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Comportamento

Com tanta facilidade hoje, você ainda lembra como sobrevivia sem o Google?

Thailla Torres | 31/07/2016 07:05
Ter uma enciclopédia em casa custava caro, mas era importante para a educação dos filhos. (Foto: Alcides Neto)
Ter uma enciclopédia em casa custava caro, mas era importante para a educação dos filhos. (Foto: Alcides Neto)

Quem tem mais de 30 anos sabe bem que a forma como buscamos conhecimento e informações se transformou radicalmente. Tudo veio com tanta velocidade que fica até complicado lembrar como era antes do surgimento do Google, por exemplo, em 1998. Por curiosidade, propomos um exercício de memória, para descobrir como as pessoas se viravam quando pesquisar algo dependia de muito mais do que alguns cliques no teclado.

Encontrar contato de alguém antes da ferramente só era possível em listas telefônicas que chegavam às residências. Tinha de folhear, ir até a letra certa e enfim correr com os olhos para achar o telefone desejado.

Conteúdo de história ou geografia, só naquelas enciclopédias enormes, na coleção Barsa, que era vendida de porta em porta e custava uma fortuna. Hoje, 22 volumes da edição de 1999 custam R$ 250,00 em sites de produtos usados, mas naquele tempo...tinha de pagar em eternas prestações.

Com o  Google, as enciclopédias sumiram da sala e os frequentadores da biblioteca também. (Foto: Alcides Neto)
Com o Google, as enciclopédias sumiram da sala e os frequentadores da biblioteca também. (Foto: Alcides Neto)

O professor Marco Aurélio Gondim, de 46 anos, define o novo tempo como um banho de liberdade. E lembra com detalhes de como era difícil quando as enciclopédias faziam parte da vida dos estudantes. “A gente não tinha noção do que viria no futuro. Eu lembro que naquela época o conhecimento dependia também do poder aquisitivo. Comprar enciclopédias como a Barsa e Mirador, era um investimento alto”, lembra.

Mas como na família de Marco, conhecimento e estudo eram primordiais, o pai sempre investiu. “O grande investimento de um pai era ter uma enciclopédia e o meu priorizava os livros. Quando a gente ia fazer um trabalho de escola, se cada um tinha uma enciclopédia diferente, a gente amarrava uma na outra para ter mais uma fonte”, conta.

Ele reforça que não era tão fácil, era preciso paciência e foco para as horas de leitura. “Não tínhamos tantas fontes dentro de um trabalho, havia poucas contestações. Quem não tinha uma enciclopédia dependia dos livros que havia em casa e os dados demoravam a ser atualizados”, comenta.

Além das enciclopédias, dicionários e clássicos eram principal fonte de conhecimento. (Foto: Alcides Neto)
Além das enciclopédias, dicionários e clássicos eram principal fonte de conhecimento. (Foto: Alcides Neto)

Mesmo com as lembranças, é claro que ninguém se queixa do excesso de informações que hoje existe. "Muita gente tem essa dificuldade de entender a rapidez de informação. Mas para quem é professor e viveu em um mundo sem internet, hoje é um paraíso. É como um banho de liberdade", declara. 

Ildelfonso da Silva Neto, de 74 anos, proprietário de um Sebo em Campo Grande, lembra que nas prateleiras das livrarias as enciclopédias foram extintas. "A gente nem recebe mais, ninguém compra, se alguém vem para doar a gente não recebe. Sei que algumas são doadas nas bibliotecas públicas", comenta. 

Para o comerciante, o surgimento de um ferramente de pesquisa só trouxe benefícios, no entanto critica a forma como isso é utilizado, já que é muita informação para pouco interesse de se aprofundar em conhecimento. "Sou do tempo que era preciso devorar os livros, eram horas estudando e lendo para concluir um trabalho. As pessoas sabiam escrever, tinham um português correto e hoje com uma ferramenta fácil como essa, ainda assim o Brasil está 30 anos atrasado", pontua.

Ele morou fora do País e avalia que, mesmo com os livros, em todos os casos poderia ser o Google uma excelente fonte de conhecimento se as pessoas utilizassem de maneira correta. "Aqui é o oposto, não sabem usar a internet. É preciso ensinar a usar, a pesquisar, é uma forma de aprender muito mais. Em um Brasil onde mais de 500 mil conseguem  tirar nota zero em redação, significa que não estão lendo nem pacote de papel higiênico", avalia. 

Eleuzina usa o Google, mas não abre mão de folhear os livros. (Foto: Alcides Neto)
Eleuzina usa o Google, mas não abre mão de folhear os livros. (Foto: Alcides Neto)
Marcos é um dos poucos que aproveita a hora do almoço para ler na biblioteca. (Foto: Alcides Neto)
Marcos é um dos poucos que aproveita a hora do almoço para ler na biblioteca. (Foto: Alcides Neto)

Com a rapidez de informação que é possível ser acessada de qualquer lugar, as enciclopédias sumiram das estantes levando junto frequentadores das bibliotecas. São poucos que vão na contramão da tecnologia e tiram horas do dia para pesquisar nos livros.

Na Biblioteca Pública Isaías Paim, da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, são raros os frequentadores. Tanto, que além dos livros, 10 computadores ficam disponíveis para que não falte informação.

Eleuzina Crizanto de Lima, de 41 anos, trabalha há 29 anos como bibliotecária e acompanhou de perto a desistência do público, mas lembra com apreço do tempo antigo de ir em busca de alguma fonte oficial.

"Era toda uma dedicação, tinha que abrir o livro, olhar o índice, ler uma, duas, uma infinidade de páginas para achar a informação que a gente queria. E se preocupar em colocar exatamente no lugar de onde vinha a fonte", descreve. 

Para ela, hoje ninguém fica sem pesquisar qualquer assunto na internet, mesmo assim, não abre mão de folhear os livros. "A gente tem um acervo grande, por mais que o Google dê todas as respostas, tem livros que não tem na íntegra na internet. Por isso tem muito doutor, estudante e advogado que vem aqui para ler e estudar", conta. 

O público é seleto e, aos poucos, a biblioteca vai dando espaço para quem não tem interesse em pesquisa, mas busca a calma.

O promotor de vendas, Marcos Roberto, 41, lê jornal, tira dúvidas e pesquisa tudo no navegador. "Eu venho aqui na hora do almoço só para ler, comprei um livro, mas em casa a gente não tem silêncio, então o jeito é vir na biblioteca", resume.

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Assim como a Barsa sumiu, poucos frequentam a biblioteca. (Foto: Alcides Neto)
Assim como a Barsa sumiu, poucos frequentam a biblioteca. (Foto: Alcides Neto)
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