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Comportamento

Aos 58 anos e aposentado, Dércio se entregou a um de seus sonhos: o da tatuagem

Os desenhos representam a nova fase que começou com a aposentadoria

Thaís Pimenta | 22/03/2018 07:08
Os cabelos brancos, os braços fechados representam muito mais do que a aparenta: Dércio inaugurou uma nova fase de vida. (Foto: Roberto Higa)
Os cabelos brancos, os braços fechados representam muito mais do que a aparenta: Dércio inaugurou uma nova fase de vida. (Foto: Roberto Higa)

O aposentado Dércio Gonçalves da Silva, de 58 anos, esperou cerca de 37 anos para realizar o sonho de ter o corpo repleto de arte. Na adolescência, ele "ensaiou" com a primeira tatuagem, mas vieram as exigências do mercado de trabalho e teve de parar. “Fiz minha primeira tatuagem quando tinha 16 anos, ela é bem discreta, é um por-do-sol na parte da coxa. Depois de me aposentar fui atrás de continuar com isso", explica ele.

Só em 2013 ganhou a segunda tatuagem, um crânio com as hélices da radiação, uma representação da profissão: técnico em radiologia. No peito esquerdo, ao lado do crânio, Dércio tatuou um castelo, que representa o tempo medieval, do qual é admirador assumido. 

Em 90 dias, no ano de 2017, o aposentado fechou os dois braços com os desenhos, um tempo quase recorde. Apaixonado pelo trabalho do tatuador Eduardo Ruiz, mais conhecido por Saravá, decidiu que era com ele que deveria finalizar todos os desenhos. "Conheci o Sara, como lhe chamo, pelas minhas filhas. Elas me indicaram ele, dizendo que era confiável. Hoje ouso dizer que temos uma relação quase que de pai e filho mesmo, porque é muito tempo convivendo junto".

Muito sensato e calmo em relação a sua escolha, ele explica que as tatuagens representam o começo de uma nova fase na vida. Por isso Dércio não se arrepende de ter demorado tanto tempo. "Eu gosto de elaborar um plano para tudo que faço. A tatuagem já estava incluída nessa parte da minha vida. Comecei a trabalhar, fiz isso por mais de  30 anos, e agora essa fase se encerrou. As artes inauguram a minha liberdade pessoal".

Trabalho finalizado no estúdio de tatuagem. (Foto: Roberto Higa)
Trabalho finalizado no estúdio de tatuagem. (Foto: Roberto Higa)

Por acaso, essa entrevista também foi feita enquanto Dércio tatuava a frente de sua coxa com um desenho da "namakubi" de um samurai, uma cabeça decepada do guerreiro.  "Essa pra mim simboliza a passagem, a morte. Para os samurais, se eles estivessem sem suas cabeças antes de morrer, eles não sentiam a dor da morte. Isso representa muito como eu vejo o fim da vida", explica.

Sem titubear em momento algum, seja por dor ou por incomodo, Dércio prova que gosta mesmo do barulhinho da máquina da tatuagem. Quando o trabalho de Eduardo Ruiz estram na fase final, os olhos do aposentado já começam a brilhavar."É nesse momento aqui, que dá pra ver como vai ficar, que passa a valer ainda mais a pena".

Saravá brinca dizendo que, se fosse por Dércio, as sessões demorariam horas e horas, tudo pra que ele conseguisse sair do estúdio com o desenho finalizado. "E mesmo assim, o tempo que ele espera para a segunda sessão é mínimo. O normal seria dar um intervalo de pelo menos 15 dias, mas ele não: em três dias já está aqui de novo", brinca o tatuador.

Dércio pretende completar seu álbum de figurinhas no estilo japonês. "Meu sonho é fechar as costas e o bumbum com um dragão bem grande", completa. O próximo passo é fechar as duas pernas em artes orientais.

E no meio de tanto rabisco, será que dá pra ter um preferido? Dá sim! "Eu gosto muito do meu rosário no braço porque representa a fé, a família, e um homem não é nada sem isso".

A entrevista foi feita enquanto Dércio era tatuado. (Foto: Roberto Higa)
A entrevista foi feita enquanto Dércio era tatuado. (Foto: Roberto Higa)

A água é um elemento muito presente nos desenhos em seus braços. "Eu gosto muito de estar na natureza, de pescar, e quero me mudar pra um lugar que tenha mar, mato e finalmente poder viver assim, mesmo que no fim da vida. Talvez aliar com um trabalho na praia, é um sonho que pretendo realizar nos próximos anos".

Todos as artes estampadas em seu corpo carregam um sentido único para Dércio. "Pra você estar aqui tem que gostar. Não pode ser só por modismo. A exclusividade das tatuagens, saber que um desenho que tenho no meu corpo é único, no qual eu e o Sara pensamos juntos, mesmo que outras pessoas tenham o mesmo símbolo tatuado, é muito especial. Eu reforço e tenho pra mim que isso aqui é arte corporal".

As três filhas também gostam de modificação corporal. Inclusive, a mais nova, tem o nome do pai, sua assinatura, cravada na pele. "Quero um dia conseguir representá-las de alguma maneira no meu corpo, mas não quero que elas pensem que eu precisei delas para fechar uma região, por isso tem que ser um desenho muito particular", finaliza.

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Para Dércio, a tatuagem é uma arte corporal e quer se tornar um quadro ambulante. (Foto: Roberto Higa)
Para Dércio, a tatuagem é uma arte corporal e quer se tornar um quadro ambulante. (Foto: Roberto Higa)
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