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Comportamento

Já de cabeça branca, há anos vizinhos são concorrência de costura

Aline Araújo | 17/12/2014 07:23
Vizinhos de costura. (Foto: Alcides Neto)
Vizinhos de costura. (Foto: Alcides Neto)

O retrato é cotidiano e curioso. As portas são iguais, só muda a cor dos toldos, um é amarelo e outro vermelho. Nos salões comerciais, do mesmo tamanho, estão dois costureiros já de cabeça branca. As máquinas de costura estão do mesmo lado, como se eles tivessem combinado. Uma imagem de vizinhos que se repete há mais de 13 anos na rua Rui Barbosa, quase na esquina com a Maracaju.

Do lado esquerdo trabalha Maria Edir, de 58 anos, costureira desde os 14, "por vocação" e desde os 26 por profissão. Do lado direito está o alfaiate Oripes Magalhães de 75 anos, que costura calças desde os 17 anos. Quando casou, aos 20, aprendeu a fazer o paletó para completar o terno, e se especializou.

Oripes é brincalhão e carrega um sorriso largo no rosto. (Foto: Alcides Neto)
Oripes é brincalhão e carrega um sorriso largo no rosto. (Foto: Alcides Neto)

Edir chegou ali primeiro, em 1992. Na época, decidiu abir o negócio com outra costureira e as duas também ocupavam o salão que hoje é do seu Oripes. “Nós fomos pioneiras aqui”, comenta a belavistense que adotou Campo Grande em 1974.

Mas a parceira entre as duas não deu muito certo. “Não sei o que aconteceu, mas ela começou a me detestar! Porque eu pegava mais trabalho que ela. Acho que tinha inveja. Primeiro ela colocou a máquina dela na frente e a minha no fundo. Eu nem liguei porque as pessoas chegavam e iam até mim”, lembra.

O desfecho da sociedade tem um tom engraçado. O dono do imóvel convenceu dona Edir a alugar o salão ao lado, para sair daquela situação incomoda. “Ele perguntou como eu aguentava trabalhar com ela e me ofereceu o outro salão”. A sociedade então virou concorrência.

Foi quando a ex-sócia saiu dali que seu Oripes alugou o salão e deu início a um tempo de flores entre os vizinhos. Acabou qualquer rivalidade, e começou uma amizade. “A gente se deu muito bem. E é bom ter concorrência porque também tem muito trabalho”, comenta ela. O alfaiate reforça: “Nós somos que nem irmãos, nos damos muito bem”.

Edir sempre concentrada na hora de trabalhar.  (Foto: Alcides Neto)
Edir sempre concentrada na hora de trabalhar. (Foto: Alcides Neto)
Ele começou na costura aos 17 anos. (Foto: Alcides Neto)
Ele começou na costura aos 17 anos. (Foto: Alcides Neto)

Os perfis são bem diferentes. Enquanto a costureira é mais tímida e séria, o alfaiate é extrovertido e brincalhão, mas os dois têm em comum o sorriso largo por serem apaixonados pela agulha e a tesoura.

Ele carrega o orgulho de ter sustentado a família e ter visto as três filhas casarem com o dinheiro que ganha ali. “Eu gosto do meu trabalho, porque é uma arte. Você tem que desenhar, planejar para ter um bom resultado como esse”, ensina, apontando para um terno feito por ele.

Aos 17 anos. ele só costurava calças. Aos 20, ampliou o negócio com o conjunto masculino completo. Ficou viúvo e há 13 anos encontrou uma nova companheira. Na loja, atende também quem procura fazer roupas femininas, além de fazer pequenos reparos. “ A gente faz tudo, faz até chover se precisar”, brinca.

O corte no dedo faz parte da profissão, e ela tira de letra. (Foto: Alcides Neto)
O corte no dedo faz parte da profissão, e ela tira de letra. (Foto: Alcides Neto)

Já Edir tem a alegria de ver um novo sonho começando a se realizar, 2015 será ano de loja nova, com confecções criadas por ela. “Quero parar um pouco de fazer consertos e montar a minha confecção, com peças criadas por mim. É o que eu mais gosto de fazer”, diz.

E os planos estão caminhando bem. "Até vi outro salão na Maracaju para costurar, aqui quero deixar a loja. Fazer umas blusinhas e vender por um preço em conta”, revela.

Agora, quando passar por ali e ver os vizinho de costura, vai reparar o quanto o retrato de uma amizade é bonito e como a vida fica mais fácil quando se trabalha com o que gosta.

As lojas abrem cedo, de segunda a sexta. Ela chega às 6h e trabalha de acordo com o serviço, até lá pelas 20h. O vizinho abre às 8h e fecha às 18h. E se precisar, pode ir lá, que os dois com certeza terão um sorriso para recepcionar o novo cliente.

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