desagradável e que permanecem nessa relação com a esperança de que o outro mude.

O que nos faz escolher embarcar em relacionamentos que tendem ao fracasso? Ricardo explica que um dos principais motivos é o fato da pessoa com o "dedo podre", estar em companhia de alguém para não ficar só. "Esses relacionamentos tendem ao fracasso quanto mais baixa for a autoestima, a autoconfiança e, menor for a coragem de romper com estes relacionamentos", descreve.

No geral, atribuímos ter dedo podre a nós mesmos ou a amigos que não dão certo com ninguém, porque sempre vivenciamos relacionamentos parecidos. "Mesmo que termine um, logo surge outro com características semelhantes. Estão sempre em busca da "pessoa certa". E nesse ciclo, além de ser uma autoagressão por manter-se em uma situação desagradável, pode também, chegar a casos mais graves, como aqueles relacionamentos nos quais ocorre a violência", alerta o psicólogo.

Nossas escolhas falam muito sobre nós e como lidamos com sentimentos e na abordagem de Ricardo enquanto psicólogo, o especialista explica que enxerga os relacionamentos pelo ponto de vista existencial e que toda relação vem como oportunidade de nos lapidar. 

"É uma questão de escolha, mas tudo indica que há conteúdos ainda mais profundos, que variam a cada caso, seja pela distorção da percepção a respeito do outro, como quando a pessoa alimenta expectativas e quando descobre que na realidade é diferente, continua a alimentar expectativas de mudança, ou seja também questões ligadas a autoestima, aos modelos de relacionamento, cada pessoa é uma constelação, e cada caso deve ser visto em suas particularidades", ressalta. 

Para quem está de fora, fica mais evidente que o outro tem dedo podre, mas Ricardo resume que a descoberta só acontece no indivíduo quando ele se questiona o motivo de sempre ter os mesmos tipos de amizade e relacionamentos.

Quando falamos de relacionamentos, a melhor opção para trabalhar a questão do "dedo podre" é a busca pelo autoconhecimento e uma das formas de exercitar isso com segurança é buscar pela psicoterapia.

"Na terapia o tempo do cliente é respeitado, seus conteúdos são visitados, trabalha-se a autopercepção para encontrar os aspectos saudáveis da personalidade, confirmando-as para que ocorra a melhora da autoestima, a força para romper com os ciclos viciosos e realmente tomar atitudes para a mudança", exemplifica. 

Quando casos assim chegam no consultório de Ricardo, a primeira coisa que o terapeuta procura fazer é compreender qual é a verdadeira necessidade da pessoa e o que ela ganha com o relacionamento. "Na medida em que isso vai se tornando mais claro para mim, também se clarifica para o cliente. Esse é um processo que envolve o autoconhecimento", frisa. 

Para trabalhar essa questão, Ricardo pontua que é preciso pensar: 

- O que realmente busco em um relacionamento? Quais são minhas necessidades?

"A resposta para essa pergunta é fundamental, pois o outro não pode ser nosso único meio de satisfazer as necessidades interiores, não somos obrigados a atender a necessidade de ninguém, e ninguém é obrigado a nos atender, ou seja, podemos ser uma laranja inteira em busca de outra laranja inteira, e não metade em busca de outra". 

- Antes de engrenar em outro relacionamento, é importante descobrir: "quais são as minhas qualidades"?

"Isso fortalece a autoestima e ajuda a romper com a ideia de que pessoas são fadadas a viverem o que vivem. Precisamos estimular o pensamento de que todos são livres para vivenciar relacionamentos mais saudáveis". 

- Se questionar, por qual motivo vivencio sempre este tipo de relação?

"Essa pergunta nos leva a entender, que há sempre um aprendizado em cada relacionamento e quando ele se repete, precisamos ficar mais atentos ao que ocorre em nosso interior, que modelos tivemos e que estamos repetindo? E qual é a nossa decisão diante disso. Em muitos casos, buscar ajuda profissional irá contribuir muito para solucionar a questão". 

- Aprender a lidar com o fato de estar só.

"É preciso saber que existe uma grande diferença entre solidão e solitude. A primeira pode envolver tristeza e o desenvolvimento de mais problemas emocionais. E a solitude é algo bom de se vivenciar, é a capacidade de estar só consigo mesmo e gostar da própria companhia, é poder vivenciar momentos sozinho e desfrutar disso". 

Para finalizar, o psicólogo destaca que relacionamentos sempre trazem conflitos, por melhor que sejam. "Pois cada um de nós tece a teia da própria existência e o que vivenciamos é único para o nosso olhar. Sempre haverá diferenças com os outros. O que não podemos insistir é em vivenciar situações problemáticas que nos causem mal e tirem da vida o brilho que ela de fato tem", resume.

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