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Comportamento

Bispo lava pés de morador de rua: ritual de humildade em tempos sem compaixão

Rituais ganham significado mais forte em tempos onde é cada vez mais difícil perdoar

Thailla Torres | 19/04/2019 07:45
Dom Dimas celebrou Missa Lava Pés em comunidade que atende moradores de rua. (Foto: Kísie Ainoã)
Dom Dimas celebrou Missa Lava Pés em comunidade que atende moradores de rua. (Foto: Kísie Ainoã)

Em tempos onde é tão difícil perdoar o mundo, principalmente com a assustadora onda de intolerância e individualismo presentes na vida e nas redes sociais, alguns rituais ganham significado mais forte. Na noite de ontem (18), o arcebispo Dom Dimas Lara Barbosa celebrou a Missa Lava-Pés ao lado de moradores de rua, abrindo as celebrações pascais e revelando “segredos” para a perturbadora missão de perdoar até quem já nos feriu.

A celebração marca o início do Tríduo Pascal, que termina no Domingo de Páscoa. Os católicos relembram a Santa Ceia, onde Jesus lavou os pés dos 12 discípulos, em sinal de humildade, e instituiu a Eucaristia – o corpo e o sangue de Cristo.

Ritual ganha força em tempos sem compaixão. (Foto: Kísie Ainoã)
Ritual ganha força em tempos sem compaixão. (Foto: Kísie Ainoã)
E ensina sobre humildade e perdão. (Foto: Kísie Ainoã)
E ensina sobre humildade e perdão. (Foto: Kísie Ainoã)

Na capela pequena da Casa de Apoio aos Moradores de Rua São Francisco de Assis, localizada no bairro Estrela do Sul, nem o calor desanimou cerca de 40 pessoas, entre voluntários e moradores, a vivenciar o significado da data.

Para o arcebispo o lugar escolhido tem peso para a comunidade e a missão de falar sobre humildade. “De fato, nós vivemos um tempo de intolerância, radicalismos, não só na política como na religião e vida social. As pessoas não gostam muito de se misturar. E eu tenho procurado celebrar a missa nos últimos anos justamente em situações onde há marca do sofrimento e também da rejeição por parte da sociedade”, explicou Dom Dimas.

Durante celebração ele ensina sobre a Missa de Lava Pés e faz ligação com o perdão pelo fato de Jesus ter lavado os pés de Pedro que o negaria e Judas que o trairia. “Mesmo assim eles não ficaram de fora deste carinho e com isso veio o grande mandamento do amor ‘Amai-vos uns aos outros como eu vos amei’”, explicou.

A mensagem soa como alento no coração de quem convive diariamente com a rejeição e busca perdoar a si mesmo para recomeçar. O voluntário André Lorandi, de 28 anos, destaca porque é difícil perdoar. “Sinto que é uma questão de orgulho”, afirma. Mas acredita que a fé e o amor são capazes de florescer o perdão. “Eu busco muito isso. Me apego a Deus e ao amor para conseguir olhar o outro e perdoá-lo sem que fique mágoas no coração”.

Eliermes fala sobre a dificuldade do perdão. (Foto: Kísie Ainoã)
Eliermes fala sobre a dificuldade do perdão. (Foto: Kísie Ainoã)
Seu Antenor se preocupa com os mais jovens. (Foto: Kísie Ainoã)
Seu Antenor se preocupa com os mais jovens. (Foto: Kísie Ainoã)

Seu Antenor Martins de Oliveira, de 67 anos, faz o mesmo, embora o mundo insista mostrar o lado mais sombrio do ser humano. “A sociedade parece que nos condiciona ao desprezo e tem sido cada vez mais difícil perdoar, especialmente, para os mais jovens”, se preocupa.

Eliermes Felix dos Santos, de 57 anos, mora na casa para um tratamento e convive diariamente com a missão de perdoar. “Aqui tem pessoas com personalidades muito diferentes, isso deixa tudo mais difícil, mas a gente tem buscado aprender a perdoar”.

Há segredo para o perdão? Dom Dimas revela que sim, embora seja difícil e doloroso colocar no coração aqueles que ferem no dia a dia. “Há um livro que eu gosto muito chamado Oração da Amorização, em que ele ensina algumas dinâmicas de começar um diálogo, sozinho, lembrando as fichas sujas e procurando olhar nos olhos da pessoa ainda que seja só na imaginação para pedir e dar o perdão. Esse exercício no começo é difícil porque a gente só vai achar ficha suja, mas é o melhor remédio para que não haja mágoas no coração, afinal, elas podem machucar e levar ao sofrimento”.

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